quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Valentes e Corajosos Homens do Mar - Segunda Parte

Na parte anterior você viu o perfil de Charles Grahann, a forma e os motivos através dos quais o fizeram se transformar no temível pirata capitão Moribundo. Agora verá sua trajetória de “bucaneiro” determinado em arquitetar o seu plano de se aproximar dos seus devedores e vinga-los sem piedade.

Após o saque ao Galeão Constelación, quem via Tigre Veloz singrando o mar calmamente amparado pela bandeira portuguesa, imaginaria de imediato tratar-se de ricas personalidades em viagem rumo a algum lugar majestoso, quem sabe até à corte brasileira.

Todos vestidos a caráter para não deixar qualquer dúvida e, também, para se protegerem de eventuais navios de combate a serviço da coroa inglesa ou francesa, cujos interesses particulares eram contrários à pirataria no Atlântico.

Para essas ocasiões de esplendor e garbo, se destacava à frente no comando, Charles Grahann elegantemente vestido com sua túnica branca, com os lindos botões dourados e o seu belo boné de capitão, desenhado com lustrosos detalhes também em dourado, navegando no hemisfério sul, logo abaixo a linha do equador.

Era tardinha quando o vigilante do alto do seu observatório avistou ao longe outro navio de aparência suspeita dirigindo-se em sua direção. Imediatamente, Charles Grahann deu suas ordens de manterem-se calmos como inofensivos passageiros. Também orientou os canhoneiros para se posicionarem e no momento oportuno tornarem visíveis as escotilhas e abrirem fogo sem chances de revide.

Quando o navio inimigo se posicionou a estibordo da nau comandada pelo astuto bucaneiro Charles Grahann, o qual naquela época, já ostentava larga experiência em combates. Ao se certificarem tratar-se de outra embarcação pirata, confiante de presa fácil, surpreendeu-os com uma saraivada de tiros efetuados por 14 infalíveis canhões. Sem hesitar Tigre Veloz de indefeso veleiro, se transformou num cruel dragão raivoso cuspindo o fogo da desgraça em direção à embarcação aventureira.

Antes de ir a pique, os desavisados sobreviventes inimigos ainda tiveram tempo suficiente para se atirarem ao mar, deixando a embarcação disponível para que os homens do capitão Moribundo recolhessem suas armas e munições, as quais viriam servir para abastecer e ampliar o seu arsenal de guerra.

A intenção não era deixar sobreviventes, mas valia o direito do salve-se quem puder. Sempre que ocorria um embate com resultados favoráveis e sem baixas, capitão Moribundo vestido como o elegante Charles Grahann e aprendiz de astrônomo cercado das inevitáveis superstições, acreditava que no momento das abordagens os astros estavam alinhados a seu favor. Também como curioso vigilante interessado em astronomia, gostava de se orientar pelas estrelas nas suas navegações noturnas, ocasião na qual ficava horas contemplando o espaço com um pequeno telescópio a bordo.

Novamente Tigre Veloz seguiu seu rumo mar adentro, saboreando o ar do verão e a sensação de liberdade. Confiante de que não teria nenhum transtorno pela frente, aproximou-se da costa caribenha, serenando nas águas rasas, mornas e azuladas do Mar das Antilhas.

Baixaram as velas mantendo-se suavemente à deriva, atentos ao posicionamento da bússola e das cartas náuticas. A intenção era aportar na Ilha de New Providence, de onde ouvira contar várias histórias de piratas e suas notáveis aventuras de saques milionários em riquezas provindas do continente. Antes de ancorar especificou detalhadamente como seu pessoal deveria se comportar, enquanto ele, e uns poucos permaneceriam a bordo.

Para aqueles que iram aportar em terra firma, Charles Grahann transmitiu-lhes as seguintes ordens:

– Quando chegarmos à ilha procurem andar em grupos menores;

– Comportem-se como pessoas ricas com destino ao Brasil na intenção de adquirir terras. Levem bastante moedas de ouro;

– Conversem pouco e ouçam mais. Deixam transparecer que suas passagens pela ilha ocorreram devido a erro nos cálculos de navegação, e que logo pretendiam retomar a viagem com o destino certo. Dessa forma atrairão a atenção dos faras-da-lei, e assim, chegaremos aos seus chefes, ou comandante. – Esclareceu Grahann.

A partir dos esclarecimentos apontados, deixou por conta de cada um. Não haveria de dar errado, eram homens experientes e sabiam se comportar como tal.

Não demorou muito o plano começou a surtir efeito, quando um dos grupos conseguiu fazer prisioneiros quatro elementos mal-intencionados que haviam tentado roubar-lhes.

Como não estavam lidando com amadores, foram facilmente dominados, sendo logo levados à presença do capitão que já os aguardavam em lugar seguro, fora do navio.

Forçados a falar contaram tudo o que queriam saber, e foram logo liberados confiantes de que imediatamente o seu comandante tomaria conhecimento sobre os fatos. E, com isto seria fácil ser capturado. O plano não era matá-lo, mas sim, se informar das forças repressoras existentes naquelas áreas e, também, quem dominava aquelas águas e ilhas para eles até então desconhecidas.

Através do astucioso plano, Charles Grahann, foi informado que Henry Morgan antigo corsário inglês, havia enveredado para o mundo dos infratores, com um diferencial: tornara-se importante pirata na região, após o seu ataque à cidade do Panamá em 1670, e posteriormente ter se transformado em vice-governador de Port Royal na Jamaica, além de rico dono de plantações de canas-de-açúcar.

Sem tomar conhecimento da importância do seu rival naquelas águas, soubera impor suas condições de audaciosos e temidos homens do mar. Entretanto, após cinco anos de inesquecíveis aventuras e se tornado rico juntamente com seus marinheiros e elegantes marginais, resolveu retornar à Europa.

Antes da partida fez uma cuidadosa reforma no Tigre Veloz, ampliando suas condições de acomodações e outros requintes internos, com a finalidade de tornar-se útil tanto quanto navio de combate e pirataria, como de uma luxuosa embarcação de cruzeiro.

Transformando-se num perigoso camaleão de luxo e de ataques precisos. Em sua primeira parada no litoral em território europeu, fez questão de instalar no seu camarote, importantes e modernos instrumentos de comando marítimo, só possíveis para quem possuía muito dinheiro, detalhe que para ele não fazia mais a diferença. O seu objetivo estava traçado e pensado, retornar à sua terra de natal e realizar as reparações que pesavam sobre si e seus companheiros.

Além de muito rico, sua imagem estava totalmente renovada. Os resquícios que ainda poderiam existir dos tempos em que era comandante pirata na área, haviam ficado para trás e o que importava daquele momento pra frente, seria concretizar sua vingança provando a inocência de todos eles.

Esclarecer as acusações de que foram vítimas pela armação engendrada com intenções maldosas de torná-los bodes expiatórios pelas pilhagens praticadas por ricas autoridades inglesas, dentre as quais George Lemmon, importante figura na Administração Comercial do Rei, principal beneficiado e inescrupuloso arquiteto do seu infortúnio e dos seus leais companheiros.

Nesse período em que esteve longe dos acontecimentos em torno do reino inglês e, também, dos ataques e saques impetrados por piratas na costa europeia e africana, imaginou-se esquecido pelas autoridades que atuavam contra a pirataria infringente, ou até mesmo, ser considerado como morto.

Como gratificação, depois de tanto tempo ausente dos limites europeus, foi o suficiente para construir o seu próprio império econômico, contabilizando muitas riquezas em ouro e pedras preciosas, oriundas das terras em fase de dominação e colonização pelos espanhóis.

Espantalho havia se transformado num mito do alto-mar, graças a sabedoria do seu comandante e sua aparência convenhamos, nada atraente. Dentre as batalhas travadas por eles, duas mereceram destaque. A primeira quando Tigre Veloz interceptou um Galeão Espanhol, desconhecendo naquele interim, a escolta que o acompanhava algumas milhas atrás.

Quando tudo parecia resolvido e os piratas do capitão Moribundo comemoravam, foram surpreendidos por alguns tiros de canhões, os quais, por pouco, teriam acertado em cheio sua embarcação. Após a surpresa, utilizando-se de calma e perícia, capitão Moribundo, ajudado por outros quatro companheiros que continuavam a bordo do Tigre Veloz, fez da embarcação saqueada de escudo. E, com extrema habilidade de uma raposa do mar, surgiu inesperadamente a bombordo sorrateiro e infalível.

Só precisou disparar quatro tiros certeiros de canhões no navio escolta para desativar todas as defesas do oponente, deixando a conclusão da missão por conta dos seus bem treinados e inflexíveis soldados piratas. O confronto deixou o cenário da imensidão marítima em um amontoado de destroços fumegantes.

Outra ocasião de destaque, foi no momento em que estavam ancorados na Ilha dos Mascates, próximo da gruta Fossor, quando receberam a visita indesejada do também pirata Henry Avery, outro ambicioso adversário em seu caminho.

Acontece que Henry Avery, havia planejado saquear o Galeão Espanhol, no entanto, os seus planos haviam naufragados com a antecipação ocasional praticada pelo capitão Moribundo. A partir daí, ficou estabelecido que Moribundo e os seus companheiros deveriam pagar pela ousadia.

O erro de Henry Avery, foi imaginar que a tripulação do Tigre Veloz, mesmo com a embarcação ancorada em terra firme, estava entretida comemorando o seu rico e triunfante saque. Esqueceram que o sempre atento, capitão Moribundo, com sua astúcia implacável percebeu algo estranho no cais e, alertou os seus comandados, para o perigo eminente, sem deixar transparecer que estavam prontos para o que der e vier. 

Capitão Moribundo e os seus treinados companheiros, encaram com coragem a luta, deixando Henry e os seus séquitos embasbacados, surpresos e sem saída. Podia-se ouvir o tilintar das espadas e a agilidade dos saltos felinos praticados pelos dois oponentes, esquivando-se dos golpes brutais das lâminas afiadas.

Havia sangue no canto da boca e nos dentes de Henry Avery, provocado pelo soco certeiro empunhando a espada do capitão Moribundo, que atingiu o seu maxilar durante um instante de vacilo.

A violência da pancada com o punho da mão esquerda agarrada ao cabo da espada transformou-se num duplo impacto. Capitão Moribundo era canhoto, o que tornava ainda mais difícil antecipar seus movimentos. Enquanto isto os demais lutavam impondo todas suas destrezas mortais.

Ocasião na qual ocorreu uma das mais sangrentas colisões de forças experientes, quando henry ficou mortalmente ferido pela espada cortante de Moribundo, revelando mais uma vez suas habilidades com as armas, principalmente com a espada e a adaga.

Agora em terras europeias sob o manto da retidão de um respeitado cidadão, o seu objetivo seria colher o maior número de informações sobre o que estava acontecendo na corte inglesa sem deixar suspeitas. Charles Grahann resolveu primeiro se instalar provisoriamente na França.

Neste país ele sabia que, uma vez infiltrado no alto escalão social, saberia como adquirir as informações necessárias para dar curso aos seus propósitos. Assumindo a identidade de um escritor irlandês, iria frequentar as altas rodas da cultura e da sociedade imperial. Em companhia de ilustres personalidades, foi colhendo dados importantes que lhe serviriam para arquitetar o seu plano.

Época em que ficou conhecendo Jacques Villefronsiér, rico empreendedor no setor de perfumaria. Não poderia ter uma parceria melhor e mais oportuna. Através de Jacques, Charles Grahann sempre bem acompanhado das mais importantes figuras da corte francesa, especializou-se em fragrâncias e nos processos de industrialização de perfumes e derivados.

Sua ideia inicial seria se especializar em vinicultura, assim penetraria com mais facilidade na nobreza inglesa grande apreciadora de vinhos. Contudo, a sorte acompanha aquele que persiste na busca por evidências importantes para o desenrolar do seu propósito, e de quem não tem medo de encarar as controvertidas situações. E o setor de perfumaria estaria de bom tamanho, mesmo porque as damas inglesas pela sua inegável vaidade, davam grande valor à perfumaria francesa.

Com os conhecimentos adquiridos e consolidando virtuosas parceria através do emprego de significativa quantia em recursos financeiros, idealizou abrir uma filial francesa de perfumaria no seu país.

O sucesso foi imediato e robusto. Com outra identidade, agora como Claude Fontaine, propositadamente criado para não revelar sua verdadeira cidadania, partiu com destino à Londres com o seu plano de vingança pré-estabelecido.

Lógico que faltava superar fases que deveriam ser respeitadas com extremo cuidado, para enfim, entrar no cerne da sociedade inglesa. Mesmo com a identidade de um importante investidor no setor de essências aromáticas, algo mais seria indispensável acrescentar. Mas não desistiria, os episódios seguintes, ainda que difíceis e tratados com a devida cautela, seriam superados de forma naturalmente, perspicácia é o que não lhe faltava.

 

OBS.: Acompanhe em breve, a última parte deste conto, o qual não deixa de ser uma aventura para cada leitor. Obrigado pela atenção.

Imagens: Internet, Fotosearch



Valentes e destemidos homens do mar – Primeira Parte



Enfim o dia amanhecia depois de uma longa noite inquietante. Pairava entre os ocupantes do navio de bandeira espanhola Constelación, um clima de tensão e temor de a qualquer momento uma tormenta quebrasse o mar com ondas de mais de quatro metros. Embora acostumados com situações de extremo perigo, ainda assim, temiam pela segurança da valiosa carga de especiarias que transportavam das Índias. 

No céu ensurdecedores trovões ecoavam manifestando o seu poder, seguidos de horrendos raios cortantes que riscavam a escuridão do céu, desenhando a imagem do pavor. No horizonte um denso nevoeiro não escondia a soturna realidade. Ainda assim, a embarcação cumpria o seu destino, navegando cautelosa nas proximidades da costa africana a oeste das Ilhas Canárias.

Algo semelhante havia acontecido tempos atrás, quando Constelación e sua tripulação enfrentaram um iminente naufrágio. A fúria das águas chegaram a lavar o convés fazendo da embarcação um brinquedo de criança. Enquanto isto seus ocupantes agarravam-se aos seus credos com fé.

Mesmo com todo esse clima perverso causado pela natureza arredia e descontente, a tripulação se sentia mais segura a ter que enfrentar a perigosa nau capitaneada pelo capitão Moribundo, nome atribuído a Charles Grahann, temido pirata, o qual tinha o Atlântico como o seu principal reduto de ação e pilhagens. Eram conscientes que, se o enfrentassem, a situação seria vencer ou morrer, sem a mínima possibilidade de contar somente com a sorte, mas sim, com a habilidade de cada um, e o derramamento de sangue inevitável.

O grande e pesado galeão espanhol Constelación navegava lento em direção ao Mediterrâneo. Algumas milhas adiante, Tigre Veloz o aguardava impune de qualquer suspeita próximo a Gibraltar. No momento oportuno bastava arriar a bandeira francesa da qual usava como escudo, para de imediato hastear a temida bandeira com a imagem estampada do Tigre Dourado, transformando-se no terror dos mares.

Infiltrado entre a tripulação do galeão espanhol, um fiel espião tinha a missão de facilitar toda a ação da embarcação pirata. Para tanto, provocaria um premeditado incêndio no tombadilho, lugar ideal e de fácil propagação das chamas, também ideal para emissão de sinal. A carga muito ambicionada de valor inestimável, da qual pretendiam subtrair os permitiria desaparecer por algum tempo, escondendo-se nas Antilhas em uma das centenas de ilhas do arquipélago das Bahamas.

Enquanto o tombadilho ardia em chamas e a tripulação envolvida em deter o fogo, eis que surge lado a lado do galeão como um fantasma, Tigre Veloz. A surpresa foi tamanha que a rendição aconteceu sem violência e ter que efetuar sequer um disparo. Os próprios piratas ajudaram a conter as chamas e garantir a segurança da carga motivo do ataque.

Após o vitorioso saque, capitão Moribundo representado pelo seu imediato, o Espantalho, liberou a embarcação e sua tripulação, para em seguida desaparecer mar adentro, com destino ao Mar das Caraíbas. Capitão Moribundo reuniu os seus valentes companheiros e expôs o seu plano de imediato:

– Companheiros amigos! – Disse em voz firme e alta.

Esta nossa conquista de hoje será a última, pelo menos por enquanto, nestas imediações.

Estamos sendo muito constantes por aqui. Com o resultado deste saque temos mais que o suficiente para ficarmos fora de ação por algum tempo.

Estou convencido e decidido de que devemos seguir para o Mar do Caribe. Temos informações que vultosos tesouros são transportados de lá com destino à Espanha e à França. Podemos ganhar muito mais, depois deixaremos de sermos notícias por uns tempos.

Para nossa segurança, estaremos distantes, navegando numa área considerada sem domínio, o que tornará nossas ações menos declaradas. Se tivermos sorte, podemos construir um grande império financeiro.

Temos uma meta, da qual não podemos nos afastar. É uma questão de honra, arriscar para defender nossa própria integridade de homens de bem. Pelo menos é o que éramos até sermos acusados e sentenciados injustamente pelo que não somos os responsáveis! – Não foi preciso dizer mais nada, sendo imediatamente apoiado por todos.

Uma vez acertados os detalhes partiram dali mesmo em direção dos seus ideais, como homens em busca da glória e da fortuna. Como homens destemidos, capazes de morrer se preciso, em busca de resultados que os facilitassem, provar suas inocências ultrajadas pela ganância e pela ambição da maldade escondida sob o manto da impunidade.

No ano de 1698, imponente navio ostentando magnífica bandeira inglesa, navegava retornando pra casa, quando foi surpreendido nas proximidades do Canal da Mancha, por outro navio também de bandeira inglesa, que Charles Grahann o conhecia muito bem. Seu comandante capitão Johnny Flampper era um respeitado corsário inglês, responsável por inúmeras façanhas bem-sucedidas. Na época a Inglaterra e a França haviam acabado de resolver algumas pendengas que resultaram em perdas para ambos os lados. Não bastasse, a Inglaterra começou a enfrentar seríssimos problemas de questões internas. A Revolução Gloriosa que acabara de ocorrer estabelecia o fim do absolutismo inglês e proclamava o Parlamentarismo.

Distante das formalidades políticas que aconteciam no império britânico, Charles Grahann, comandava sua tripulação a bordo do seu navio nas suas habituais viagens comerciais. De repente notou a aproximação inesperada de outro navio ostentando a bandeira inglesa. Embora sendo uma embarcação conterrânea, manteve-se cauteloso poderia ser na verdade, uma embarcação pirata disfarçada pelo brasão inglês. Ainda assim, arriou as velas para em caso de um confronto inevitável, não correr o risco de perder os seus mastros.

Entretanto, sua aparente tranquilidade não durou muito, quando é informado pelo observador posicionado no alto do mastro principal, o qual viu através da sua luneta Johnny Flampper dar ordens para atacar. Imediatamente Charles Grahann colocou sua tripulação em alerta, pronta para responder ao ataque com força total sem piedade. Assim que o seu inesperado oponente iniciou sua manobra para posicionar os seus canhões, ficou declarada a intenção. Agora seria só aguardar o adversário efetuar o primeiro disparo e estaria estabelecido o combate.

Enquanto os homens corriam de um lado para o outro procurando se proteger e contrata atacar, Charles Grahann começou analisar a situação procurando resposta para aquele ataque despropositado. Concluiu que a atitude Flampper só poderia ser ordens de alguém influente da alta corte comercial inglesa que o querida morto. Pelo que conhecia do seu adversário, não comportaria daquela forma deliberada sem motivos. Ainda mais em se tratando de um navio com a mesma bandeira, dificilmente sairia daquela situação impune das leis marítimas.

Com fúria, rapidamente também emitiu ordens para sua tripulação se posicionar adequadamente que seriam atacados. Uma batalha sem precedentes foi declarada entre as duas forças. Entretanto, com a destreza de exímio espadachim e certeiro atirador com suas armas, Charles Grahann só esperou o primeiro disparo e partiu para o revide. Para surpresa de Johnny Flampper que imaginava o valente Grahann desguarnecido e despreparado, presenciou uma batalha, da qual preferia não tem aceitado a missão.

Utilizando-se de muita astúcia, Charles Grahann enfrentou Johnny e seus asseclas. Depois de sangrento embate saiu-se vitorioso. Ainda que, ferido nas costas por um tiro de mosquete que o fazia sangrar muito, não o impediu de lutar até ao final. Como era jovem e forte suportou a dor, a fraqueza e a febre até ser levado ao litoral português e ser atendido por uma senhora que se prontificou ajudá-lo.  A atenciosa senhora, desconhecendo o seu nome, mesmo porque se encontrava bastante enfermo e, nos seus momentos de delírio pronunciar palavras desentendidas, começou a chamá-lo de jovem moribundo. Apelido que veio substituir sua verdadeira identidade, transformando-se uma incógnita para aqueles que não o conhecia e lendário para aqueles que o confrontaram.

Daí Charles Grahann, passou a ser conhecido como capitão Moribundo, tanto em homenagem à obstinada e cuidadosa senhora portuguesa, quanto pela simpatia que o nome causava.  Emblemático para a saga de um dos mais destemidos transgressores do Atlântico, no comando da tripulação do navio que passou a ser denominado de Tigre Veloz o impiedoso. E assim, a temível estampa do tigre dourado, animal que Grahann passou a admirar através das suas viagens às Índias, tornou-se sinônimo de bravura e terror. 

Tigre Veloz, seu navio agora de várias bandeiras, artimanha utilizada para confundir suas presas era velos e imbatível.  Com facilidade desaparecia no horizonte sem deixar rastros. Pela sua capacidade diabólica de evaporar após um bem-sucedido saque, e a sagacidade de um expert em traçar planos ousados, já havia ganhado destaque e temor para qualquer navegante.

Levava a bordo além de homens corajosos, 28 canhões escondidos por escotilhas que não deixavam quaisquer indícios e vestígios de suspeitas. Para todos que o viam não passava de um navio de passageiros. Por isto eles próprios o chamavam de navio camaleão. Quando atracava sua tripulação transitava pelas cidades livres e incólumes. E o seu comandante podia frequentar com naturalidade altas rodas sociais, como um elegante e bem-sucedido fidalgo de origem e descendência desconhecidas.

Por meio da astúcia de Charles Grahann, a esperteza e a camuflagem sob as vestes de elegantes senhores que, tanto o capitão Moribundo, quanto a sua tripulação conseguiam importantes informações, para arquitetar suas ações com antecedência. Tempo suficiente para um planejamento eficiente de suas atitudes e privilegiada competência, raramente perdiam uma nova empreitada. 

Grahann antes de se tornar homem do mar era uma pessoa comum, filho de uma bem estruturada família inglesa. Talvez seu fascínio pelo mar se devesse pelos inúmeros livros que havia lido no decorrer de sua juventude. Por determinação e cuidados dos pais, estudou sob a batuta de nobres professores em ricas e importantes escolas do reino. Dedicou-se com afinco em todas as disciplinas e assuntos diversos relacionados ao empreendedorismo, sobretudo, fluência em idiomas, história, filosofia e astronomia.

Havia lido autores importantes, os quais lapidaram os seus conhecimentos permitindo-o, comportar com desenvoltura e distinta elegância em qualquer situação. Com a idade de 30 anos, porte físico forte, esbelto era um exemplo de beleza, simpatia e sedutor contumaz. Capaz de impressionar as mais exigentes damas.

Acontecimentos involuntários e imprevistos às vezes determinados pelo acaso são capazes de mudar a postura de uma pessoa levando-a a trilhar caminhos antes não imaginados. Foi o caso do capitão Moribundo, ou capitão Charles Grahann. Antes, fazia parte de seus ideais, a exemplo do seu pai, ser um homem primado pela retidão, pela honra e a disciplina de um bom patriota. Totalmente ao contrário do homem que havia se tornado, um transgressor.

Até então, era um jovem e destemido corsário a serviço da coroa inglesa. Após ser traído de forma ardilosa, covarde e vergonhosa. Da qual lhe foi imputando crimes deploráveis de roubo contra o patrimônio econômico do seu país e assassinatos com requintes de crueldades sem merecimento, o obrigou dar um inesperado rumo para sua vida. Deixar para trás, ambicionados projetos de ser um grande empreendedor internacional, para se tornar no pirata mais temível e procurado em todo o Atlântico.

Como consequências, temendo ser julgado e condenado por crimes não cometidos, resolveu impor o seu próprio regime de lutar contra os mal intencionados líderes da coroa, de forma pouco convencional. Instituiu um propósito de construir o seu próprio império na ilegalidade, com a finalidade de obter o necessário para financiar seus objetivos de vingança e resgatar o honrado nome de sua família. Além é claro, de mostrar o seu poder de domínio sobre qualquer potência marítima da sua época. Independente da cor ou do desenho do brasão estampado na bandeira de suas vítimas.

Capitão Moribundo também usava como estratégia esconder-se por trás da figura de um de seus marinheiros e amigo de batalhas Gaborow, o Espantalho. Senhor surdo com aproximadamente 45 anos, aparência desgastada pelas brabezas do tempo, olhar firme e frio; sobrancelhas espessas transmitia a impressão de um homem implacável, reforçada por uma longa barba grisalha. Aparência com a qual permitia o seu comandante fora-da-lei se mantivesse no anonimato perante aqueles que não o conhecia.

Como Espantalho não podia se expressar através de palavras, seus gestou rústicos próprios do estereótipo de uma medonha e desalmada criatura com poucas características humanas, aqueles que o viam pela primeira vez, tinham a impressão de estar mais próximo de um assustador e intrépido espantalho. Com aparência asquerosa, era comum vê-lo usando um grande chapéu semelhante aos da corte francesa, destacando um grande penacho vermelho carmim na extremidade lateral de uma das largas abas.

Em breve a continuação desta intrigante história de ação e aventura. Muitos acontecimentos envolvendo coragem e emoção estará por vir. Não deixe de conferir.


Imagens: Internet.



sábado, 13 de agosto de 2016

O jardim que encanta


No universo do mundo dos objetivos, existem pessoas e pessoas. Algumas singulares por natureza, como Manoel, o qual faz parte deste diferencial. Apaixonado pela sua profissão de jardineiro, pelas plantas e tudo que delas se associam. Manoel também era curioso, estudioso e fascinado por lendas de enlevo que fazem o homem enxergar exemplos de virtudes, onde antes talvez fosse impossível. Seu sonho era um dia ter sua própria história; viver um sonho inimaginável para que as pessoas desprovidas das bênçãos de Deus pudessem refletir sobre si mesmas. Por ventura ou aventura em outros horizontes, em outros lugares, quem sabe, fosse lembrado como alguém que ajudou a escrever o seu próprio destino. 

Com a simplicidade de quem era sinônimo de determinação. Uma pessoa que vivia cada segundo de sua vida, edificada na sua personalidade brilhante e perseverante, arregaçou as mangas e foi em busca dos seus ideais. Mesmo em se tratando de algo pessoal, não pretendia de modo algum, restringir, nem impor limitações aos seus conceitos visionários de uma mente arrebatadora e o seu apetite voraz pela leitura. Aprendeu a ser leal com os menos afortunados dos seus sonhos, permitindo-o o compartilhamento. Assim, demonstrando simplicidade no seu sorriso infantil, não foi difícil começar a construir o seu legado.

Morava em uma pequena cidade, contudo, não se tratava de um lugar ermo, sem importância. A população, como ele, admirava o perfume de um jardim bem cuidado. Era raro encontrar uma casa que não tivesse uma área florida, com todos os requintes de beleza e encantamento.

Certo dia depois de fazer seu percurso habitual, que o conduzia até a sua morada, ao passar por uma casa a muito por ele observada. Mesmo com características e aparência modestas, havia algo que o considerava fundamental: área disponível para se construir um belo jardim.

Suas moradoras, uma senhora com aproximadamente 50 anos e sua filha que se imaginava próximo dos 30, lutavam com dificuldades pela sobrevivência. Dependiam somente de uma irrisória pensão, deixada pelo marido falecido há alguns anos. E, eventualmente, dos insignificantes resultados dos trabalhos que ambas desenvolviam com bordados. Era inegável a qualidade e o primor das peças, a habilidade e o zelo, de seus maravilhosos desenhos elaborados a partir de uma linha, com o auxílio de uma ou duas agulhas.

Com os poucos recursos financeiros a que tinham direito por questões óbvias, a pensão. Muitas vezes tinham que, se submeterem a duas variáveis: ter dinheiro suficiente para suas necessidades básicas de sobrevivência, e ainda, para comprar os novelos de linhas e o tecido para executar o exercício de suas tarefas, que completariam os seus minguados recursos. Em muitas ocasiões faltavam-lhes tecidos, linhas e o apoio de alguém que se interessasse em ajudá-las ou até mesmo, para comprar suas peças.

Um dia, Manoel depois de ter passado quase toda à noite, lendo um livro que acabara de adquirir, ficou impressionado com sua leitura, que contava a história de um homem, que estava cansado do que fazia. Tratava-se um balseiro que transportava pessoas de uma margem a outra de um rio.

Esta sua atividade já vinha desde a infância, quando substituiu o pai que na época se encontrava velho e doente. Não sabia fazer outra coisa, até que ao transportar um senhor atingido pela fatalidade da falta de visão, se admirou com a simpatia do velho cego; seus modos, maneira de vestir-se e o seu sutil comportamento enigmático. Na história o barqueiro somente no final do percurso que fazia da travessia, é que teve a coragem suficiente de perguntar-lhe o nome.


Descreve o livro: “...Silencioso e de aparência compenetrada, podia-se notar que estava atento a tudo que acontecia à sua volta. O barqueiro curioso com aquela visão incomum, perguntou o seu nome, recebendo de maneira educada a resposta:  “Eu me chamo Felicidade, mas pode me chamar de Sorriso, como as poucas pessoas que me conhecem me chamam”. Ao obter a informação, o barqueiro logo imaginou tratar-se de uma brincadeira nada convencional. Pensou de imediato:  “Isto é pra eu permanecer calado e só responder ao que me perguntam e preocupar-me menos com a vida dos outros...”

A cada informação que recebia do conteúdo do livro, permitia que Manoel avaliasse o comportamento do personagem, sem, contudo, deixar de admirar aquela figura humana, simpática, porém misteriosa. Estas entrelinhas interrogativas, o deixava mais envolvido com sua leitura. Parecia que já havia incorporado o personagem balseiro, vivenciando cada detalhe da história, como se fosse ele próprio o condutor da balsa.

Segue o texto do livro:  Pensou o balseiro:  “Só queria saber o seu nome e depois, declarar minha admiração pela sua coragem de transitar sem temores nas suas condições. Isto é feio? É bisbilhotice? Sem obter respostas, continuou sua atividade sempre se autoquestionando.” Manoel compenetrado vivia um momento de deslumbramento. Alimentava pensamentos paralelos, na mesma intensidade do personagem.

Continua a narrativa do livro: “...Até que outro dia o mesmo senhor pegou a sua balsa de volta. Vendo-o com a mesma elegância, roupa limpinha, bem engomada, sapatos lustrados e a bengala com alça de couro, cresceu ainda mais sua admiração por aquele bem aparentado e curioso velho. Nem por isto se atreveu a fazer qualquer comentário...”.

Nessa noite Manoel não conseguiu ler toda a história, embora ficasse impressionado e ansioso pelo desfecho. Estava cansado, precisava dormir, o dia seguinte seria de muito trabalho e ele necessitaria de disposição, muita disposição!

Mesmo tendo que estar atento ao que fazia, não conseguia desvencilhar seu pensamento da história, que o levava a meditar sobre cada detalhe do que havia lido. – “Por que será que o velho deu aquele nome de forma incompreensiva, sem sentidos, se o balseiro só queria ser simpático?” Assim transcorreu todo o dia sem uma conclusão satisfatória. Entretanto, ao chegar em casa iria sem dúvida, descobrir.

Novamente no retorno pra casa, ao passar pela residência das mulheres bordadeiras, seu pensamento vagou pelo desejo de transformar aquele espaço abandonado, habitado pelo mato, quem sabe até, por animais peçonhentos e perigosos, em um lindo jardim com sua magia particular. Povoado por borboletas, abelhas, pássaros e o olhar admirado das pessoas que por ali passassem.

Quando terminou sua leitura descobriu que realmente o velho se chamava Felicidade. Também era justo que os poucos que o conheciam, como ele mesmo disse, o chamassem de Sorriso. Havia um motivo subentendido em torno do seu nome. Acontece que mesmo não podendo enxergar. Ver a natureza com suas nuances e belezas exuberantes; não poder olhar nos olhos das pessoas como a maioria, ainda assim, trazia no coração um sentido especial: podia enxergar a alma de quem dele se aproximasse. E, naquele momento em que o balseiro havia perguntado o seu nome, pode perceber sua curiosidade em torno do seu comportamento de cego, sem contar com a ajuda de outra pessoa que estivesse ao seu lado orientando-o, mesmo assim, sabia perfeitamente onde pisar e em que direção deveria seguir.    

No entanto, Manoel entendeu que o velho percebendo que o balseiro o tratava com respeito, naturalidade e cumpria com amor sua missão. No retorno, sem que fosse solicitado, o velho cego, respondeu suas indagações pessoais, captadas pela sua aguçada sensibilidade sensitiva. Quando o aconselhou a continuar transportando pessoas, porque, além de transportar vidas, estava conduzindo muitas vezes indivíduos em busca do seu próprio destino.

Para algumas pessoas, estavam reservadas grandes realizações. Entretanto, para outras, em decorrência do livre arbítrio, envolveriam com momentos trágicos. E ele ali nas suas idas e vindas, dava esperança a quem buscava o incompreensivo, fugindo do obscuro limiar da insatisfação, do desconhecido e da falta de perspectivas.

O interessado jardineiro atento a alguns detalhes se surpreendeu mais uma vez. Ao se deparar com algumas informações consideradas de grande importância, sobre a forma de se ver o sentido da vida, definidas pelo velho e enigmático cego. Anotando alguns exemplos relevantes:  “A abelha ferroa não porque é hostil, mas para proteger sua colmeia, dando sua vida pelo o que acredita. Ao picar suas vítimas, não consegue retirar intacto o seu ferrão, com isto, perde parte do seu intestino, resultando na sua morte. Depois não faz isto somente por prazer, vingança ou em benefício próprio. Mas para proteger toda comunidade melífera, da qual faz parte.”

 “Tem consciência do sabor cobiçado do seu favo doce e da dificuldade de produzi-lo. Sua produção exige trabalhar em voos contínuos e distantes em busca do néctar, só encontrado em maior quantidade na época da florada, nos campos, pomares e jardins. Inclusive a produção da geleia real, indispensável para a alimentação da sua soberana, a rainha. Única responsável pela produção dos ovos que darão continuidade e preservação da espécie.”

Continua o velho cego suas explicações, através do livro:  “Semelhante é a roseira. Ela também tem espinhos, não porque seja ofensiva, mas para se defender. Mesmo assim, todos a admiram, pela beleza de suas rosas em várias cores. E, pela sua fantástica capacidade de hipnotizar corações apaixonados nas mais diferentes situações. É plantada em terreno fofo, depois é adicionado o esterco proveniente do excremento de origem animal, para que cresça vistosa e sadia. Nem por isto é mal cheirosa, pelo contrário, as pétalas das suas rosas são lindas e perfumadas.”

Outro exemplo:  “O arco-íris é o efeito de partículas muito pequenas, quase invisíveis de água, sob a forma de spray ou pulverizadas pela chuva ou grandes cascatas de águas que caem. Em contato com os reflexos dos raios do sol, causam todo o esplendor de cores diferentes, sem a pretensão de combinações. Em forma de arco, para muitos, corresponde a uma lenda centenária, em que, cada uma de suas extremidades, existe um fabuloso pote de ouro.”

 “A lagarta com sua aparência considerada por muito repugnante, se arrasta com dificuldade nos locais mais adversos, se protegendo de predadores, ou mesmo, para evitar ser pisoteada por algum indivíduo maior. Passa a maior parte dos seus dias, procurando alimento de galho em galho. Como recompensa, se penaliza por um tempo, dentro de uma crisálida minúscula, fechada e sufocante, antes de se tornar uma belíssima borboleta, capaz de voar livremente nas alturas, mostrando sua simpatia e encanto; pousar em lindas flores perfumadas, pelos campos, jardins ou na arte da tela de uma pintura.”

Assim que terminou a leitura, deixou transparecer um largo sorriso. Quando se viu sorrindo compreendeu o real sentido do nome do ancião cego. Refletiu por algum tempo as mensagens, e decidiu: assim que terminasse o trabalho em andamento, iria construir o jardim na residência das solitárias moradoras, que o consideraria, como sendo, o princípio da sua verdadeira missão, como ser humano que acredita na verdade Divina. E que, cada um, tem o seu próprio desígnio a cumprir.

Falaria com as mulheres, convencê-las-ia e, colocaria em prática sua proposta pessoal. A partir daquele momento, seria ele o balseiro sob a forma de jardineiro. Com um detalhe expressivo a acrescentar: sabia o que queria da sua vida. Tinha prazer pelo o que fazia, além de, se sentir responsável pela alegria no olhar dos amantes do belo. Despertar nas pessoas, transformações grandiosas de preservação à natureza e tudo que dela representa.

Sentindo-se preparado e disponível para o que se propusera, procurou as bordadeiras, expôs seu desejo de transformar aquela área ora abandonada em um belo jardim.  Após descrever o que tinha em mente, encontrou logo de imediato, o apoio entusiasmado das humildes mulheres. Sua atitude iria melhorar sobremaneira o visual da casa, além é claro, trazer um novo clima de bem-estar. Um novo alento, não só para elas próprias, mas para toda a comunidade, que carecia ver aquele desprezível ambiente transformado. Quem sabe até, inspiração para um belo conto de fadas ou o nascimento de uma nova lenda, como era o seu sonho?

Estava evidente que o livro que acabara de ler, havia contribuído com estímulos suficientes para a iniciativa. Por outro lado, Manoel possuía um espírito tão evoluído que sua atitude de criar o jardim dos seus sonhos, estava agora, prestes a se concretizar. Vidas distintas também iriam descobrir um novo mundo de beleza, cor e perfume, através da sua ação. Os pássaros encontrariam outro lugar para cantar e encantar, as borboletas, abelhas e outros insetos o seu paraíso mágico.

Antes de iniciar os preparativos, idealizou a necessidade de constar no projeto, algumas plantas aromáticas indispensáveis, que se encarregariam da defesa natural. Evitariam o ataque de formigas e outros insetos nocivos às plantas. Para esta estratégia não pretendia abrir mão do alecrim, camomila, capuchinho, erva-doce, hortelã, manjericão, sálvia, calêndula e gergelim; plantas ornamentais como: amor-perfeito, petúnias, antúrios, verbenas, bromélias, palmeiras anãs, gerânios, cravos, rosas, jasmins, grama esmeralda, entre outras diversidades.

Desde o primeiro momento, em que iniciou suas pretensões de revitalizar a área e criar o jardim, começou a estabelecer um vínculo de entendimento com as sementes e mudinhas escolhidas com esmero, transmitindo-as status de estrelas. De importância, de serem únicas em beleza por todo o universo. Esclarecia, uma por uma, suas singularidades, personalidades, nobreza e prestigio.

Da mesma forma, transmitia a cada uma a responsabilidade de representar com beleza e simpatia, o que existia de melhor em espécie; de estar ajudando a construir um paraíso envolvente de amor, iluminado pela luz do Criador. Seu tratamento chegava a ser de uma amizade paternal. Quando Manoel plantava uma sementinha, dizia àquela pequena vidinha, ainda em transformação a importância da vida.

 Querida sementinha, você agora não passa de um embriãozinho de esperança. Logo estará crescida, transformada e bonita. Mas jamais perca sua simplicidade. Consciente que sozinha não passaria de um grãozinho quase sem importância. Igual a muitos raminhos esquecidos em algum lugar distante do olhar das pessoas e dos animais. Será razoável, nunca se esquecer deste detalhe; orgulhar-se de ter sido a escolhida para dar alegria. Não para se envaidecer, achando-se melhor que as demais.

Para as mudinhas dizia:  Oi mudinha, hoje você não passa de um pedacinho de vida, mas logo será grande e exemplo de beleza e admiração. Seu jeitinho nobre encantará a todos. Seja responsável na sua missão de embelezar e perfumar o ar que todos nós tanto precisamos. Seja querida não apenas pelas suas cores e o formato de suas flores e pétalas, mas por transmitir nos seus dias de existência, felicidade e agradecimento pelas suas características exclusivas.

Com os pássaros não era diferente. Sempre que apareciam, Manoel fazia questão de conversar com cada um, mesmo sem receber um aparente retorno. Agradecia a visita, pedindo-os que não se afastassem e, continuasse dando alegria com os seus cantos sublimes. E se possível, convidar outros como eles, a estarem presentes, dando às pessoas motivações de altivas mensagens, através de o seu trinar cativante e melodioso, agradável aos nossos ouvidos.

Quando a primeira borboleta apareceu exibindo suas cores vibrantes, recebeu logo o seu batismo com o nome de princesinha. Sentiu de imediato, que aquela frágil criatura ficara contente com o nome. Acompanhava-o em todos os lugares do jardim. Algumas vezes, pousava no seu ombro amigo ou num outro lugar, bem próximo. Fazia questão de movimentar suas asas, abrindo-as e fechando-as para que ele pudesse contemplar sua beleza única. Em cada uma de suas pétalas da membrana alada, ficava visível um símbolo, decifrável apenas pelo olhar do Pai do Céu.

Manoel, envolvido por uma felicidade inigualável, acompanhava maravilhado aquele momento indescritível. Transformar um lugar antes esquecido e abandonado, no paraíso dos sábios anjos do bem. Em breve, seria um jardim de delícias, onde reinará a paz, o sossego e a materialização dos sonhos.

Outro fato notável foi o aparecimento da Fada Encantada da Jardinagem, acompanhada de suas seguidoras assistentes. Fulgurantes luzes semelhantes a flashes estrelados movimentavam-se de um lugar a outro, feito raios riscando o espaço, como se estivessem inspecionando sua criação. Tal acontecimento canalizava toda energia necessária de bondade e sabedoria, suficientes para entender a importância que a empatia de cada espécie ali presente, sem exceção, seria fundamental para as lições de fé, que cada dia representa na vida de todos.

Com as formiguinhas Manoel pedia apoio no sentido de conservar a integridade de suas plantinhas, sem nenhum prejuízo às suas vidas, conservando-as perfeitinhas, não as destruindo. Elas iriam dar muita alegria a todos que as vissem floridas e belas. Transferindo às pequeninas cortadoras de pinças afiadas, a responsabilidade de ajudar a manter o encanto do lugar que seria mágico e de inspiração triunfante.

Com esses diálogos cordiais, Manoel conseguiu estabelecer uma irmandade de cumplicidade com todos os habitantes do jardim encantado; com sua lenda em construção. Lenda que logo, também seria exemplo de esperança para um futuro melhor.

Em pouco tempo já havia concluído o seu espaço florido, sua obra-prima. Uma realidade indiscutível, que não demorou a se confirmar. Todos os dias impreterivelmente, reservava as manhãs e as tardinhas, para os cuidados necessários com sua criação. Seja para aguagem, como para as limpezas e podas imprescindíveis.

Havia adquirido o dom de conversar com as plantas, aves e insetos, em diálogos longos, proveitosos e permanentes. Entendimentos capazes de esclarecer as particularidades de cada espécie. Quando chegava era recebido com elevada manifestação de carinho.

Os pássaros irradiavam com suas virtuosas presenças, melodias alegres, cantadas em verdadeira sinfonia poética; plantas e flores no mesmo ritmo formavam um coral e boas-vindas. Até as pessoas que não podiam ver, ou perceber o encanto, sentiam intimamente aquela harmoniosa presença do sobrenatural, comum da alegria incontida.

Em pouco tempo, passear próximo ao magnífico jardim tornou-se um hábito indispensável para os habitantes e visitantes da pequena cidade. E o seu poder de harmonia e paz, havia se espalhado a distâncias imensuráveis.

Manoel estava sempre distribuindo simpatia e sorriso a todos que por ali paravam. Quando somente passavam próximo, um aceno cordial não era esquecido, independente se fossem humanos ou não. A propósito, como bom aluno que era, a exemplo do bom ancião cego, sorriso virou sua marca. Também não era pra menos. Havia construído um ambiente de contagiante atmosfera e envolvimento, onde a felicidade predominava. 

Por meio de gestos de alta nobreza, Manoel entregou àquelas mulheres solitárias, criativas na sua arte de bordar, um novo símbolo de beleza e contentamento, antes inimaginável. Aquele que ali se aproximava, imediatamente era conduzido a um estado de luz. Livrava-se dos mais enraizados problemas; os adoentados, enfermos e desenganados vislumbravam esperança.

Havia até aqueles que diziam, se sentirem curados, graças ao alto grau de encantamento. Notícias se espalharam feito rastilho de pólvora, sobre os feitos e os resultados alcançados por Manoel. Situações consideradas impossíveis encontravam soluções e respostas benéficas para quem se aproximasse do jardim.

Não tardou para se tornar visita obrigatória para as pessoas que buscavam o ambicionado conforto espiritual. Os céticos contagiados pelas manifestações de bem-estar, mesmo tentando driblar a própria consciência, não resistiam à tentação, movidos por uma atração inexplicável, porém, presente naquele ambiente iluminado. 

O jardim virou uma extensão envolvente de vida plena. De revelação da fé e da indiscutível presença da harmonia, causada pelo encanto energético das flores coloridas, pela beleza do canto extraordinário das aves. Era o jardim que encantava. O jardim que floria na alma das pessoas.

Manoel maravilhado com sua criação, concluiu espontaneamente, que não basta ter apenas um jardim com plantas diferenciadas. É preciso que esse jardim esteja dentro de si, dentro de cada um. Sentir além do perfume das flores, o seu sorriso de felicidade. Compreender que os pássaros não vão a determinado lugar por um mero acaso ou pelo descanso após longos voos, mas pelo prazer da receptividade.

As borboletas, as abelhas e os beija-flores, também não procuram os jardins pelo seu colorido, mas pela sua doce simpatia envolvente. Produzida até mesmo, pela mais simples plantinha imperceptível, desde que esteja irradiando a fragrância do amor. E que, sua beleza não se traduza em uma mera futilidade, mas, na essência superior do Criador, no seu momento de esplendor criativo.

Um lugar onde até mesmo as formigas e outros insetos nocivos pedem licença para contemplar sua magnífica magia. Todo jardim feito e cuidado com carinho, tem as bênçãos da Fada Encantada da Jardinagem, que tudo faz, para sobressair na vida dos seres, o amor ao próximo de maneira espontânea e atitude de caráter superlativo.


Este conto eu o escrevi em 10/setembro/2009. Espero que goste. Au revoir. 




A propósito, você já acessou a fan page do meu livro infantil Juju Descobrindo Outro Mundo? Não imagina o que está perdendo. Acesse: www.fecebook.com/jujudescobrindooutromundo.


E o site da Juju Descobrindo Outro Mundo, já o acessou? Se eu fosse você iria conferir imediatamente. Acesse: www.admiraveljuju.com.br 



 Imagens: Google

sábado, 2 de julho de 2016

Livro, um passaporte universal


Muito tem se falado e avaliado sobre o índice de leitores no Brasil. Mesmo os indicadores apontar acentuado crescimento para o mercado do livro, o número de leitores com razoável interesse pela leitura não são nada animadores.  

Outro dia lendo um artigo/opinião – revista Meio & Mensagem, 15 de junho – sobre os resultados advindos da má informação e de que forma você pode conduzir com eficácia o seu raciocínio como mente de criação. Constatou-se que somente as pessoas que leem com frequência conseguem produzir conteúdos curiosos e interessantes. Deixando evidente que o hábito pela leitura é tão necessário quanto você se preocupar com o seu crescimento profissional ou concorrer para preencher uma vaga no mercado de trabalho.

É de entristecer saber que, não somente, os jovens não têm a leitura como hábito, mas também, os professores, que deveriam ser os responsáveis pelo incentivo e, sobretudo, ardorosos motivadores para tornar os seus discípulos interessados leitores, o resultado não é diferente.  Ressalta o autor do artigo que, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 44% dos brasileiros não leem; 30% nunca compraram um livro, 63% declaram não terem sido incentivados a ler. Conclui sua avaliação com a lamentável constatação de que, metade dos professores entrevistados, dizer não ter lido livro nenhum recentemente, apenas 84% consideram-se leitores.

É sabido que através da leitura o universo se abre, a mente se expande, transcende. Você convive com várias culturas e situações sobre as quais jamais imaginou; cresce como ser humano mais consciente e exclusivo. Além, é claro, de descobrir o quanto é fascinante poder viajar no tempo, e se encantar com a magia envolvente que o livro proporciona.

O livro também tem demonstrado ao longo da sua existência ser um bom companheiro. Mesmo nas situações mais adversas de extrema violência contra o ser humano, o ecossistema e a própria humanidade, ele apresenta soluções esclarecedoras como evita-la, ainda que, muitas vezes por meio de exemplos sutis. Todavia para o bom leitor, são suficientes para entender o magnetismo da sua bússola do conhecimento, no sentido de traduzir com segurança os pontos cardeais na sua travessia em direção às brilhantes conquistas pessoais.

Entretanto, quando você se depara com uma crônica, como esta que irá ler logo abaixo, "Livro: O Melhor Presente de Mim para Mim!" da jornalista Rebeca Bedone, colunista sobre cultura na Revista Bula. Você perceberá o efeito positivo que o livro nos propicia. E, a importância da leitura como passaporte do saber e, fluorescente luz que transmite vida nova e bem estar no consciente do leitor.



Livros: O Melhor Presente de Mim para Mim!
Por: Rebeca Bedone



Outro dia, uma pessoa me disse que adora ler, mas que não tem mais tempo para isso. Lembrei-me do período da minha vida que foi um hiato literário. Sim, infelizmente houve um tempo em que abandonei o mundo imaginário da leitura para me concentrar em outras atividades e estudos.

A verdade é que eu tinha tempo para a literatura, só estava afastada dela por falta de interesse ou organização. Porque a nossa vida é feita de escolhas e prioridades. Você pode escolher passar uma hora na frente da televisão ou gastar parte do seu dia olhando a vida social e as fofocas em seu celular. Mas também pode escolher usar esse tempo para ler ou fazer uma caminhada ao ar livre.
A gente pisca os olhos e se assusta com o tempo que passou tão rápido. Aí eu lhe pergunto: o que você fez até agora por você mesmo? Quanto tempo se dedicou à sua saúde? Quantos livros você já leu? E quantos minutos, horas e dias ficou procrastinando na internet?
O objetivo da leitura não é parecer intelectual. Leia para ser uma pessoa melhor, para pensar com seus próprios argumentos. Leia para preencher seus dias vazios com poesia ou ficção. Leia para aumentar o seu vocabulário e para escrever melhor. Leia para perceber que você não está sozinho no mundo. Leia para tentar entender o que não faz sentido.
A vida é uma página em branco para ser preenchida. É a tela que você mesmo irá pintar. E nesse caminho, algumas perguntas sem respostas costumam atrapalhar o seu percurso, pois elas permanecem lá, no fundo da alma, acompanhando você, dia a dia: Por que um pai tem que segurar a mão do filho doente em seu leito de morte? Por que mães vão-se embora? Por que idosos são abandonados por seus filhos? Por que animais são mal tratados pelo homem? Por que o homem maltrata a si mesmo? Por que é difícil retomar algumas amizades? Por que não conseguimos dizer o que sentimos?
Depois que voltei para o mundo dos livros, salvei-me de dores e medos. Os livros me ajudaram — e continuam ajudando — a preencher vazios e encontrar respostas. A leitura dá vida à minha imaginação. Manoel de Barros disse que não precisamos do fim para chegar. Sim, não preciso saber tudo para entender! Ler floresce a minha inspiração, pois a importância das coisas está no encantamento que elas produzem em nós. É como escutar a cor dos passarinhos.
No livro “Sentimento do Mundo”, Carlos Drummond de Andrade desabafa as nossas dores. Ele revela todos os nossos medos e nos traz à consciência de que fracassamos. A gente procura fazer as coisas de forma correta, mas nem sempre temos sucesso. Sentimos vergonha e culpa. Ao mesmo tempo, somos meninos que choram na noite escura e os ombros cansados que suportam o mundo.
Mario Quintana escreveu diante da janela aberta, sempre em busca de novas descobertas. Foi colorindo suas horas quotidianas que ele nos mostrou qual é a cor do tempo e tornou bela a sua tristeza.
Eduardo Galeano conta história de uma menina que leu um livro. Depois de crescida, ela continuou ouvindo os ecos daquelas vozes distantes que tinha escutado, com seus olhos, na infância. “O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.”
Os livros nos transformam. Eles mostram que o sentido das coisas está dentro da gente, e que não estamos sós nessa jornada chamada vida. Até nos labirintos mais lúgubres e sombrios há lirismo. É como no coração seco que brota esperança. A sua estrada adquire novos rumos e, aos poucos, é possível esvaziar gavetas de medos e abrir baús de segredos. Assim, você seguirá sorrindo para descobrir a aquarela da sua própria poesia.


Imagens: internet