quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Valentes e corajosos homens do mar - 2ª Parte.


Na parte anterior você viu o perfil de Charles Grahann, a forma e os motivos que o fezeram se transformar no temível pirata
capitão Moribundo.
Agora verá sua trajetória de bucaneiro determinado em arquitetar o seu plano de se aproximar dos seus devedores.

Após o saque ao Galeão Constelación, quem via Tigre Veloz singrando o mar calmamente amparado pela bandeira portuguesa, imaginaria de imediato tratar-se de ricas personalidades em viagem rumo a algum lugar majestoso, quem sabe até à corte brasileira. Todos vestidos a caráter para não deixar qualquer dúvida e também se protegerem de navios de combate a serviço da coroa inglesa ou francesa, países contrários a pirataria no Atlântico em defesa de seus interesses. Para esses momentos de garbo, quem aparecia visivelmente à frente no comando, era Charles Grahann elegantemente vestido com sua túnica branca que destacavam lindos botões dourados e o seu belo boné de capitão com lustrosos detalhes também em dourado, navegando logo abaixo a linha do equador no hemisfério sul. Era tardinha quando o vigilante atento do alto do seu obervatório avistou ao longe outro navio de aparência suspeita dirigindo-se em sua direção. Imediatamente, Charles Grahann deu suas ordens de manterem-se calmos como inofensivos passageiros. Também orientou os canhoneiros para se posicionarem e no momento oportuno tornarem visíveis as escotilhas e abrirem fogo sem chances de revide.

Quando o navio inimigo se posicionou a estiboro da nau comandada pelo astuto bucaneiro com larga experiência em combates, este se certificando serem também piratas confiantes de presa fácil surpreendeu-os com uma saraivada de tiros por 14 canhões infalíveis que partiram certeiros do confiante Tigre Veloz em direção à embarcação aventureira. Antes de ir a pique, os desavisados sobreviventes inimigos ainda tiveram o tempo suficiente para se atirarem ao mar, deixando a embarcação disponível para que os homens do capitão Moribundo recolhessem armas e munições que serviriam para abastecer e ampliar seu arsenal. A intenção não era deixar sobreviventes, mas valia o direito do salve-se quem puder, porém, nada de resgatar marinheiros ou fazê-los prisioneiros. Sempre que ocorria um embate com resultados favoráveis e sem baixas, capitão Moribundo nas vestes do elegante Charles Grahann, como aprendiz de astrônomo cercado de superstições acreditava que no momento das abordagens os astros estavam alinhados a seu favor. Também como curioso vigilante e interessado em astronomia, gostava de se orientar principalmente nas suas navegações noturnas pelas estrelas, quando ficava horas contemplando o espaço com um pequeno telescópio a bordo.

Novamente Tigre Veloz seguiu seu rumo. Com o mar traquilo, saboreando o ar do verão e a sensação de liberdade, confiantes de nenhum transtorno pela frente aproximaram-se da costa caribenha, serenando nas águas rasas, mornas e azuladas do Mar das Antilhas. Abaixaram as velas mantendo-se suavemente a deriva, todavia, atentos ao posicionamento da bússola e cartas náuticas sob comando. A intenção era aportar na Ilha de New Providence, de onde ouvira contar várias histórias de piratas e suas notáveis aventuras de saques milionários em riquezas provindas do continente já em curso de dominação definitiva pelos espanhóis. Antes de ancorar especificou detalhadamente como seu pessoal deveria se comportar. Enquanto ele e uns poucos permaneceriam a bordo.

- Quando chegarmos à ilha procurem andar em grupos menores. - Disse àqueles que iriam se aventurar em terra firme.

- Comportem-se como pessoas ricas. Levem bastante moedas de ouro.

- Conversem em voz rozoavelmente audível. Traçam planos de aquisição de terras quando chegarem ao Brasil. E que suas passagens pela ilha deveu-se a erro nos cálculos de navegação, mas logo pretenderiam retomar a viagem com destino certo. Dessa forma atrairão a atenção dos faras-da-lei e assim chegaremos aos seus chefes, ou comandante. - Reforçou seus argumentos o capitão Moribundo.

Esclarecidos os detalhes, deixou por conta de cada um. Não haveria de dar errado. Eram homens experientes e sabiam comportarem-se como tal.

Não demorou muito o plano começou a surtir efeito, quando um dos grupos conseguiu fazer prisioneiros quatro elementos mal intencionados que haviam tentado roubar-lhes. Como não estavam lidando com amadores, tornaram-se facilmente dominados, sendo logo levados à presença do capitão que já os aguardavam em lugar seguro, fora do navio. Forçados a falar contaram tudo que queriam saber e foram logo liberados confiantes de que imediatamente seu comandante tomaria conhecimento e assim seria fácil ser capturado. O plano não era matá-lo, mas sim, se informar das forças repressoras e também quem dominava aquelas águas e ilhas para eles desconhecidas.

Através desta atitude foi informado de que Henry Morgan antigo corsário inglês como ele, havia enveredado para o mundo dos infratores, com um diferencial: tornara-se importante na região após seu ataque à cidade do Panamá em 1670, e posteriormente ter se transformado em vice-governador de Port Royal na Jamaica, e por fim, rico dono de plantações de canas-de-açúcar.

Não tomando conhecimento da importância do seu rival naquelas águas, soubera impor suas condições de audacioso e temido homem do mar. Após cinco anos de inesquecíveis aventuras e se tornado rico juntamente com seus marinheiros e elegantes marginais, retornou a Europa. Antes da partida fez uma cuidadosa reforma no Tigre Veloz ampliando suas condições de acomodações e outros requintes internos, com a finalidade de lhe valer tanto como navio de combate e pirataria, como de uma luxuosa embarcação de cruzeiro. Tornou-se, digamos, num perigoso camaleão de luxo e de ataques precisos. Fez questão de instalar no seu camarote, importantes e modernos instrumentos de comando marítimo, com o que existia de melhor para sua época e só possíveis para quem tivesse muito dinheiro, detalhe que para ele não fazia mais a diferença. Sobretudo, acreditava que o momento era ideal de retornar à sua terra de origem e fazer as reparações contra ele e seus seguidores.

Além de ter se tornado rico, sua imagem apareceria renovada. Os resquícios que ainda poderiam existir dos tempos em que era comandante pirata na área, haviam ficado para trás e o que importava daquele instante pra frente, seria concretizar sua vingança provando sua inocência. Esclarecer as acusações de que fora vítima pela armação engendrada com intenções escusas de torná-lo bode expiatório pelas pilhagens praticadas por ricas autoridades inglesas, dentre elas George Lemmon, importante figura na Administração Comercial do Rei, que havia se beneficiado do seu infortúnio.

Nesse período em que esteve longe dos acontecimentos em torno do reino inglês e também dos ataques e saques por piratas na costa européia e africana, imaginou-se esquecido pelas autoridades que atuavam contra a pirataria, ou até mesmo ter sido considerado como morto. Como gratificação, foi o tempo suficiente para construir o seu próprio império econômico, contabilizando muitas riquezas em ouro e pedras preciosas, oriundas das terras em fase de dominação e colonização pelos espanhóis. Espantalho havia se transformado num mito do alto-mar, graças a sabedoria do seu comandante e sua aparência convenhamos, nada atraente. Dentre as batalhas travadas por eles, duas mereceram destaque. A primeira quando Tigre Veloz interceptou um Galeão Espanhol desconhecendo a escolta que o acompanhava algumas milhas atrás. Quando tudo parecia resolvido e os piratas do capitão Moribundo comemoravam, foram surpeendidos por tiros de canhões que por pouco acertavam em cheio a embarcação espanhola que acabara de saquear abarrotada de homens invasores festivos. Com a surpresa, utilizando-se de calma e perícia, o comandante pirata ajudado por outros quatro companheiros que continuavam a bordo do Tigre Veloz, fez da embarcação inimiga vencida de escudo. Com a habilidade de uma raposa do mar, surgiu inesperadamente a bombordo sorrateiro e infalível. Só precisou disparar quatro tirambaços certeiros - também o que dispunham no momento - no navio escolta para desativar todas as defesas do oponente, deixando a conclusão da missão por conta dos seus bem treinados e inflexíveis soldados piratas. O confronto deixou o cenário da imensidão marítima em um amontoado de destroços fumegantes.

Outra ocasião de destaque foi no momento em que estavam ancorados na Ilha dos Mascates, próximo da gruta Fossor, quando recebeu a visita indesejada do também pirata Henry Avery outro ambicioso rival e outro Henry no seu caminho. Este imaginando a tripulação inimiga entretida na comemoração pelo seu rico saque, onde essa mesma fortuna era esperada com alguma antecedência por ele sua corja, e por se sentir lesado pela adversidade da ocasião resolveu agir de surpresa e por conta própria. Como estavam em terra, distantes dos seus canhões vitoriosos, o implacável capitão de dupla personalidade Moribundo, teve que lutar com todas suas forças e coragem. Podia-se ouvir o tilintar das espadas e assistir a agilidade dos saltos felinos praticados pelos dois oponentes, esquivando-se dos golpes brutais das lâminas afiadas. Havia sangue no canto da boca e dentes de Henry Avery provocado pelo soco certeiro que atingiu o seu maxilar dado pelo jovem adversário durante um instante de vacilo. A violência da pancada com o punho da mão esquerda agarrada ao cabo da espada transformou-se num duplo impacto. Depois era conhoto o que tornava mais difícil antecipar seus gestos. Enquanto isto os demais lutavam impondo todas suas destrezas com suas armas letais. Ocorreu-se então uma sangrenta colisão de forças experientes, quando henry ficou mortalmente ferido pela espada cortante de Moribundo, revelando mais uma vez suas habilidades com as armas, principalmente com a espada e adagas.

Com o objetivo de colher o maior número de informações sobre o que estava acontecendo na corte inglesa sem deixar suspeitas, Charles Grahann resolveu primeiro se instalar provisoriamente na França. Neste país ele sabia que uma vez infiltrado no alto escalão social, saberia como adquirir as informações necessárias para dar curso aos seus propósitos. Sob a identidade de um escritor irlandês, frequentando altas rodas da cultura e da sociedade imperial, na companhia de ilustres personalidades, foi colhendo dados importantes que lhe serviriam para arquitetar o seu plano. Nesta época ficou conhecendo Jacques Villefronsiér um rico empreendedor no setor de perfumaria. Não poderia ter uma parceria melhor e mais oportuna. Através de Jacques, Charles Grahann sempre bem acompanhado das mais importantes figuras da corte francesa, especializou-se em fragrâncias e dos processos de industrialização. Sua ideia inicial seria se especializar em vinicultura, assim penetraria com mais facilidade na nobreza inglesa grande apreciadora de vinhos. Contudo, a sorte acompanha aquele que persiste indo à busca de evidências e de quem não tem medo de encará-las. Sendo assim, o setor de perfumaria estaria de bom tamanho, mesmo porque as damas inglesas pelas suas vaidades davam grande valor à perfumaria francesa.

Com os conhecimentos adquiridos e consolidando a parceria através do emprego de significativa quantia em recursos financeiros, idealizou abrir uma filial francesa no seu país. O sucesso não demoraria. Sob uma nova identidade, agora como Claude Fontaine, propositadamente criado para não revelar sua verdadeira cidadania, partiu com destino à Londres com o seu plano de vingança pré-estabelecido. Lógico que faltava muita coisa para adentrar no cerne da sociedade inglesa. Mesmo sob a pele de um importante investidor no setor de essências aromáticas algo mais seria indispensável. Mas não desistiria, os demais benefícios viriam naturalmente, perspicácia não lhe faltavam.

Brevemente, ainda nesta semana estarei publicando a última parte deste conto, que não deixa de ser uma aventura para cada leitor. Obrigado pela atenção.

Imagens: Internet, Fotosearch