Continuando com as publicações dos poemas da poeta e desenhista Neli Vieira
A voz que dança
Quero um corpo
para dançar
celebrar a vida
rodopiar
sentir a música
ver Deus
dentro de Deus
fazendo amor
Quero um rito
um transe
um êxtase
para fluir, libertar
a mulher, a Lilith
este arquipélago
de essências
e ópio
dar um salto
além do agora
com fúria, belezas e risos
assim
nascer e morrer
tal qual
uma flecha de luz
Quero um corpo
para dançar, dançar
rodopiar
enroscar-me
ser serpente
derramar-me
feito - chuva
nas bocas
nos corpos
ao som dos tambores.
Quero um sonho
um beijo louco
na boca de Deus
que chega com fúria
rodopia e dança comigo
nas nuvens
um príncipe do céu
viajante alado
com asas
de gigante albatroz.
Quero uma dança eterna
muitas vozes
e vida envolta
numa reblina azul
onde raios de sol
brinquem
o tempo todo.
(Poema publicado conforme original)
Poema publicado no Jornal A Voz de Mauá, no dia 22 de agosto de 2008.
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Nota-se com naturalidade, cada momento do ser humano de não se satisfazer com a mesmice de que esteja se submetendo. Ainda que a paciência tente enganar, a realidade faz rebelar a ânsia recessária de mudança, onde basta um pingo de dúvida para fazer transbordar o limite do represamento da angústia. Chuta-se o balde da intolerância e da falta de perspectiva, e eleva o fulgurante desejo do crescimento interior; dando um basta na amargura, quebrando o elo da tristeza, livrando-se da corrente que aprisiona a alegria contagiante, fazendo correr pelas veredas da estepe verdejante, florida e ensolarada o sorriso do triunfo.
Revolta
As palavras
gritam em minha mente.
O suor
corre pelo rosto
com pressa
de tocar o chão.
Por Deus!
Calem as palavras
apaguem a lua
fechem a noite
quero dormir.
Noto o descontentamento
da primavera.
Hoje, chover
é um mau hábito.
O sol a terra o tempo
estão doentes.
Calem as letras!
Impeçam o nascer do dia
as novas guerras
vêm de velhas discórdias.
Não posso sorrir
enquanto meninos inocentes
dormem em camas de lama
e vestem sangue.
Enquanto homens falam
sem nada dizer.
Tentando me fazer crer
que são pontos do destino
viver - matar - morrer.
Cretinos! Dementes!
Por favor!
Calem as palavras
Quero voltar
Para antes do ventre.
Poema publicado no Jornal A Voz de Mauá, no dia 22 de setembro de 2008
Diretor: Fausto Piedade
Impressão: Rua Muniz de Souza, 219/223 - São Paulo-SP