quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Valentes e Corajosos Homens do Mar - Segunda Parte

Na parte anterior você viu o perfil de Charles Grahann, a forma e os motivos através dos quais o fizeram se transformar no temível pirata capitão Moribundo. Agora verá sua trajetória de “bucaneiro” determinado em arquitetar o seu plano de se aproximar dos seus devedores e vinga-los sem piedade.

Após o saque ao Galeão Constelación, quem via Tigre Veloz singrando o mar calmamente amparado pela bandeira portuguesa, imaginaria de imediato tratar-se de ricas personalidades em viagem rumo a algum lugar majestoso, quem sabe até à corte brasileira.

Todos vestidos a caráter para não deixar qualquer dúvida e, também, para se protegerem de eventuais navios de combate a serviço da coroa inglesa ou francesa, cujos interesses particulares eram contrários à pirataria no Atlântico.

Para essas ocasiões de esplendor e garbo, se destacava à frente no comando, Charles Grahann elegantemente vestido com sua túnica branca, com os lindos botões dourados e o seu belo boné de capitão, desenhado com lustrosos detalhes também em dourado, navegando no hemisfério sul, logo abaixo a linha do equador.

Era tardinha quando o vigilante do alto do seu observatório avistou ao longe outro navio de aparência suspeita dirigindo-se em sua direção. Imediatamente, Charles Grahann deu suas ordens de manterem-se calmos como inofensivos passageiros. Também orientou os canhoneiros para se posicionarem e no momento oportuno tornarem visíveis as escotilhas e abrirem fogo sem chances de revide.

Quando o navio inimigo se posicionou a estibordo da nau comandada pelo astuto bucaneiro Charles Grahann, o qual naquela época, já ostentava larga experiência em combates. Ao se certificarem tratar-se de outra embarcação pirata, confiante de presa fácil, surpreendeu-os com uma saraivada de tiros efetuados por 14 infalíveis canhões. Sem hesitar Tigre Veloz de indefeso veleiro, se transformou num cruel dragão raivoso cuspindo o fogo da desgraça em direção à embarcação aventureira.

Antes de ir a pique, os desavisados sobreviventes inimigos ainda tiveram tempo suficiente para se atirarem ao mar, deixando a embarcação disponível para que os homens do capitão Moribundo recolhessem suas armas e munições, as quais viriam servir para abastecer e ampliar o seu arsenal de guerra.

A intenção não era deixar sobreviventes, mas valia o direito do salve-se quem puder. Sempre que ocorria um embate com resultados favoráveis e sem baixas, capitão Moribundo vestido como o elegante Charles Grahann e aprendiz de astrônomo cercado das inevitáveis superstições, acreditava que no momento das abordagens os astros estavam alinhados a seu favor. Também como curioso vigilante interessado em astronomia, gostava de se orientar pelas estrelas nas suas navegações noturnas, ocasião na qual ficava horas contemplando o espaço com um pequeno telescópio a bordo.

Novamente Tigre Veloz seguiu seu rumo mar adentro, saboreando o ar do verão e a sensação de liberdade. Confiante de que não teria nenhum transtorno pela frente, aproximou-se da costa caribenha, serenando nas águas rasas, mornas e azuladas do Mar das Antilhas.

Baixaram as velas mantendo-se suavemente à deriva, atentos ao posicionamento da bússola e das cartas náuticas. A intenção era aportar na Ilha de New Providence, de onde ouvira contar várias histórias de piratas e suas notáveis aventuras de saques milionários em riquezas provindas do continente. Antes de ancorar especificou detalhadamente como seu pessoal deveria se comportar, enquanto ele, e uns poucos permaneceriam a bordo.

Para aqueles que iram aportar em terra firma, Charles Grahann transmitiu-lhes as seguintes ordens:

– Quando chegarmos à ilha procurem andar em grupos menores;

– Comportem-se como pessoas ricas com destino ao Brasil na intenção de adquirir terras. Levem bastante moedas de ouro;

– Conversem pouco e ouçam mais. Deixam transparecer que suas passagens pela ilha ocorreram devido a erro nos cálculos de navegação, e que logo pretendiam retomar a viagem com o destino certo. Dessa forma atrairão a atenção dos faras-da-lei, e assim, chegaremos aos seus chefes, ou comandante. – Esclareceu Grahann.

A partir dos esclarecimentos apontados, deixou por conta de cada um. Não haveria de dar errado, eram homens experientes e sabiam se comportar como tal.

Não demorou muito o plano começou a surtir efeito, quando um dos grupos conseguiu fazer prisioneiros quatro elementos mal-intencionados que haviam tentado roubar-lhes.

Como não estavam lidando com amadores, foram facilmente dominados, sendo logo levados à presença do capitão que já os aguardavam em lugar seguro, fora do navio.

Forçados a falar contaram tudo o que queriam saber, e foram logo liberados confiantes de que imediatamente o seu comandante tomaria conhecimento sobre os fatos. E, com isto seria fácil ser capturado. O plano não era matá-lo, mas sim, se informar das forças repressoras existentes naquelas áreas e, também, quem dominava aquelas águas e ilhas para eles até então desconhecidas.

Através do astucioso plano, Charles Grahann, foi informado que Henry Morgan antigo corsário inglês, havia enveredado para o mundo dos infratores, com um diferencial: tornara-se importante pirata na região, após o seu ataque à cidade do Panamá em 1670, e posteriormente ter se transformado em vice-governador de Port Royal na Jamaica, além de rico dono de plantações de canas-de-açúcar.

Sem tomar conhecimento da importância do seu rival naquelas águas, soubera impor suas condições de audaciosos e temidos homens do mar. Entretanto, após cinco anos de inesquecíveis aventuras e se tornado rico juntamente com seus marinheiros e elegantes marginais, resolveu retornar à Europa.

Antes da partida fez uma cuidadosa reforma no Tigre Veloz, ampliando suas condições de acomodações e outros requintes internos, com a finalidade de tornar-se útil tanto quanto navio de combate e pirataria, como de uma luxuosa embarcação de cruzeiro.

Transformando-se num perigoso camaleão de luxo e de ataques precisos. Em sua primeira parada no litoral em território europeu, fez questão de instalar no seu camarote, importantes e modernos instrumentos de comando marítimo, só possíveis para quem possuía muito dinheiro, detalhe que para ele não fazia mais a diferença. O seu objetivo estava traçado e pensado, retornar à sua terra de natal e realizar as reparações que pesavam sobre si e seus companheiros.

Além de muito rico, sua imagem estava totalmente renovada. Os resquícios que ainda poderiam existir dos tempos em que era comandante pirata na área, haviam ficado para trás e o que importava daquele momento pra frente, seria concretizar sua vingança provando a inocência de todos eles.

Esclarecer as acusações de que foram vítimas pela armação engendrada com intenções maldosas de torná-los bodes expiatórios pelas pilhagens praticadas por ricas autoridades inglesas, dentre as quais George Lemmon, importante figura na Administração Comercial do Rei, principal beneficiado e inescrupuloso arquiteto do seu infortúnio e dos seus leais companheiros.

Nesse período em que esteve longe dos acontecimentos em torno do reino inglês e, também, dos ataques e saques impetrados por piratas na costa europeia e africana, imaginou-se esquecido pelas autoridades que atuavam contra a pirataria infringente, ou até mesmo, ser considerado como morto.

Como gratificação, depois de tanto tempo ausente dos limites europeus, foi o suficiente para construir o seu próprio império econômico, contabilizando muitas riquezas em ouro e pedras preciosas, oriundas das terras em fase de dominação e colonização pelos espanhóis.

Espantalho havia se transformado num mito do alto-mar, graças a sabedoria do seu comandante e sua aparência convenhamos, nada atraente. Dentre as batalhas travadas por eles, duas mereceram destaque. A primeira quando Tigre Veloz interceptou um Galeão Espanhol, desconhecendo naquele interim, a escolta que o acompanhava algumas milhas atrás.

Quando tudo parecia resolvido e os piratas do capitão Moribundo comemoravam, foram surpreendidos por alguns tiros de canhões, os quais, por pouco, teriam acertado em cheio sua embarcação. Após a surpresa, utilizando-se de calma e perícia, capitão Moribundo, ajudado por outros quatro companheiros que continuavam a bordo do Tigre Veloz, fez da embarcação saqueada de escudo. E, com extrema habilidade de uma raposa do mar, surgiu inesperadamente a bombordo sorrateiro e infalível.

Só precisou disparar quatro tiros certeiros de canhões no navio escolta para desativar todas as defesas do oponente, deixando a conclusão da missão por conta dos seus bem treinados e inflexíveis soldados piratas. O confronto deixou o cenário da imensidão marítima em um amontoado de destroços fumegantes.

Outra ocasião de destaque, foi no momento em que estavam ancorados na Ilha dos Mascates, próximo da gruta Fossor, quando receberam a visita indesejada do também pirata Henry Avery, outro ambicioso adversário em seu caminho.

Acontece que Henry Avery, havia planejado saquear o Galeão Espanhol, no entanto, os seus planos haviam naufragados com a antecipação ocasional praticada pelo capitão Moribundo. A partir daí, ficou estabelecido que Moribundo e os seus companheiros deveriam pagar pela ousadia.

O erro de Henry Avery, foi imaginar que a tripulação do Tigre Veloz, mesmo com a embarcação ancorada em terra firme, estava entretida comemorando o seu rico e triunfante saque. Esqueceram que o sempre atento, capitão Moribundo, com sua astúcia implacável percebeu algo estranho no cais e, alertou os seus comandados, para o perigo eminente, sem deixar transparecer que estavam prontos para o que der e vier. 

Capitão Moribundo e os seus treinados companheiros, encaram com coragem a luta, deixando Henry e os seus séquitos embasbacados, surpresos e sem saída. Podia-se ouvir o tilintar das espadas e a agilidade dos saltos felinos praticados pelos dois oponentes, esquivando-se dos golpes brutais das lâminas afiadas.

Havia sangue no canto da boca e nos dentes de Henry Avery, provocado pelo soco certeiro empunhando a espada do capitão Moribundo, que atingiu o seu maxilar durante um instante de vacilo.

A violência da pancada com o punho da mão esquerda agarrada ao cabo da espada transformou-se num duplo impacto. Capitão Moribundo era canhoto, o que tornava ainda mais difícil antecipar seus movimentos. Enquanto isto os demais lutavam impondo todas suas destrezas mortais.

Ocasião na qual ocorreu uma das mais sangrentas colisões de forças experientes, quando henry ficou mortalmente ferido pela espada cortante de Moribundo, revelando mais uma vez suas habilidades com as armas, principalmente com a espada e a adaga.

Agora em terras europeias sob o manto da retidão de um respeitado cidadão, o seu objetivo seria colher o maior número de informações sobre o que estava acontecendo na corte inglesa sem deixar suspeitas. Charles Grahann resolveu primeiro se instalar provisoriamente na França.

Neste país ele sabia que, uma vez infiltrado no alto escalão social, saberia como adquirir as informações necessárias para dar curso aos seus propósitos. Assumindo a identidade de um escritor irlandês, iria frequentar as altas rodas da cultura e da sociedade imperial. Em companhia de ilustres personalidades, foi colhendo dados importantes que lhe serviriam para arquitetar o seu plano.

Época em que ficou conhecendo Jacques Villefronsiér, rico empreendedor no setor de perfumaria. Não poderia ter uma parceria melhor e mais oportuna. Através de Jacques, Charles Grahann sempre bem acompanhado das mais importantes figuras da corte francesa, especializou-se em fragrâncias e nos processos de industrialização de perfumes e derivados.

Sua ideia inicial seria se especializar em vinicultura, assim penetraria com mais facilidade na nobreza inglesa grande apreciadora de vinhos. Contudo, a sorte acompanha aquele que persiste na busca por evidências importantes para o desenrolar do seu propósito, e de quem não tem medo de encarar as controvertidas situações. E o setor de perfumaria estaria de bom tamanho, mesmo porque as damas inglesas pela sua inegável vaidade, davam grande valor à perfumaria francesa.

Com os conhecimentos adquiridos e consolidando virtuosas parceria através do emprego de significativa quantia em recursos financeiros, idealizou abrir uma filial francesa de perfumaria no seu país.

O sucesso foi imediato e robusto. Com outra identidade, agora como Claude Fontaine, propositadamente criado para não revelar sua verdadeira cidadania, partiu com destino à Londres com o seu plano de vingança pré-estabelecido.

Lógico que faltava superar fases que deveriam ser respeitadas com extremo cuidado, para enfim, entrar no cerne da sociedade inglesa. Mesmo com a identidade de um importante investidor no setor de essências aromáticas, algo mais seria indispensável acrescentar. Mas não desistiria, os episódios seguintes, ainda que difíceis e tratados com a devida cautela, seriam superados de forma naturalmente, perspicácia é o que não lhe faltava.

 

OBS.: Acompanhe em breve, a última parte deste conto, o qual não deixa de ser uma aventura para cada leitor. Obrigado pela atenção.

Imagens: Internet, Fotosearch



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