Nesta semana Bússola Literária, estará publicando o talentoso trabalho literário da poeta e artista plástica Neli Vieira. São poesias que expressam a alma apaixonante e sensível cristalizadas no universo do pensamento, delineando o puro sentimento e uma pessoa que acredita no lirismo intrínseco no coração do ser humano, como forma de gerar a placidez da vida em seu momento existencial, vagando pelo caminho do descobrimento e suas emoções.
Todos nós às vezes nos deparamos com momentos sombrios, momentos que embora estejamos procurando a felicidade, parece que ela não está se manifestando naquele instante, dando lugar à dúvida e as incertezas. O poema "Estou" parece um exemplo desta situação. Onde somente a luz do querer pode fazer vibrar a luminosidade sonhada.
Estou
Estou sombra
não sou ela.
Estou saudade
lágrima transformada
planta enraizada na água
pássaro na janela
Estou
Estou névoa
não sou ela.
Estou silêncio
total ausência
estrela apagada
noite sem lua
reza sem vela
Estou
Estou garoa
não sou ela.
Estou tristeza
na invenção de um sonho
caminho lento
passos sem dono
chão de cores belas
Estou
Flores
caindo das árvores
a chuva varrendo
os rios engolindo
o mar desfazendo
Estou flor
não sou ela.
(Poema publicado conforme original)
Obra retirada do livro - A profundidade do degrau - publicado no Jornal A Voz de Mauá.
Diretor: Fausto Piedade
Impressão: Rua Muniz de Souza, 219/223 - São Paulo-SP.
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Obra retirada do livro - A profundidade do degrau - publicado no Jornal A Voz de Mauá.
Diretor: Fausto Piedade
Impressão: Rua Muniz de Souza, 219/223 - São Paulo-SP.
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No poema "No Canto" a autora demonstra através da sua arte, estar pronta para dar o seu grito de liberdade e continuar sua trilha em busca do encanto da vida. O que fica claro na sua última estrofe de libertação. É a perfeita ideia que mesmo nos momentos onde tudo parece conspirar com o ideal, ainda existe uma luz, mesmo tênue, mas uma luz que reflete a expectativa do dever conquistado com lutas e sacrifícios, contudo, uma luz que brilha no final do túnel. A luz da esperança!
No canto
Aqui estou
à espera das horas
dos sinais do novo
do tudo assentado
sobre o nada
da presunção de quem ri
da divina dança do por vir
Aqui estou.
Sentada no canto da sala
esperando ver
a leveza dos
ritos selvagens
os pregadores de penitências
e deuses que se envergonham
de serem o que não são.
Aqui
onde encontro meus velhos amigos
anjo-diabo que me carrega consigo
e a bem-aventurada liberdade
que não deixa haver
existência sem tempo futuro
sem sonhos que ainda não vi
sem voo sem flechas sem sol.
Equi estou.
Sentada sobre velhas lembranças
com a presunção de um meio riso na cara
a faixa de poeta no peito
e o eterno desejo de fugir e recompor-me.
Com vontade de bem e mal na bagagem
arrastando passos na alma - passos de uma dança
que não sai - talvez nem exista
e fica - fica sempre para depois.
Aqui estou.
Aqui estou.
Sentada no canto da sala
sem ser grande nem pequena
nem louca ou talvez seja
(posso debater a respeito)
porém não sei falta algo
talvez tempo. Não sei!
aqui parada calada
em paz apenas sem pressa de voar
brincando montando desmontando
este eterno jogo
de sair e voltar.
(Poema publicado conforme original.)
Poema publicado no Jornal A Voz de Mauá no dia 11 de julho de 2008