Eu não sei, porque nunca passei por
esta situação: letargia, delírio, ou algo parecido... Mas creio eu, que a
sensação de letargia profunda, não nos leva a lugar algum. Nem mesmo em
pensamentos. Estaremos como mortos. Lógico, que são apenas suposições. Como
disse, não conheço esse estágio mental.
Já li vários romances evidenciando o espiritismo, onde as pessoas se transferem do próprio corpo e se encontram em lugares nunca antes presenciado, ou em lugares que, talvez, através de sonhos possa tê-los visto. Mas também, estou me referindo de forma hipotética. Nada
concreto... Com lógica.
O Conto “Diário de Um Delirante”,
do escritor Pedro Henrique Baima Paiva, foca a situação em que uma criança num
desses momentos de delírio, vaga por lugares fantásticos e improváveis. O seu
conteúdo não tem a pretensão de mostrar, caracterizar, criar tese e nem mesmo causar
um burburinho em torno de uma realidade aturdida.
Contudo, é interessante viajar
pelos lugares e situações onde se transcorre a narrativa. As surpresas vão
criando vida, uma após outra, e é aí que o improvável habita. Em determinado
momento, você se sente presente nas cenas, até sentindo os sintomas de espanto
e perplexidade com tanta flutuação de símbolos e elementos que uma mente talvez
normal, não seria capaz de registrar. Isto, levando-se em conta o realismo subentendido
dos fatos.
Tenho que admitir que dos inúmeros
autores que tive a oportunidade de ler, ainda não havia
lido um texto como este “Diário de Um Delirante”. Sabe aquelas histórias de
desenho animado, onde o bem e o mau se confundem? Melhor ainda, lembra-se do
livro, ou do filme o “Maravilhoso Mágico de Oz”, de L. Frank Braum, em que a
personagem Dorothy Gale encontra com os seus três novos amigos em busca de
soluções com o Feiticeiro de Oz?
Outra obra literária que nos remete
ao Conto do Pedro Henrique é Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.
Onde o personagem Chapeleiro Maluco, só se expressa por meio de enigmas. Enfim,
o Conto “Diário de Um Delirante”, fará você fazer uma viagem interessante pelo
mundo do surreal. Recomendo com todas as letras sua leitura. Seu comentário
será bem-vindo. Vamos que vamos...
Pedro Henrique Baima Paiva é
biólogo pela PUC Goiás; MBA Marketing pela Uni Anhanguera; é graduado em Ciências Sociais e Políticas Públicas pela UFGO; palestrante
sobre sustentabilidade; servidor efetivo da Agência Municipal de Meio Ambiente
de Goiânia; e Professor Universitário.
Diário de um delirante
Eu tinha apenas 12 anos a primeira
vez que vi o jardim. Meus pais sempre visitavam aquele país da América do Sul.
Um país exótico e ensolarado, com pessoas risonhas que caminhavam puxando seus
carrinhos de compras e conversavam entre sonoras gargalhadas.
Para um garoto acostumado com o
gelo como eu, aquele matiz de cores proporcionado pelos raios do sol,
impressionava muito. Na última vez que voltamos juntos, porém, um trágico
acidente marcou nossas vidas para sempre, e a minha talvez mais que a de todos.
Voávamos há horas e nosso destino
já se agigantava no horizonte quando uma estranha descarga elétrica acertou o
avião que em pane despencou do céu em um espiral de fumaça e terror. O fogo foi
visto primeiro, depois escutamos as explosões, três que me lembro. E na última
delas senti meu corpo ser agarrado e jogado para fora do aparelho.
Tudo aconteceu muito rápido e a
partir de agora leitor, desconfie dos fatos extraordinários que vou contar,
pois até para mim parecem invenções de uma mente perturbada pelo medo e
desespero frente à morte eminente.
Minhas lembranças da queda em si
são muito confusas, pois em meu delirante salto para o chão um arquipélago me
esperava para esborrachar. Mas quando isso aconteceu, eu acordei em cima de uma
folhagem tão densa que tive que deixar meu casaco para me livrar dos galhos
torcidos, que com um efeito de molas amorteceram meu impacto fatal. Caminhei
alguns minutos, porém, não tinha nem sinal do local onde o avião havia caído.
Onde provavelmente era agora o túmulo dos meus pais.
Extasiado, com sede, sentei na
sombra de uma flamejante árvore de trocos retorcidos e flores com pétalas
vermelhas como o fogo. De sua copa caíam grandes cápsulas onde amadureciam suas
sementes. Em seus galhos, pássaros multicoloridos saracoteavam como num jantar
de comadres.
Eles não estavam sozinhos, ao pé de
outra grande árvore próxima de mim, agora se destacavam entre as folhas secas,
serpentes rajadas que brilhavam como uma pulseira de brilhantes. Lagartos,
insetos, mamíferos. Era uma inimaginável reunião de animais que parecia insana
para mim. Entre cores e cantos, entoava uma bela melodia e o vento trazia a
mais deliciosa combinação de aromas, que o meu nariz nórdico havia alguma vez
experimentado.
Como em uma dança selvagem, todos
os animais seguiam em fila indiana para um aglomerado de rochas próximo, e com
batidas ritmadas produzidas por seus pés no chão, pareciam dançar uma
coreografia animalesca.
O ambiente mágico que se fez em
minha volta camuflou o motivo de eu estar ali e me despertou uma sensação que
não posso com palavras explicar. Ao que parece, logo estava eu naquela fila
medonha de animais dançando um tipo raro de mantra, produzido pela soma de
todos os sons juntos à minha volta.
O clímax daquela sandice produzida
pela minha mente em choque parecia se aproximar, quando um gambá com uma longa
calda e pelos brancos em cima dos olhos, se levantou em duas patas e como um
cortesão recebeu todos ali, com uma longa e engraçada reverência. Com a mão
esquerda estendida nos encaminhou para uma fenda na rocha, que eu ainda não
havia reparado.
Era como um grande portão sólido,
adornado com inscrições entalhadas na pedra. Não sei que língua era aquela, mas
seus símbolos pareciam reluzir à luz do sol e combinavam como uma senha mágica,
que se repetia como luzes de Natal. Ainda em fila, fomos todos adentrando
aquelas rochas. Naquele momento, eu já não sabia se estava sonhando ou estava
realmente ali, com todos aqueles bichos.
Na minha frente, um grande macaco
dava o ritmo, fazendo um som grave com sua garganta, no compasso daquela
canção. Perto dele um sapo preenchia o som com seu coaxar. E mais adiante
besouros tremiam suas asas dando um efeito especial à música. Todos ali
participavam de alguma forma. Lá dentro, senhoras e senhores em frenética
agitação, saltavam aos olhos.
Cercado pelas pedras monumentais,
nada mais havia ali, senão o mais exuberante jardim já conhecido na Terra. Uma
aquarela de cores se espalhava por uma vasta área. Meu Deus! Como era enorme!
Meus olhos se encheram de imagens de árvores antigas, como aquela própria ilha
esquecida no oceano.
Frutas nunca vistas antes pendiam
dos galhos fartamente abastecidos. No meio daquele vale corria um límpido rio,
de águas calmas que só se agitavam com o fuzuê dos bichos, que se refrescavam
em suas margens.
A vida ali era tranquila. Estava
refletido nos olhos de todos. As flores espalhadas por toda a área se exibiam,
ainda, com as gotas do orvalho sobre suas corolas cintilantes. Em volta de uma
magnífica cachoeira, festejada por vários animais.
Eram tamanduás, macacos, patos e ao
que parece, até uma onça pintada, que como conchas, usavam às suas duas mãos
para derramar aquela água sobre suas cabeças, e depois como se brincassem todos
juntos, molhavam-se e mergulhavam-se diante daquele véu de noivas formado pelas
águas e a espuma daquela maravilhosa queda d’água.
Revoadas de pássaros faziam uma
bela apresentação no céu que parecia uma pintura de tão azul. Nesse momento
parece que o artista inspirado numa ópera de Tchaikovisky, compunha um iluminado
balé, aplaudido pelos seus giros fantástico, com a magia magistral do seu
pincel, tornava-se visível na tela, outra pintura surreal, embelezada pelas
poucas nuvens que flutuavam aqui e acolá.
Antes de caminhar em direção da
cachoeira, onde a reunião se formava me ajoelhei na margem do rio, e sorvi um
delicioso bocado daquele líquido generoso que Deus nos deu, o qual revigorou o
meu espírito. Senti uma estranha sensação percorrer meu corpo como se sob
efeito de algum elixir sobrenatural, que dá energia e uma inexplicável paz no
coração. Não resisti, e em gargalhadas e muita felicidade pulei dentro do rio e
me banhei feito a uma criança que era.
Depois de um tempo que não sei
precisar, saí dali e percebi que os animais faziam mais uma vez fila. Mas agora
de volta ao portão em que entramos. Perto da cachoeira, a reunião de animais
começava a se desfazer, quando eu vi entre corpos, aquele anjo penetrar uma
caverna escondida por detrás das águas. Não sem antes dar uma olhadela em
volta, e com um sorriso carinhoso de despediu.
Só o vi por alguns segundos, mas
posso descrever que não existia ali nenhuma criatura que imitasse sua beleza.
Pele branca como o leite, seu lindo corpo formava uma silhueta perfeita. Longos
cabelos negros encaracolados lhe caíam sobre os ombros e seus olhos eram cheios
de paz, ternura e amor.
Extático com tamanha beleza, não consegui mover uma músculo do meu corpo. Depois disso não me lembro de mais nada. Quando abri meus olhos, já estava na cama de um hospital, onde mais tarde fiquei sabendo que estavam também meus pais. Todos nós estávamos vivos. Ôbaaa!
Extático com tamanha beleza, não consegui mover uma músculo do meu corpo. Depois disso não me lembro de mais nada. Quando abri meus olhos, já estava na cama de um hospital, onde mais tarde fiquei sabendo que estavam também meus pais. Todos nós estávamos vivos. Ôbaaa!
Muitos anos depois li em um livro
velho, a história de uma rainha que um dia construiu um lindo jardim, e por
conta da ganância e cobiça dos homens que o queria, ela e seu jardim um dia,
sumiram diante dos olhos de todos como mágica.
Antes de se dissipar no ar, a
rainha jurou que o precioso jardim nunca seria descoberto pelo homem. E o
segredo para achá-lo há muito havia sido perdido: “O amor e o respeito pela
natureza.”
A propósito, você já acessou a fan page do meu livro infantil Juju Descobrindo Outro Mundo? Não imagina o que está perdendo. Acesse: www.fecebook.com/jujudescobrindooutromundo.
E o site da Juju Descobrindo Outro Mundo, já o acessou? Se eu fosse você iria conferir imediatamente. Acesse: www.admiraveljuju.com.br
Imagens
ilustrativas: Google Image