sábado, 10 de outubro de 2009

Na trilha do lirismo - Nº 02

Ana Carolina Sansão, ou simplesmente Nina Sansão, como gosta de se identificar é uma adolescente de 17 anos, que escreve com a maturidade de uma pessoa que trilhou experiências de gente grande. O seu trabalho literário é digno de ser observado com atenção pelo olhar exigente dos editores e livreiros. Logo seus versos vergarão o comportamento e o pensamento pragmático de muitos caçadores de talentos


________________________________________________________________________________



No seu poema "Um ser irrelevante" a autora transcende a visão lúdica do poeta na construção dos seus versos, ao contar sua história baseada mais no sentimento do que na razão. Nesta viagem poética, normalmente o escritor conta o que lhe vem da alma, fertilizando o brotar da semente do amor com toda a magia do serenar do orvalho que embeleza uma flor. Contudo, esta maturidade precoce faz de Nina uma poeta que cresce sabendo aonde o seu caminhar a levará. Sem dúvida um conhecimento só permitido àqueles que têm talento.






Um ser irrelevante



O poeta não sabe fingir,

ele interpreta a realidade.

Nunca vê o fim

porque nada é de verdade.




O poeta não ama,

fala de amor, apenas.

De nada ele reclama,

mas de tudo se lamenta.




Foge da verdade...

Em cada verso um disfarce!

Canta um mundo de felicidade

e lágrimas de crueldade.




O poeta se esconde no medo

e no desejo de ser melhor.

Tem na mente um segredo:

"Queria ser um ser pior!"




Não vê maldade,

não sente rancor...

Mas na verdade

gostaria de renunciar ao amor.




Um poeta de verdade

não conta sílabas ou métrica,

ele sente, a alma invade,

e nasce então o falso poema!

_______________________________________________________________________________


Em "Eis a realidade", seu outro poema, a autora remete as fantasias do pensamento, para contar os seus desejos juvenis, numa imaginária vontade de viver sua fábula pessoal. É como se Esopo e La Fontaine emergissem das lembranças, para incorporar suas mãos seguras na caneta mágica dos sonhos, correndo sobre a pauta livre de uma página em branco carente por uma mensagem de amor. Ainda que necessário seja para tocar o coração de criança sonhadora que queima sua alma, a espera do seu príncipe encantado montado em seu fogoso cavalo branco, para fazer reviver do sono profundo a Bela Adormecida de sua meiga sensibilidade infantil, aguardando com ansiedade o beijo da descoberta.






Eis a realidade



Uma criança caminha pela estrada

sem olhar para trás,

à procura do conto de fadas

que não existe mais...




Em meio à sua jornada

ela encontra um atalho

e no meio do nada

surge um jardim encantado.




O sonho muda de cor

quando um pequeno príncipe

declara seu amor

sob o luar que ali existe.




Com um beijo sela-se o laço

que encerra o sonho encantado.

O conto de fadas é esquecido

e o sentimento fortalecido...




Eis mais um final feliz

para uma história mal contada:

O que a criança sempre quis

morreu com seu conto de fadas!

_______________________________________________________________________________


Na trajetória do ser humano, depois de ter vivido todas as estações da vida com total entrega, dizer adeus torna-se um martírio pessoal. A autora Nina Sansão em "Não escolhemos dizer adeus", navega sua imaginação por sitações onde mesmo com toda a frieza do tempo, as boas recordações se aquece na lareira da boa convivência. Faz lembrar a criança que chora na despedida da mão que a protege; faz acreditar que o céu com todo o seu esplendor de encantos e brilhos, ilumina o ambiente ressequido e insano do vento gélido no inverno da pureza do olhar. E novamente dizer adeus não é fácil, mesmo que a esperança tenha sido contada e que o próprio destino também irá contar.





Não escolhemos dizer adeus



O sol brilhava intensamente

ignorando o auge do inverno

quando uma estrela cadente

alcançou o longinquo universo...




A pequena muito temia

porque nada mais era igual.

O céu estrelado que antes havia

jamais voltaria a ser real.




Ao deparar-se com o novo mundo

uma criança pode confortar

a incerteza e o medo profundo

com a magia do olhar.




Um doce e sincero sorriso

acalentou o caração aflito,

mas a mudança de estação

separou um só coração.




Cada um seguiu seu caminho

vivendo o que ditava o destino,

sempre perdendo-se em olhares e sorrisos

de um sentimento impreciso.




Quanta esperança foi cantada?

Quanto poderiam viver?

Não saberemos, pois outro conto de fadas

o destino começa a escrever!


Fotos: Internet