Acredita-se que é difícil encontrar atualmente uma pessoa que já concluiu o segundo grau que não tenha lido ou conhece a história de Dom Quixote. Seja ter lido o livro propriamente dito, estórias contadas em rodas de amigos, nas revistas em quadrinhos... Sancho Pança é lembrado até em piadas retratando uma pessoa tosca e sem brilho. O porquê poucos sabe explicar, eu mesmo não sei. A verdade é que eu só fui ler Dom Quixote depois de muito adulto, já na Universidade. Confesso que também era muito preguiçoso à leitura. Por outro lado, a Europa desde que o livro fora lançado o conheceu muito bem. E, até hoje penso que até as crianças europeias quase na sua totalidade e, uma parte considerável do Globo conhece esta simples e pouco atrativa obra.
Boa leitura...
Quem foi Cervantes?
No século XVI a Espanha ditava
para o mundo como devia ser a cultura. De lá saíam as
novas formas de
literatura, a arquitetura das igrejas, os novos caminhos da pintura. Tinha
universidades famosas que atraiam toda a Europa, e uma corte cheia de brilho,
frequentada por grandes artistas e intelectuais. Ao mesmo tempo, a Espanha era
um país rico e poderoso. Para lá iam todo o ouro e a prata retirados das
civilizações indígenas americanas recém-dominadas e a mão do rei se estendia
pelo Caribe, pelas Américas e outros continentes e ilhas. Foi nessa época,
marcada por requintadas formas de arte e sangrentas guerras e conquistas, que
nasceu Miguel de Cervantes Saavedra, na cidade de Alcalá, em 1547.
Filho de um barbeiro endividado,
não se sabe se Cervantes fez escola ou universidade, mas estudou retórica e
gramática com um professor em Madri. Lá também conviveu com boêmios e
aventureiros de toda espécie e conheceu bastante o teatro que se fazia. Seus
primeiros escritos foram poemas sobre a vida e a morte de D. Isabel, a terceira
esposa do rei Filipe II. Em 1571, a Espanha, unida com a República de Veneza e
o Estado do Vaticano, derrotou na Grécia os turcos que estavam invadindo a
Europa, na histórica batalha de Lepanto. Nessa batalha, Cervantes se distinguiu
como soldado e ganhou a admiração do comandante das tropas, o rei D. João da
Áustria.
Quando voltava para a Espanha, em
1575, o navio em que viajava foi afundado por naves turcas. Aprisionado, ele
curtiria cinco anos de cativeiro na Argélia, de onde saiu somente depois da
família e dos amigos pagarem alta soma de resgate.
Retornando finalmente à Espanha,
já ninguém se lembrava dele. Foi então que, desgostoso
com a vida militar,
começou a escrever. Seu primeiro trabalho, o poema Galatea, não teve êxito junto ao público.
Para sobreviver, trabalhou em vários
cargos públicos até chegar a coletor de impostos. Mas em 1597, acusado de
corrupção, foi condenado à prisão. De lá ele sairia para a glória, pois na
cadeia começou a escrever a primeira parte de Dom Quixote.
Pobre e sem recursos, Cervantes
já estava em liberdade quando em 1604 foi publicado Dom Quixote pela primeira vez. O sucesso foi tão grande que nesse mesmo
ano foram esgotadas cinco edições do livro. Cervantes tinha então 58 anos e
ainda veria, durante a sua vida, mais dezesseis edições espalhadas por toda a
Europa, em várias línguas.
Estimulado com o êxito de Dom Quixote, Cervantes publicou suas Novelas Exemplares. Escreveu peças de
teatro e poesias, mas achou que não tinha talento para esses gêneros e, em
1615, voltou a ficção para escrever a segunda parte de Dom Quixote.
O século XVIII, na Europa,
analisou exaustivamente o Dom Quixote
e admirou o seu autor. A partir do século XIX, não houve um só ano em que não
saísse uma nova edição. A Sala Cervantes na Biblioteca de Madri tem hoje mais
de três mil edições dessa obra, em todas as línguas do mundo. Acredita-se que
Dom Quixote é o livro mais lido depois da Bíblia. Mas tudo isso não rendeu nada
para Cervantes, em termos materiais: no último ano de sua vida, ele se recolheu
para um mosteiro franciscano e morreu pobre. Era 1616.
A intenção de Cervantes, ao
escrever o Dom Quixote, era satirizar a novela de cavalaria, que tinha sido
muito popular na Europa e em sua época enfrentava a decadência. Mas acabou
retratando o perfil do homem, dividido entre a fantasia e a realidade. Dom
Quixote, fidalgo ingênuo e atraído pela história dos grandes cavaleiros
medievais, sai pelo mundo como um deles, numa época em que isso já não existia
mais. Nos seus delírios, luta contra moinhos de vento achando que são gigantes
cruéis. Beija a mão de uma guardadora de porcos pensando que é sua amada
Dulcinéia. Sancho Pança, seu fiel escudeiro, admira o amo sem entendê-lo. Tem
os pés na terra e uma visão prática das coisas, mas é fascinado pela sua
loucura. Duas figuras cheias de bondade e pureza, num mundo onde não há luar
para a bondade e a pureza.
Mais do que uma sátira à novela
de cavalaria, mais do que uma crítica à Espanha de seu tempo, que se dividia
entre a tradição aristocrática e a modernidade. Dom Quixote é um hino em louvor
da fantasia e da força poética fundamental da alma humana,
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