domingo, 31 de janeiro de 2010

Insólito Ipê-amarelo





Brasil é um recanto de belezas naturais fascinantes. Capazes de provocar a cobiça e interesses de outros povos e até mesmo do próprio brasileiro pelo seu patrimônio de recursos naturais de inestimáveis valores. Nossas riquezas nativas vêm ganhando espaço nos principais fóruns de discussões sobre as mudanças climáticas realizados nos últimos anos, desde o ambicioso Protocolo de Quioto no Japão em 1997. Reflexo da ECO-92 realizada no Rio de Janeiro.

Este mesmo tema foi destaque na irrelevante reunião de Davos na Suíça, envolvendo a participação dos principais países economicamente superiores, onde abriu-se espaço nos debates sobre as questões climáticas com destaque para os temas ambientais e, recentemente em Copenhague na Dinamarca outra tentativa ilusionista foi analisada sem grandes resultados efetivos.

O certo é que o planeta pede socorro. Pede clemência, em particular a nação brasileira, preocupada com a defesa de suas preciosas reservas contra atitudes imbecis, praticadas em grande parte por interesses de posse. Sendo que, na maioria das vezes, de maneira escusa. O lamentável desta história, é que, esses visíveis interesses praticados de forma gritante e covarde, já comprovados são instaurados pela negligência irracional de uma parte da sociedade gananciosa e hipócrita em detrimento de fatores meramente financeiros.

Sem o menor pudor, envolvem pessoas das mais variadas atividades sócio-econômicas, tendo o agronegócio com suas queimadas despropositadas e criminosas, um fator que exige punições graves. Eliminam de forma impiedosa e acelerada a fauna e a flora de forma incompreensiva. Animais de todas as espécies agonizam e morrem sem nenhum sentimento da parte dos autores; a indústria madeireira derruba de maneira absurda árvores centenárias, causando um efeito de devastação capaz de pasmar até o mais otimista pesquisador em assuntos ambientais.

Em determinadas regiões chegam ao descabido de em apenas um ano promoverem a destruição de áreas superiores a de alguns países europeus e asiáticos. E a exploração do solo e dos recursos hídricos segue na mesma toada. São os herdeiros da destruição e do efeito ambição pelas nossas riquezas minerais, utilizando suas dragas e outros instrumentos nocivos contribuindo de forma decisiva, com a destruição irreversível de rios, riachos e córregos.

Este caos já há tempo instalado e ironicamente praticado principalmente pelas elites, os maiores responsáveis pela degradação ambiental e o efeito estufa. Contudo, este olhar de desejo tem sido fonte de estímulos nas campanhas feitas pelos vaidosos governantes da nossa Pátria Amada no sentido de atrair a atenção de investidores internacionais, com os slogans de “O País do futuro”, “O País das oportunidades”.

No entanto, pouco se tem feito para impedir o câncer da calcificação e mudança gradativa do nosso solo fértil, para o caos desértico que se aproxima de forma vertiginosa. Em contrapartida, também pouco se tem feito de maneira visível e realista, ações inovadoras que contribuíssem de fato, para a preservação do nosso bem mais precioso e invejado por todos os povos que já viram suas reservas destruídas, restando apenas uma ou duas fotos no álbum de recordações.

Na velocidade em que o problema se avança, nossos netos ou bisnetos, provavelmente não verão este patrimônio vivo de florestas nativas, e o cerrado com sua biodiversidade exuberante, além é claro, de outros recantos e manancial igualmente importante, simplesmente porque deixarão de existir. De quem é a culpa? Lógico que o culpado não quer e não vai aparecer. É inegável que uma minoria abastada e insaciável, de forma declara não assume a responsabilidade. Vários satélites ao redor da terra têm fotografado e registrado as áreas mais afetadas, nem assim se preocupam.

Também é esse contingente de dissimulados imperialistas do agronegócio os principais contribuintes com os deploráveis exemplos já constatados, como sendo os vilões que já dilapidaram suas riquezas naturais, e, hoje uivam como leões, tentando convencer que estão preocupados com o futuro da humanidade.

Como se fosse o último suspiro, esses supostos defensores das reservas naturais, utilizam a tribuna e a mídia, para se passarem por verdadeiros paladinos e, de forma arrogante e hipócrita, apontam em direção da floresta amazônica, como sendo o único elo entre a sobrevivência saudável e a perpetuação das espécies.

Várias tentativas políticas de preservação do ecossistema realizadas nos últimos cinquenta anos não obtiveram o êxito esperando, despencaram-se todas as tentativa, ainda na sua implantação, pela ausência do respeito e da moral. Até mesmo, por não conter no cerne da proposta, critérios de envolvimento sistemático da própria população, que de braços cruzados assistem o circo pegar fogo, ou seria, a vegetação nativa condenada ao fogo inferno?

Resultado: As frustradas tentativas vieram a falecer ainda na infância simplesmente porque não viriam privilegiar interesses pessoais de alguns políticos travestidos de bons cidadãos e empresários ambiciosos em busca de resultados imediatos.

A natureza tem provado que tanto é bondosa, quanto é perversa. Detesta ser desafiada e vem mostrando sua fúria de advertências. Mesmo assim, parece que o que ela tem ocasionado com os exemplos de terremotos, tsunamis, enchentes, falta de abastecimento de água e alimentos, não passa de um simples fenômeno da natureza. A verdade é inquestionável, aqueles que realmente poderiam agir criando leis práticas, eficientes e gerir ações de preservação, ofuscam suas atitudes em benefício corporativistas.
Não faz muito tempo, um exemplo de persistência e amor à vida, foi divulgado inicialmente através de uma publicação gaúcha, depois ganhou o mundo por intermédio da internet. Trata-se do ipê-amarelo que desafiou a impiedosa motosserra, ou quem sabe o próprio machado, sabe-se la, para ser transformado num poste de sustentação da rede elétrica na cidade de Porto Velho-RO.

Como foi incrível sua manifestação e exemplo de soberania e humildade! Mesmo sendo vilipendiado, arrastado, escalpelado, desnudado de sua casca e de sua nobreza, ainda assim, além de colaborar com o benefício da iluminação pública conseguiu fazer acontecer o que parecia impossível. Criou raízes no chão bruto no qual fora plantado para atender as necessidades da comunidade, reviveu e floriu magnificamente diante do espanto e admiração de todos.

Eis a pergunta: Como poderia um pedaço de pau, ressuscitar da serraria e ainda responder aos seus verdugos e algozes com o sorriso de vitória demonstrado por meio de suas flores amarelas como o ouro? Como pode suportar a atrocidade recebida com tamanha nobreza, deixando pasmos aqueles que o sacrificou? A verdade é que isto aconteceu e foi registrado pelas imagens do fotógrafo Leandro Barcelos, cidadão gaúcho, atualmente morador da região. Este é só um exemplo dentre tantos mostrados diariamente nos rincões a fora, mas que nem todos veem.

A questão sobre o desmatamento criminoso e o tráfego de espécies nativas acontece deste o descobrimento pelos portugueses. E o pau-brasil na época, não foi o único a passar por este interesse e exemplo amplamente divulgado. Várias outras plantas sentiram esse dramático casuísmo, utilizadas para fins medicinais ou mesmo ornamentais foram roubadas e disponibilizadas em negócios rentáveis pelos descobridores. 
O ipê não fossem suas próprias características de habitat, preferindo áreas descampadas e mais expostas ao sol. Teria sido alvo fácil pela sua beleza notável e resistência da sua madeira, muito apreciada e empregada nas estruturas dos telhados das igrejas e mansões coloniais nos séculos XVII e XVIII.

Sua beleza também justifica o fascínio que causa entre as demais árvores. É inegável que se trata de uma planta privilegiada e abençoada pelo Criador. Fatos curiosos envolvem sua existência. Quando se aproxima o final do inverno, enquanto suas folhas começam a cair já se inicia sua florada, atraindo abelhas e beija-flores, importantes responsáveis pela polinização. E, quando está concluindo o seu ciclo floral, outra esplêndida maravilha se estampa na sua copada para a alegria dos seus admiradores.

Assim que começa o nascimento de suas folhas, pelo seu matiz esbranquiçado bem próximo do prateado, causa outro verdadeiro deslumbre de encanto de beleza, provando mais uma vez ser a planta dos sonhos e das inspirações. Não é à toa que o seu encanto e importância à flora brasileira também ganhou reconhecimento dos legisladores através da Lei Federal nº 6.607 de 07/12/1978, considerando-o como Flor Nacional Símbolo do Brasil e o pau-brasil declarado Árvore Nacional.

Na década de 60, uma das espécies do ipê-roxo foi seriamente ameaçada pelo comentário infeliz e irresponsável de um cientista ao afirmar que a ingestão do chá extraído da sua casca, ser um excelente remédio contra o câncer. Parece pura ironia, mas os ipês continuam desafiando seus inimigos oferecendo em troca sua sombra e a beleza de suas flores, mesmo sendo apenas entre os meses de agosto e setembro, sem mágoas presenteiam a humanidade com suas fantásticas cores nos tons de amarelo, rosa, lilás/roxo e branco.

Diz uma lenda sobre os ipês que o vento depois de viajar dias e noites avistou uma simpática árvore que se chamava ipê. Suas belas flores exibiam um amarelo intenso que mais pareciam flocos de ouro brilhando no horizonte. Com o seu exuberante fascínio reinava solene numa área de inesgotável beleza, onde outras espécies de cores diferentes também esnobavam beleza.

Encantado com tamanha maravilha resolveu parar e contemplar aquele presente da natureza. De repente a chuva que também passava por ali achou que seria interessante dar sua contribuição e suavemente banhou suas flores tornando-as mais alegres. O sol por sua vez, presenciando aquele ato espontâneo, achou que também deveria fazer à sua parte e com os seus raios reflexos da vida, completou aquele cenário deslumbrante. A combinação das pequenas gotículas de água que permaneciam sobre as pétalas das flores com os efeitos dos seus raios e o balanço suave dos galhos embalados pelo vento, criou-se uma cintilante visão que resplandecia na copa da bela árvore.

Então os três amigos: vento, chuva e sol sentaram-se nas proximidades daquele resplendor e não deixaram de exaltar aquele acontecimento único e maravilhoso. Conversando concluíram que havia regiões onde o ambiente era de pura solidão e abandono e que, deveriam fazer algo para alegrar esses lugares carentes de felicidade.

Entenderam que mesmo com todo o poder que possuíam precisariam de ajuda para levar as sementinhas dos ipês em cores diferentes até onde deveriam embelezar. Uma abelha ouvindo a conversa dos amigos, percebendo o quanto seria difícil para eles realizarem os seus desejos, se prontificou em ajudá-los, para isto, convidou outras companheiras da espécie e juntas transportariam os pequenos grãos do pólen que iriam dar vida aqueles lugares esquecidos na tristeza a que submetiam.

Enquanto as bondosas e atenciosas abelhinhas operárias faziam o trajeto o vento soprava de mansinho ajudando-as a não se cansarem. A chuva prestativa as acompanhava para regar a nova esperança de vida que viria nascer e o sol cuidadoso iluminava o caminho para que não se perdessem.

Depois de alguns anos, os amigos novamente juntos, mais as abelhinhas se reuniram para verificar o resultado das suas iniciativas. Ao chegarem às regiões escolhidas encontraram orgulhosos todos os ipês floridos cada um com sua beleza própria nas cores, amarelo, branco, roxo/lilás e rosa. Como se não bastasse, para completar aquela maravilhosa imagem, uma grande quantidade de pássaros canoros de diferentes espécies entoava belíssimas canções compondo aquela cena de esplêndida alegria e bem-estar. E assim a natureza num ato de amor e união levou a beleza do ipê a outros recantos onde precisavam de cor e brilho.

A preservação ambiental e o bem-estar da humanidade dependem de ações conscientes de cada habitante global.


A artista plástica e poetisa Neli Vieira, presta sua homenagem à vida, através do exemplo Ipê-amarelo da cidade de Porto Velho-RO. 




Milagre da vida
  

O ipê amarelo
Agoniza na serra elétrica
Depois... Enterram-no
Feito poste de uma rua
Vestem-no de fios
E transformadores
  
Não há anjos
Nem pássaros que o salve
  
Porém a terra
Mãe sábia
Alimenta seu filho mutilado
Com a seiva de seu santo seio
E no milagre da vida
A Fênix renasce no coração da árvore
Agora...
Não é só um poste da rua
É uma obra de arte
Que resplandece em flores lindas
Volta a ser a inspiração
Dos poetas que creem na vida
E passeiam desnudos sobre
As flores do chão
Poetas que renascem entre
Mentiras e verdades cruas
Quando o olhar alcança o céu
E a alma tenta beijar a lua.


Nota: Esta crônica Insólito Ipê-amarelo já esteve disponível aqui mesmo no Bússola Literária, desde 31 de janeiro de 2010. Agora resolvemos dar uma repaginada e, revivê-la com várias modificações no seu texto original. Quem sabe também, seja o momento ideal para servir como objeto de discussão num fórum de debates, abrangendo não só o seu conteúdo sob forma de pesquisa, mas literário e ortográfico. 

A propósito, você já acessou a fan page do meu livro infantil Juju Descobrindo Outro Mundo? Não imagina o que está perdendo. Acesse: www.fecebook.com/jujudescobrindooutromundo.


E o site da Juju Descobrindo Outro Mundo, já o acessou? Se eu fosse você iria conferir imediatamente. Acesse: www.admiraveljuju.com.br 




Imagens: Internet.
Foto do poste ipê: Leandro Barcelos