sábado, 26 de março de 2016

Poemas do mestre Élio Graciano





Quando você lê poemas com a máxima do lirismo intrínseco e, nos dá a impressão de estar ouvindo a voz do interprete, suas inflexões e modulações há de se perceber tratar-se de um poeta completo. Considerando o que foi ressaltado, aliado ao valor das informações neles contidas; o seu estilo próprio de exaltar a essência do sentimento vibrante e irretocável da sua arte. Remete-nos ser fruto de uma mente brilhante, de um mestre. No caso dos poemas que irá contemplar, não está engando. Realmente são de um mestre, são do professor Élio Graciano.

O incrível é que ele tem várias e várias outras criações geniais, as quais dariam para a publicação não só de um livro, mas de outros tantos. Sua modéstia para nossa surpresa não o permite. Chega a ser incompreensivo para quem curte escrever e se sente extasiado quando se depara absorvendo a inspiração de um autêntico poeta, como é o caso do poeta e professor Élio Graciano. Para nós que escrevemos frases chulas, pobres, de meros aprendizes, ainda assim, as achamos lindas, perfeitas, chega a ser irônico, motivo de riso.

Não bastasse o seu talento, o qual merece notável atenção da comunidade literária, sua gentileza em nos atender foi esplêndida. Quando o procuramos para nos enviar algumas das suas criações, ele se prontificou sem hesitar. E, foi além, criou com exclusividade para o Bússola Literária essas preciosidades. As quais farão parte do nosso acervo de raridades.

A princípio a ideia seria publicá-los com o áudio/voz com a envolvente interpretação da poetisa e interprete portuguesa Mindinha Cadão. Como ela ainda não nos enviou sua locução, por motivos sobre os quais desconhecemos, continuaremos na expectativa. Vez que, você terá não só, a sorte de se alimentar com a erudição poética do mestre Élio Graciano, mas também o encanto de uma voz capaz de arrebatar emoções envolvidas num verdadeiro silêncio contemplativo.

O sentimental Élio Graciano, mesmo na sua habitual camisa de força da modéstia, acende o candeeiro da imaginação para iluminar as trevas do armagedon silvestre. E com, sua virtude poética, abre o coração para homenagear um autêntico pensador pantaneiro. Manoel de Barros (1916 – 2014), poeta mato-grossense que fincou sua bandeira em pleno pantanal, no qual com suas convicções lúdicas justiçou através da poesia o seu louvor em defesa do ecossistema pantaneiro, livrando-o da orfandade absoluta. Foi o porta-voz da natureza. Ressaltou com propriedade os valores e as quimeras dos seus habitantes naturais. Às vezes um mutante dentro do seu próprio convívio, combatendo com sua lucidez os descasos e as intempéries motivadas, não apenas, pelas oscilações climáticas, mas, sobretudo, pela aridez endêmica da sensibilidade humana. 

Eu me sinto pequeno, tão insignificante para comentar a criação poética do mestre Élio Graciano, que prefiro passar a batata quente pra você esfriá-la, através do seu comentário, a ter que encarar esse desafio.




Diálogo Continental


Os temores do Atlântico
enfim foram domados pela Lusitânia
coragem de desbravar horizontes.
A embarcação vendeu o monstro desconhecido.
De lá, então, a águia alçou voo acima do oceano.
Num braço de continente Pessoa beija Camões
e o vinho do porto apura um tempo de glória.
A última flor do Lácio, inculta e bela,
nas mãos de Drummond
cristalizou o chão da América.
Filhos de Com Sebastião chegaram
no encontro das águas.
O quadro se aperfeiçoa no mar salgado,
Lusíadas de flores na caravela de descobertas.
Nas curvas da história, Caminha ainda justifica
o encontro mercantil de Cabral:
Espelhos por ouro de Cecília Meireles,
Machado, Assis em Graciliano,
Amado por Lispector,
Guimarães e Fagundes Telles.
Os colares dos caciques multiplicaram em versos,
romances de encantar Saramago.
Repercutiram orvalho nas folhas de pau-brasil
no abraço de esperança do filho e do pai
em mares nunca dantes navegados.
Que mais troca?
Temos sabiás em Gonçalves Dias,
condoreiro de Castro Alves.
A paixão de Manuel Bandeira
pela pasárgada e a ponte de Cora Coralina
à frente de Dom Pedro:
Independência ou morte?
Tudo valeu a pena
porque a alma nunca foi pequena.




Transição


Um sopro vivo
na frieza do barro,
na sua face.
Eis a vida!
A vida no barro
vegetou a planta verde,
deu muitas rosas.
As deram asas à águia
e a águia acordou a palavra no homem.




Manchados de flor


O vento não levou nossas vestes
O vento não levou nosso amor
E os beijos finos que tu destes
Continuam manchados de flor.




Entre quatro paredes


Não costumo jogar no sol,
nem chamar o cão de meu vizinho
de cachorro.
Não costumo criticar o governo
nem visitar os amigos justos no domingo.
Cultivo outros hábitos inusitados.
Costumo me apegar a esse silêncio
que vem de você
assim meio sem jeito,
assim com jeito de me querer mansinho.
Entre quatro paredes
sou presa fácil de suas unhas
de tigresa apaixonada.
Consumido, sou seu
pela madrugada afora.




Salvo Pantanal
(Homenagem a Manoel de Barros)


Amarelaram as águas do Pantanal.
Mercúrio, Garças morta(lha) no lago,
Jacarerva do campo.
As peles deixaram o corpovo de tartarugas
na areia do rio.
Mas um joão de barros
Viajou no meu ombro.
Canoamos para o mar.
O mar armou arapuca de sonhos,
devolveu o Pantanal ao homem.
Você não viu?



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