O incrível é que ele tem várias
e várias outras criações geniais, as quais dariam para a publicação não só de um
livro, mas de outros tantos. Sua modéstia para nossa surpresa não o
permite. Chega a ser incompreensivo para quem curte escrever e se sente extasiado
quando se depara absorvendo a inspiração de um autêntico poeta, como é o caso do poeta e professor
Élio Graciano. Para nós que escrevemos frases chulas, pobres, de meros aprendizes, ainda
assim, as achamos lindas, perfeitas, chega a ser irônico, motivo de riso.
Não bastasse o seu talento, o
qual merece notável atenção da comunidade literária, sua gentileza em nos
atender foi esplêndida. Quando o procuramos para nos enviar algumas das
suas criações, ele se prontificou sem hesitar. E, foi além, criou com
exclusividade para o Bússola Literária essas preciosidades. As quais farão
parte do nosso acervo de raridades.
A princípio a ideia seria
publicá-los com o áudio/voz com a envolvente interpretação da poetisa e interprete
portuguesa Mindinha Cadão. Como ela ainda não nos enviou sua locução, por
motivos sobre os quais desconhecemos, continuaremos na expectativa. Vez que, você
terá não só, a sorte de se alimentar com a erudição poética do mestre Élio
Graciano, mas também o encanto de uma voz capaz de arrebatar emoções envolvidas num
verdadeiro silêncio contemplativo.
O sentimental Élio Graciano,
mesmo na sua habitual camisa de força da modéstia, acende o candeeiro da
imaginação para iluminar as trevas do armagedon silvestre. E com, sua virtude poética,
abre o coração para homenagear um autêntico pensador pantaneiro. Manoel de
Barros (1916 – 2014), poeta mato-grossense que fincou sua bandeira em pleno
pantanal, no qual com suas convicções lúdicas justiçou através da poesia o seu
louvor em defesa do ecossistema pantaneiro, livrando-o da orfandade absoluta. Foi o porta-voz da
natureza. Ressaltou com propriedade os valores e as quimeras dos seus habitantes naturais. Às vezes um mutante dentro do seu próprio convívio, combatendo com sua
lucidez os descasos e as intempéries motivadas, não apenas, pelas oscilações
climáticas, mas, sobretudo, pela aridez endêmica da sensibilidade humana.
Eu me sinto pequeno, tão
insignificante para comentar a criação poética do mestre Élio Graciano, que prefiro passar a batata
quente pra você esfriá-la, através do seu comentário, a ter que encarar esse desafio.
Diálogo Continental
Os
temores do Atlântico
enfim
foram domados pela Lusitânia
coragem
de desbravar horizontes.
A
embarcação vendeu o monstro desconhecido.
De
lá, então, a águia alçou voo acima do oceano.
Num
braço de continente Pessoa beija Camões
e
o vinho do porto apura um tempo de glória.
A
última flor do Lácio, inculta e bela,
nas
mãos de Drummond
cristalizou
o chão da América.
Filhos
de Com Sebastião chegaram
no
encontro das águas.
O
quadro se aperfeiçoa no mar salgado,
Lusíadas
de flores na caravela de descobertas.
Nas
curvas da história, Caminha ainda justifica
o
encontro mercantil de Cabral:
Espelhos
por ouro de Cecília Meireles,
Machado,
Assis em Graciliano,
Amado
por Lispector,
Guimarães
e Fagundes Telles.
Os
colares dos caciques multiplicaram em versos,
romances
de encantar Saramago.
Repercutiram
orvalho nas folhas de pau-brasil
no
abraço de esperança do filho e do pai
em
mares nunca dantes navegados.
Que
mais troca?
Temos
sabiás em Gonçalves Dias,
condoreiro
de Castro Alves.
A
paixão de Manuel Bandeira
pela
pasárgada e a ponte de Cora Coralina
à
frente de Dom Pedro:
Independência
ou morte?
Tudo
valeu a pena
Transição
Um
sopro vivo
na
frieza do barro,
na
sua face.
Eis
a vida!
A
vida no barro
vegetou
a planta verde,
deu
muitas rosas.
As
deram asas à águia
Manchados
de flor
O
vento não levou nossas vestes
O
vento não levou nosso amor
E
os beijos finos que tu destes
Entre
quatro paredes
Não
costumo jogar no sol,
nem
chamar o cão de meu vizinho
de
cachorro.
Não
costumo criticar o governo
nem
visitar os amigos justos no domingo.
Cultivo
outros hábitos inusitados.
Costumo
me apegar a esse silêncio
que
vem de você
assim
meio sem jeito,
assim
com jeito de me querer mansinho.
Entre
quatro paredes
sou
presa fácil de suas unhas
de
tigresa apaixonada.
Consumido,
sou seu
Salvo
Pantanal
(Homenagem
a Manoel de Barros)
Amarelaram
as águas do Pantanal.
Mercúrio,
Garças morta(lha) no lago,
Jacarerva
do campo.
As
peles deixaram o corpovo de tartarugas
na
areia do rio.
Mas
um joão de barros
Viajou
no meu ombro.
Canoamos
para o mar.
O
mar armou arapuca de sonhos,
devolveu
o Pantanal ao homem.
Você
não viu?
Imagens: Internet