Seria uma tremenda
hipocrisia dizer que li a obra completa de Leon Tolstói, Guerra e Paz. Li sim,
textos resumos, comentários diversos, opiniões questionáveis e uma longa
entrevista com o escritor e tradutor Rubens Figueiredo, concedida por telefone, para Zelmar Guiotto, de Montpellier, France, em 17 de dezembro de 2011. Na qual,
Figueiredo conta detalhes curiosos de sua dedicada atenção, como tradutor
de Guerra e Paz, durante os 3 anos que levou para concluí-la. Explica de maneira
simples, transmitindo invejável modéstia o seu lado profissional de escritor e
tradutor. Traduzir Tolstói foi sua mais recente empreitada, para a editora Cosac
Naify.
Quem tem o costume de
ler clássicos de autores estrangeiros, certamente sabe, quando uma obra passa
pelo olhar atento de Rubens Figueiredo, não se questiona qualidade de tradução
e nem talento literário. É respeitado pelos vários trabalhos como tradutor de
autores imortalizados por suas obras igualmente valorosas, tanto do inglês para
o português, como do russo, idioma que domina desde a juventude.
Outro motivo que me inclinou
a publicar sobre Guerra e Paz, é o seu valor histórico literário, notadamente
pela relação entre o ambiente pitoresco da narrativa sobre as guerras
napoleônicas do início do século XIX, com a ficção romanesca do autor e o
comportamento literal volúvel e instável, dos seus personagens.
No entanto, torna-me
impossível negar, que o texto escrito por Luiz Rebinski Junior, Ilíada de
Tolstói, que você poderá conferir logo abaixo desta minha pretensiosa
participação. Além é claro, da entrevista que também, está disponível com um simples
clique aqui, sejam a constatação de que, tenho razão de não querer me silenciar
diante desta oportunidade. Da mesma forma, poder premiar o leitor do Bússola Literária,
a conhecer estas duas concepções interpretativas de Leon Tolstói e sua extraordinária Guerra e
Paz.
Entretanto, o que se
pode constatar, é que, a narrativa de Tolstói, em Guerra e Paz, é recheada de
conflitos pessoais entre os personagens. E, a guerra tão mencionada, entre
franceses e russos, aparece como um simbólico pano de fundo, para justificar as
atitudes de conquistas e ambições individuais, envolvendo interesses comuns da
sociedade da época, sejam eles amorosos ou financeiros. E, o despreparo das
tropas do Czar Alexandre I, para encarar a realidade ineficiente do seu
exército, contra um inimigo acostumado a grandes lutas; preparado para
enfrentar situações políticas e militares de forma profissional, sem qualquer
rigor de escrúpulos.
Seria como se
reparássemos as duas faces de uma moeda, num jogo de cara ou coroa. De um lado
aparece a participação definitiva e providencial do proletariado, em especial a
população campesina, responsável pelo trabalho duro nas suas pequenas
propriedades, garantindo a produção de alimentos que os sustentariam, e ainda,
ajudar a classe dominante, constituída de nobre e abastadas famílias de
empresários, com os seus víveres.
Do outro lado, a
necessidade – mesmo sob forte lamento –, desses menos afortunados, abdicar-se
de suas plantações e, pagar a duras penas com os seus ideais patrióticos, destruindo
seus celeiros de alimentos, abatendo os seus animais domésticos, participando
diretamente dos combates e, por fim, promovendo o caos pela falta de suprimentos
alimentares, com os quais, manteriam o exército inimigo no seu pleno vigor
físico.
Destituídos desses
proventos os franceses, são obrigados a se retirarem, tendo pela frente, um
torrencial chuvoso atípico do outono russo, que impede o exército de Napoleão
seguir seu curso de retirada, obrigando-o a retroceder, quando é obrigado e
enfrentar a implacável superioridade de combate russa.
Outro infortúnio também
se fez presente. Além das elevadas baixas inimigas e o número alto de soldados presos de guerra, o exército inimigo, ainda teve que encarar o rigoroso inverno, com baixíssimas
temperaturas, provocando uma sensação desesperadora: enfrentar o frio que
cortava feito navalha, a falta de agasalhos, de alimentos e submeter-se a impiedosas doenças.
A Ilíada de Tolstói
Por Luiz Rebinski
Junior
Em se tratando de Leon
Tolstói, tudo parece ser superlativo. E isso vai muito além da extensão dos
romances que o autor russo escreveu ao longo dos seus 82 anos. A isto se
inclui, é claro, seu mais célebre livro, “Guerra de Paz”, que discute uma gama
imensa de assuntos, não apenas relacionados à Rússia do século XIX, mas de
grande parte da Europa. É uma obra monumental em todos os aspectos, inclusive
no que se refere ao seu percurso editorial.
A grosso modo, o livro
trata do confronto das forças do czar russo Alexandre I com os exércitos
napoleônicos em um período que vai, aproximadamente, de 1805 a 1820. Para além
das batalhas, Toltói apresenta um amplo painel da vida russa do início do
século XIX, construído a partir de uma galeria imensa de personagens, de todas
as classes sociais. Além disso, ao tratar de fatos históricos, o autor
inevitavelmente constrói sua ficção baseado em figuras públicas de seu tempo,
com especial destaque para Napoleão Bonaparte, a personalidade mais controversa
da época.
Quando começou a
escrever “Guerra e Paz”, Tosltói já era um escritor conhecido e homem maduro.
Havia entrado nos cursos de direito e letras orientais na Universidade de
Kazan, servido na guarnição do Cáucaso – onde escreveu o livro “Infância” –,
além de ter participado da Guerra da Crimeia.
Publicado inicialmente
em fascículos na revista Mensageiro Russo. O título do livro, Guerra e Paz,
primeiramente se chamou 1805, em uma referência ao período em que se inicia a
narrativa. “Mas o livro se tornou muito mais abrangente do que o autor havia
previsto e o título 1805 se revelou inevitavelmente redutor”, diz Rubens
Figueiredo, tradutor da mais recente edição brasileira do romance, com 2.500
páginas, distribuídas em dois volumes. O título que ficaria mundialmente famoso
teria sido inspirado em um livro do anarquista francês Pierre Proudhon, “La
guerre ET La pax.”
Persuadido pela mulher
Sofia, Tolstói resolveu interromper a publicação em forma de folhetim na
revista mensal e a começar a publicá-lo, volume por volume, em formato de
livro. “Além do mais, diferentemente de outros textos de autores russos
igualmente publicados em forma de folhetim, Guerra e Paz não se adaptava bem a
uma publicação em série. Seu alcance era muito grandioso. Não havia nenhum
“gancho” no fim de cada fascículo que induzisse o leitor a comprar o próximo
número para ver como as coisas se desenvolviam”, escreve William L. Shirer, em
Amor e Ódio, que narra a relação entre Tolstói e a mulher Sofia.
Copidesque
– A mulher de Tolstói também teria um papel fundamental em tarefas mais
prosaicas, como passar a limpo o que o marido produzia diariamente. Ao que tudo
indica, ninguém mais em Iasnaia Poliana, a propriedade rural onde o escritor se
isolou para escrever sua obra, conseguia decifrar a caligrafia de Tolstói.
Segundo biógrafo
William L. Shirer, Sofia havia copiado o romance sete vezes. O tamanho da obra
também representou um problema para o editor de Tolstói, P. I. Barteniev. “Só
Deus sabe o que o senhor está fazendo”, escreveu o editor. “Se continuar assim,
vamos recompor e corrigir eternamente. Qualquer um pode lhe dizer que metade
das mudanças que o senhor faz são desnecessárias. No entanto, elas causam uma
diferença apreciável nos custos da composição tipográfica. Eu pedi ao tipógrafo
que lhe mande uma conta separada, só das correções. Pelo amor de Deus, pare de
rabiscar.”
Escrito ao longo de
cinco anos, a partir de 1865, Guerra e Paz, foi lançado em 1869, em seis
volumes. O próprio Tolstói adiantou 4.500 rublos ao tipógrafo. Como se
revelaria mais tarde, a primeira edição do livro, cujos seis volumes eram
vendidos por oito rublos, traria ao autor uma pequena fortuna.
Tornando-se
um clássico – A repercussão do livro foi imediata.
A literatura russa do século XIX
estava entranhada na sociedade e os livros eram recebidos sempre com muita
polêmica. “Os leitores pertenciam, sobretudo, à classe alta. Mas naquela altura
a sociedade russa se transformava de maneira rápida e profunda. Uma camada
numerosa da população, oriunda de famílias de comerciantes e de funcionários de
baixo e médio escalão, começava a ter acesso à educação”, diz Figueiredo.
Diferente do padrão
“europeu” de romance da época, Guerra e Paz, mesclava relatos da história
recente da Rússia a uma base ficcional bastante engenhosa, que dava conta de
centenas de personagens. A própria mulher de Tolstói antevia que o trabalho do
marido continha grande singularidade. “Em minha opinião, o romance Guerra e
Paz, será algo extremamente fora do usual”, escreve Sofia à irmã em 1867,
enquanto corrigia os originais do marido.
O próprio Tolstói se
negava a qualificar o livro, dizendo que não se tratava “nem de um romance, nem
de poema, nem sequer de crônica histórica”. E comparou, sem falsa modéstia, seu
trabalho a Ilíada, de Homero.
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