As gerações dos anos 50 ou décadas
anteriores, um tempo não muito distante, hoje pode ser considerada careta, antiquada,
ultrapassada, aos olhos dos jovens antenados do momento. Mas andam de cabeça
erguida conservando os princípios que a sociedade da época os mantinha com
orgulho. Princípios estes, considerados relíquias memoráveis que não merecem
ser apagadas. Uma descendência que privilegiava o caráter sem mácula, coeso e
sustentado por ensinamentos alicerçados na boa conduta dos seus antepassados.
É essa geração que tenta de forma incansável
colocar no ápice dos trilhos, o futuro de um nome, de uma identidade, de um
poder irrestrito de cultivar a luminosidade de um passado nobre.
Na verdade, nem todas as personagens dessa
época ficaram no obscuro, no ostracismo. Sendo autênticos remanescentes de um
tempo onde a felicidade simples e contemplativa imperava. Distante da
tecnologia dos modelos contemporâneos, mas, com maestria, exerciam a arte da
criatividade ao confeccionar de forma artesanal os seus próprios brinquedos.
Não dispunha de vídeo games, micro computador,
internet, tevê em cores, a cabo, MP3, MP4, iPad, tablet e um monte de recursos
eletrônicos já profetizados por Marshall MacLuhan na sua obra "Guerra e
Paz na Aldeia Global (1968)", e que as crianças de hoje já os conhecem desde o parto. Um fato
tão real quanto aos modernos equipamentos cirúrgicos e preventivos hoje
disponíveis.
Até os anos 70/80, as músicas continham além de melodias
saborosas ao deleite dos ouvidos, letras construtivas, elegantes, mensagens singelas e graciosas. Os recursos fonográficos estavam longe do
alcance do século XXI, mas com orgulho os sobreviventes desse período se envaidece tê–lo vivido.
As crianças cultivavam a inocência. Acreditava em Papai Noel, fadas, anjos,
cegonha, amizades autênticas e, sobretudo em Deus.
As crianças tinham dons inventivos e criativos.
Brincava–se de carrinhos, às vezes construídos por eles próprios; bolinha de
gude, pião, cabo de guerra, arremessar finca, papagaio, pique esconde, cabra
cega, a sua direita está vaga, salve cadeia e muitas outras brincadeiras.
As garotas divertiam–se com bonecas simples – sem os atuais recursos de voz – às vezes de pano, casinha, cozinhadinho, entre
outras diversões com a participação dos garotos. Poderia nesta explanação,
muito bem omitir essa relação de atividades compartilhadas, também não seria justo serem ofuscadas. A galerinha
atual, talvez não as conheça, por isto estão aí modestamente mencionadas.
Era uma infância que não precisava de academia.
Gastava–se muita energia com atividades inocentes e virtuosas. Estudava–se muito...
Era uma determinação dos pais, baseada no princípio de que, quando crescessem
haveriam de gozar uma vida melhor e mais abundante. Sem quem sabe, ter que
enfrentar as dificuldades ocorridas com os seus genitores na labuta diária,
mesmo existindo boa vontade e determinação.
Esse era o argumento utilizado como forma de
incentivo, na vanguarda de encarar o futuro com alicerce estruturado, diante
das intempéries do cotidiano.
O respeito, não se traduzia em medo, mas em
obediência, em princípios. Pedir benção, não significava uma obrigação, mas uma
forma dos pais privilegiarem sua cria com uma dádiva vinda dos céus. E tomar
banho, escovar os dentes, não era uma provocação, mas um cuidado indispensável
à higiene.
E hoje, mudou-se muito? Nem tudo. As
brincadeiras de outrora não fazem mais sentido para quem nos seus primeiros
movimentos já utilizam carrinhos para locomoção. No entanto, a tecnologia e a
consequente atitude fria dos objetos modernos, deteriorou o lúdico que minava
na pele queimada pelo sol. E no coração radiante por novas descobertas.
Êhhhhh... Saudade!
O suor que escorria pelo corpo, depois de uma
tarde inesquecível desencadeada por uma eletrizante partida de futebol – as
peladas –, pelas ruas nuas e cheias de pedras das cidades sem o asfalto, ou nos campos
improvisados sem gramados espetaculares, mas de chão duro e seco. No coração
dessa garotada, reinava a inocência, a ausência da maldade declarada, existia o
perdão e o esquecimento.
Chegou à hora de tocar a bola pra frente. Ir
de encontro à bola da vez, em sintonia com o que há de mais avançado no mundo
cibernético. Atingir a máxima capitulação da fronteira entre a infância e a
vida adulta.
Antes se chegou à lua. Nos dias de hoje, o universo
ficou relativamente pequeno, tornando–se possível e fácil, transferir–se das
histórias de ficção à realidade plenamente tocável.
Enquanto uns viviam no condicionado paradigma do
convencionalismo da época, hoje as preocupações giram em torno do visual, da
estética.
É normal encontrar crianças com menos de cinco anos,
frequentando salões de beleza, usando maquiagem, cabelos adornados, unhas
pintadas, óculos escuro, sapatos de saltos altos, roupas espelhadas nos
artistas da tevê, do cinema, ou na própria mãe. Vitrine dinâmica na profusão
contínua das criações e inventos do mundo globalizado.
Para os meninos de hoje, os brinquedos eletro/eletrônicos
não são duráveis, as inovações estão em mutação contínua e sem aviso prévio. E, na
natureza humana as ansiedades aumentaram, antecipando de forma prematura de uma
fase lírica, inesgotável de generosidade e irresponsabilidade, para uma fase
adulta totalmente responsável – pelo menos é o que se pressupõe – com total
aquiescência dos pais, da família.
Essa atitude negligente e despropositada tornou–se
alvo fácil à propagação e revelação dos casos escabrosos de comportamento, de pedofilia, sedução,
corrupção, aliciamento, gangues, sequestro, tráfico. Enfim, crimes de todos os
matizes contra a criança.
Comprovando sem rodeios, que a inocência já foi
ultrajada, pelo menos há muito tempo. E a sociedade com os olhos vendados, na
sua condição torpe e inadequada, continua os impedindo da contemplação do
horizonte infinito. Com a prática responsável dos ensinamentos Divino.
Sabe–se também, que com todo o advento da
modernidade, as crianças de hoje, encontram–se mais vulneráveis. Os casos de
internações aumentaram, a ciência evoluiu, enquanto as doenças misteriosas se
intensificaram. As infecções hospitalares prosperaram, o famigerado fantasma da
fome e da sede mostrou a sua cara.
Na África e em outros lugares do planeta menos
assistidos, a Aids com sua foice impiedosa não tem poupado o seu golpe fatal. Se
procurar nas anotações dos hospitais, clínicas e postos de saúde, vai-se encontrar doenças que nem os pesquisadores mais notáveis de algum tempo atrás, imaginariam
que um dia viessem a existir.
Não há dados comprovados de que no passado os
casos graves do presente também se manifestavam com tanto rigor, apenas uma
certeza indiscutível se verifica refletida no incondicional mapa da
sobrevivência. Antes a imunidade infantil gozava de mais prestígio. Não se via
com tanta incidência as intoxicações causadas por alimentos contaminados.
As produções agrícolas não sofriam com o excesso
de instrumentos e métodos de controle de pragas, como agrotóxicos poderosos,
aplicados de maneira irresponsável pelos produtores em detrimento de lucros fáceis. O cultivo de frutas e legumes era natural, quase que totalmente
feito de maneira simples, orgânica, mas de grande eficiência nutritiva.
Por que se tornou necessário a utilização de
inúmeras vacinas preventivas? Ter que deixar a marca – teste do pezinho – do pé
do recém nascido gravada como forma de detectar males oportunistas, endêmicos e
contagiosos? Se antes, com um simples chazinho caseiro, ou uma simples imposição
de fé – crendices – por meio das benzições, praticadas geralmente pelas pessoas
mais idosas – tradição herdada de várias gerações. Propiciava o bem estar tão
desejado, preservando a saúde em toda sua plenitude?
Será que a ignorância tinha lá o seu valor? Ou
será a ignorância a consequência de tantos acontecimentos positivos? Será que
foi essa mesma modernidade através dos meios de comunicação que veio trazer à
tona as evidências do real, revelando esses males à nitidez dos acontecimentos
tão cruéis?
Todas estas perguntas bailam impunes nos lares
de nossa comunidade assistida ou não, porém sedenta de proteção, sedenta do
olhar dos céus.
A perpetuação da inocência não é mais um
predicado só das crianças. Os adultos já fabulam essa virtude, mesmo de forma
abstrata, mas com o inconsciente em pleno exercício de sua nobreza infantil.
Fernando Pessoa, através de fragmento do seu
poema Girassol é quem dará o golpe de misericórdia para esse relato de
reflexão. "...Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...// Se falo na
natureza não é porque a amo, amo-a por isso, // Porque quem ama nunca sabe por
que ama, nem o que é amar...// Amar é a eterna inocência// E a única inocência
é não pensar."
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