Estou publicando este texto
(comentário) – de Peter Moon para a revista Época, de 1º de junho de 2009,
páginas 118/119 – mais pela qualidade do seu conteúdo, o qual achei
extraordinário. Baseando-se na mesma opção de leitura, recomendo que leia a
biografia de Richard Dawkins, e seus inúmeros trabalhos, focando na maioria, os
seus conceitos sobre a “cadeia evolutiva das espécies”, tomando como influência
“A origem das espécies” de Darwin.
Infelizmente ainda não li o livro
em discussão: A Grande História da
Evolução – Na Trilha dos Nossos
Ancestrais, de Dawkins, mas farei o que for possível para lê-lo. Espero que você
ao ler esta publicação, possa absorver cada detalhe, e te sirva como mecanismo
pragmático de reflexão do tema: a origem das espécies, e o pensamento dos
grandes estudiosos e suas crenças, com é o caso de Dawkins, ateu convicto,
porém fiel aos seus conceitos sobre a biologia e o fecundo mundo em que
vivemos, desde bilhões de anos.
O passeio de 3 bilhões de anos
Dois erros frequentes ocorrem
quando o assunto é o mecanismo de seleção natural, a teoria formulada por
Charles Darwin há 150 anos. O primeiro decorre do uso indevido da palavra
evolução para definir o processo pelo qual as espécies se adaptam às alterações
do meio ambiente – e sobrevivem – ou não se adaptam e desaparecem. O termo
evolução não aparece em nenhuma página das seis edições corrigidas em vida por
Darwin de A origem das espécies. Ele
jamais escreveu tal palavra. O termo usado por Darwin foi adaptação. O segundo
erro deriva do primeiro. A palavra evolução carrega consigo a ideia de
progresso. Assim, a “marcha de evolução” seria uma forma de qualificar os seres
vivos, classificando-os em uma corrente biológica que ascende irresistivelmente
desde priscas eras até atingir seu ápice.
Sem modéstia, boa parte do Homo
sapiens – e a quase totalidade dos religiosos – se enxerga ocupando o cume
deste monte improvável, o topo da cadeia evolutiva. Mas, do ponto de vista
biológico, sobreviver não significa melhorar. É nessa tecla que bate
insistentemente o grande biólogo evolutivo inglês Richard Dawkins, de 68 anos,
ao longo de seu surpreendente e enciclopédico A Grande História da Evolução – Na Trilha dos Nossos Ancestrais (Companhia
das Letras, 760 páginas).
Nossos ancestrais não foram sorteados
para transpor os obstáculos da escalada “evolutiva”, até abrir uma vantagem
inalcançável em relação ao resto do bioma terrestre. Essa visão da história da
vida centrada no umbigo humano não é científica. Resulta de uma angústia
intolerável, para não dizer irracional, em aceitar o fato de que não somos
predestinados a dominar o planeta – a “falsa medida do homem”, como dizia o
paleontólogo americano Stephen Jay Gould (1941 – 2002). O homem é um macaco nu,
bípede, que pensa, fala e vive na Terra há apenas 200 mil anos.
Ateu panfletário, Dawkins alcançou
fama em 1976, ao publicar O gene egoísta.
Professor aposentado da cadeira de Divulgação Científica da Universidade de
Oxford, Dawkins é um defensor ferrenho da imparcialidade absoluta – ou seria
absolutista? – dos genes. Aos genes só interessa sobreviver para ser
transmitidos de uma geração a outra. Os seres vivos seriam um mero meio de
transporte. A visão de Dawkins parece ser muito determinista. E é mesmo! Porém,
é essencialmente correta. Sem ela de que outra forma poderia se entender por
que os genomas do homem e do camundongo compartilham 80% de seus genes, apesar
de o ancestral comum das duas espécies ter vivido há 60 milhões de anos
Em seu livro, publicado
originalmente em 2004 sob o título The
ancestor’s tale – A pilgrimage to the
dawn of life (O conto do ancestral – Uma peregrinação à aurora da vida),
Dawkins encontrou uma forma de mostrar as semelhanças que guardamos com todos
os seres vivos. Ele compôs um painel retroativo da história da vida. Começa no
homem e vai passando por nossos principais ancestrais, até chegar ao ancestral
universal comum (que fica na base da árvore da vida imaginada por Dawkins).
Se a medida do sucesso de uma
espécie é a duração de sua sobrevivência, elefantes e paquidermes diversos são
mais “evoluídos” que nós, pois vêm se adaptando ao planeta nos últimos 20
milhões de anos. Já avestruzes africanos, emas sul-americanas e emus
australianos habitam continentes distantes. Mas pouco mudaram desde que seu
ancestral comum habitou o antigo supercontinente de Gondwana, há 100 milhões de
anos. Pela mesma época as regiões tropicais eram povoadas por crocodilos, como
hoje. Os dinossauros, seus contemporâneos, se extinguiram, enquanto os jacarés
persistem.
Recuando um pouco mais no passado,
até um tempo anterior aos dinossauros, há mais de 300 milhões de anos, havia um
único continente: Pangea. Ele era coberto por florestas. Não havia flores (elas
surgiriam muito depois). As maiores árvores eram araucárias e samambaias. Sim,
samambaias com dezenas de metros de altura. Em sua volta, pairavam libélulas –
com asas de 2 metros de envergadura. Araucárias, samambaias e libélulas ainda
existem. Araucárias continuam frondosas. Samambaias e libélulas reduziram de
tamanhos. Só isso.
Há 400 milhões de anos, os continentes
eram mortos. Vida só havia nos mares, onde reinavam os tubarões, máquinas
biológicas de matar cujo projeto é tão perfeito que resiste inalterado. Antes
dos tubarões, o domínio dos oceanos era das águas-vivas. Antes delas, era das
algas, surgidas há 2,5 bilhões de anos. As formas de vida mais antigas são as
bactérias. Têm mais de 3 bilhões de anos. Talvez a única vantagem dos seres
humanos sobre as bactérias seja mais um trunfo de Dawkins: não se sabe de uma
bactéria que tenha escrito uma história tão fascinante.
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Imagem: Google Image
2 comentários:
Nossa!!!
Excelente publicação, é incrivelmente maravilhoso abrir as gavetas dessa estante.
Quão bom é através da leitura poder voltar no tempo, quando ainda não existíamos, e nos deparar com toda essa magnifica e esplendida revelação.
Parabéns Dilson, o B.L. sempre enfeitando nossa imaginação e, enriquecendo nosso conhecimento. Amei.
Bjus
Estimada Juloren, obrigado pela visita e o seu simpático comentário. Também gostei muito deste texto. Peter Moon, soube mesmo colocar as informações de uma forma muito clara e inteligente.
Abç. fraterno
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