domingo, 27 de dezembro de 2009

Ambição, o destino de uma raridade - 4ª Parte.
















Na parte anterior, Gustave Berthelot começa a alinhavar suas suspeitas e encontra na elegante Sthéfhanie Marret a possibilidade de uma parceria refinada e inteligente. Um robusto elo investigativo está se formando.



Antes mesmo do almoço dirigiu-se a Embaixada Árabe para se encontrar com Sthéfhanie Marret, alguma coisa lhe dizia que ela não estava no Louvre por curiosidade artística. Suas observações quanto aos detalhes do vaso iam além de uma simples visitante esporádica em busca de cultura milenar e obras de arte. Com cautela talvez conseguisse alguma evidência favorável, quem sabe até um entrosamento aproveitando suas experiências internacionais. E assim, o fez.

- Senhorita Sthéfhanie espero não estar tomando o seu tempo, mas poderíamos conversar? – Foi logo propondo um diálogo.

- Sim, claro! Está no meu horário de almoço, mas podemos conversar sem problemas. – Disse a elegante espiã.

- Pois bem, eu também ainda não almocei, que tal fazermos isto em algum restaurante aqui mesmo por perto? – Convidou Gustave.

- Claro, será um prazer! – Concordou Sthéfhanie.

No restaurante sem muitos rodeios Gustave Berthelot conhecendo o passado, o presente e as habilidades da moça, supondo de que ela havia feito o mesmo em relação a ele, facilitou a conversa revelando em parte sua atividade no Museu do Louvre no dia em que a conheceu.

- Senhorita é do meu conhecimento que o seu amigo Sheik Al-Kalihah é amigo do senhor Pierre François e que também é um importante colecionador de artes antigas. Pode-me dizer como sendo sua informante, quais as recomendações dadas por ele enquanto visitava a exposição? – Perguntou de chofre Gustave, evitando qualquer dissimulação que viesse atrapalhar seus propósitos.

- Sim, senhor Gustave. Ele me recomendou discrição e que estava temeroso que o vaso em exposição não seria o legítimo. Fazendo-me atentar para alguns detalhes que me ajudariam a entender e documentar as informações detectadas. Olhar com atenção o desenho das pedras da alça esquerda do vaso. Segundo ele haveria três sequências ao inverso da alça direita. A primeira que os rubis formariam um elo de duas alianças entrelaçadas e amarradas por esmeraldas; a segunda, os diamantes formariam um colar discretamente desenhado; e a terceira, as alianças seriam o pingente. – Esclareceu Sthéfhanie convicta de que suas informações não iriam comprometer o seu trabalho e depois causar certo impacto à percepção do experiente espião.

Continuou Sthéfhanie: - Sr. Gustave sei das suas atividades como espião frances de muitos anos. Sei também que o senhor não é nenhum jornalista e que está cumprindo uma função que não é muito diferente da minha, portanto, acho que deveríamos trabalhar juntos pela mesma causa. O interesse do Sheik não é pela obra em si, mas, proteger o patrimônio do amigo, que como ele, não gostaria de ver um objeto seu sendo subtraído de forma tão mesquinha e condenável. E por fim, prendendo os ladrões chegaremos ao receptador que também é um perigo para qualquer colecionador honesto. – Sintetizou a jovem espiã sem embaraço.

Gustave impressionou-se com a clareza dos detalhes que nem ele mesmo sabia, visto que, foi contratado para descobrir, prender os ladrões e desarticular a suposta rede de contrabandistas de artes, não lhe sendo adiantado qualquer detalhe que identificasse a obra em questão. Feliz com o que lhe foi dado de bandeja, através das informações adicionais presenteadas pela talentosa e atraente espiã, resolveram trabalhar em parceria dividindo entre eles o que sabiam até ali, inclusive dos possíveis suspeitos.

Uma vez acertado a parceria Gustave não perdeu a oportunidade de se informar até onde Sthéfhanie havia progredido nas suas investigações.

- E quanto a Olivier Maillard, o piloto do helicóptero, você esteve com ele não?

- Sim, claro! E você presenciou nosso encontro no Café Sort. Notei sua presença e sua preocupação. – Disse a moça segura de si.

- Olivier Maillard é um tipo de fantoche para Jean-Mari o genro do senhor Pierre François. Não acredito a principio que tenha alguma participação efetiva no roubo. Pelo que pude notar, a menos que esconde com muita naturalidade seu envolvimento, nesse caso temos que admitir, seria um ator muito talentoso. – Completou Sthéfhanie.

- Ele entrou de féria no seu serviço hoje, com viagem marcada para Nice onde irá aproveitar o seu período de descanso. Não acha uma coincidência? – Questionou Gustave.

- Eu entendo como uma casualidade, inclusive ele se mostrou certo constrangimento com o presente das acomodações em um amplo apartamento onde com a família pudessem se acomodar, oferecido pelo senhor Jean-Mari. – Expôs seu ponto de vista a jovem espiã.

- Quer dizer que você não vê envolvimento nesta viagem, mesmo tendo o Mar Mediterrâneo como rota de fuga para a peça? – Interessou-se o experiente Gustave.

- Pode até ser, mas, como disse acho improvável, a não ser que ele esteja sendo um burro de carga involuntário conduzindo a encomenda que até aquele momento do nosso encontro não tinha conhecimento de qualquer envolvimento. Sua simplicidade de expressão denota certa inocência, vê-se que não se trata de uma pessoa acostumada a falcatruas, ao ilícito. – Esclareceu Sthéfhanie.

- Não acha conveniente uma verificação? – Questionou Gustave.

- Tanto acho que já estou com viagem marcada para logo mais à noite com destino àquela cidade. – Disse a moça.

- E o que você pretende com isto? Tem algum plano em mente? – Voltou a perguntar Gustave.

- Plano nenhum de imediato até ver como será o andar da carruagem. Os acontecimentos se desdobram e a cada desdobramento uma ação pertinente, concorda? Portanto de imediato, só pretendo acompanhar de perto seus passos, e, não será por muito tempo. Qualquer vacilo de sua parte estarei ao lado discretamente fazendo o meu trabalho. Se realmente ele tiver essa missão, sua participação será de imediato comprovada e alguém o estará esperando quem sabe até no próprio aeroporto de Nice. Ele parte amanhã, como já disse, eu faço isto hoje, portanto, estarei lá antes dele. – Arrematou Sthéfhanie.

- O hotel em que estarei hospedada fica a poucos metros de onde ele ficará com a família, para não comprometer a casualidade do nosso possível encontro, que não tenho dúvidas irá acontecer. – Esclareceu mais uma vez a espiã.

- Melhor assim. Enquanto você verifica por lá, estarei dando prosseguimento por aqui, e na medida em que for descobrindo novidades vou lhe informando. – Disse Gustave confiante nos resultados da parceria, mesmo porque adquiriu certa confiança na colega e o seu charme contagiante facilitaria em muito as perspectivas e os resultados de serem coroados com os louros merecidos.

- Como disse se houver qualquer envolvimento, os esclarecimentos deverão acontecer de um dia para o outro. Quem quer que seja não irá perder tempo. Os envolvidos estão com a faca nos dentes, e sabem que a identificação da peça quanto a sua originalidade só não foi divulgada por questões de estratégia. É notório que aqueles que freqüentam a mostra não se tratam apenas de leigos, há entre os visitantes exímios conhecedores e estudiosos de raridades antigas, que podem detectar sem muita dificuldade as falhas. Depois existem milhões de euros envolvidos que também podem muito bem ajudar a abafar o assunto. E o Museu mantém a questão sob sigilo para não comprometer o êxito da exposição. Contudo, é evidente que toda a comunidade especializada em obras de artes já deve estar sabendo e também se envolvendo na elucidação do caso. Os colecionadores honestos são unidos, coesos contra este tipo de acontecimento. Afinal, qualquer um pode ser a vítima do dia seguinte. E os seus patrimônios são valiosíssimos. Então eles fecham questão contra os falsificadores, contrabandista e receptadores inescrupulosos, bandidos. Você tem como exemplo o Sheik Al-Kalihah, ele não se envolveu por amizade simplesmente, certamente já foi alvo e vítima destes bandidos ou de outros semelhantes, e agora quer entrar na briga, somente assim, estaria somando a outras forças e constituindo um exército da salvação das artes, concorda? – Disse confiante Sthéfhanie.

- Eu concordo, porém em todo caso a astúcia será a nossa carta coringa que devemos ter na manga e a chave para o bom êxito na conclusão do nosso trabalho. – Advertiu Gustave.

- Não tenha dúvida! Devo esclarecer que esta não será a minha primeira experiência, pode ter certeza. – Respondeu com certa irritação, embora sorrindo a experiente espiã.

- E quanto ao senhor, o que tem para me adiantar? – Ironizou Sthéfhanie.

- Gustave Berthelot, convicto da sua obrigação como parceiro, fez toda uma resenha de suas descobertas e dúvidas, deixando claro sua quase certeza de que foi através de uma micro câmera de filmagem, acoplada em outro óculos similar ao usado por Pierre François o responsável pelas informações secretas da senha do cofre das artes. E só foi possível através da troca dos óculos em um momento muito raro. E como isto foi possível? Teria que ser por intermédio de alguém que estivesse bem próximo e conhecesse os hábitos do senhor Pierre, já que ele não deixa de usá-los em hipótese alguma, salvo quando vai dormir ou tomar banho, eu acredito. No que concordou Sthéfhanie, deixando claro que tal ardil já havia passado por sua cabeça, conjecturando o mesmo artifício. Só que ela se interessou mais em interceptar a retirada do vaso do território frances, prender os ladrões, revelar e eliminar de circulação os mentores.

O almoço transcorreu-se cordial e bem proveitoso. Acertou-se que cada um se encarregaria de uma parte nas investigações. Despediram-se deixando os acontecimentos progredirem-se naturalmente.

Confiante de que havia agido corretamente, assim que se despediram Gustave continuou com o seu cronograma programado para aquele dia sem alteração. Procurou por indicação do amigo e parceiro de profissão Philippi Boulet um conceituado designer gráfico com ateliê instalado no centro da Cidade Luz. Após alguns minutos de conversa entregou-lhe uma foto do senhor Pierre François fotografado em close para ser trabalhada a armação dos óculos em 3D.

Enquanto acertava os detalhes de sua curiosidade quanto à melhor avaliação das imagens dos óculos de Pierre François, Gustave lembrou-se que havia outra foto recente, arquivada no seu arquivo eletrônico, disponível na sua maleta que se encontrava no banco traseiro do seu carro, estacionado a poucos metros de onde estavam. Chamou o auxiliar do designer entregou-lhe as chaves e solicitou o obséquio de lhe trazer os seus pertences explicando onde encontrá-los. Em menos de vinte minutos após a saída do rapaz, ouviu-se uma grande explosão. Mesmo achando estranho o barulho, continuaram indiferentes, tratando dos seus negócios. Como o moço demorava regressar com os objetos, resolveram certificar-se dos motivos. Ao chegar à rua perceberam a movimentação nas proximidades do estacionamento onde estaria o automóvel. Constataram que a explosão havia detonado o veículo e o rapaz que se encontrava no seu interior. Não foi difícil concluir que aquela bomba tinha endereço certo, acabar com a vida de Gustave, e o tipo de explosivo somente a perícia seria capaz de identificar, mas pelas características estava quase evidente tratar-se do explosivo sintético C4 programado para detonar segundos após a pessoa adentrar no automóvel. Por infelicidade e sorte sua, era de um inocente jovem no cumprimento de um favor. Preocupado com o ocorrido recorreu à sua experiência para concluir que quem quer que fosse o mandante estaria apreensivo e não era tão experiente em assuntos daquela envergadura, talvez o encarregado sim, mas também não foi astuto e preciso o suficiente como deveria. Se a bomba tivesse sido acionada por controle remoto o objetivo teria sido alcançado, e ele já era. Ainda manipulando o colar de contas do seu rosário de esclarecimentos, deduziu que estava prematuro aquele tipo de acontecimento, mesmo porque as investigações estavam apenas começando e ainda não havia nada conclusivo, apenas algumas interrogações longe de serem concretas. Depois poucas pessoas sabiam do seu envolvimento no esclarecimento do caso. Sacudiu a cabeça com expressão de desaprovação àquela atitude, dizendo entre dentes mais um de seus velhos bordões: “Tem vespa perigosa mexendo na colméia de abelhas obreiras.”

Não deixe de continuar acompanhando esta história que a cada momento pode ser uma surpresa emocionante.

Imagens: Internet.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ambição, o destino de uma raridade - 3ª Parte












Na primeira parte o valioso vaso de porcelana, uma raridade histórico-cultural do período de ouro da porcelana chinesa e da Dinastia Ming do século XIV é roubado durante a exposição do milionário Pierre François no Museu do Louvre; na segunda parte o experiente Gustave Berthelot contratado para descobrir o paradeiro da obra inicia suas investigações; na terceira parte Gustave começa a alinhavar suas suspeitas.

Naquele mesmo dia, no seu escritório doméstico novamente, com as fotos em mãos mais as anotações, tentava montar o seu dominó de informações, quando uma luz imaginária ascendeu do alto dos seus pensamentos, instigando-o a retornar ao Louvre. Já havia estado por lá pela manhã, mas agora o que o atraía tanto a fazer aquela nova visita? Seu instinto e faro de bom lobo caçador lhe diziam que algo novo iria o surpreender. Vestiu-se no seu costumeiro sobretudo preto que lhe cobria boa parte do terno cinza e se dirigiu ao local da exposição. Entre os visitantes eis que surgiu sua instintiva surpresa: Sthéfhanie Marret transitava elegante reparando as peças. Imediatamente passou a se interessar pela moça, acompanhando-a discretamente por onde passava. Quando a bela morena aproximou-se do suposto vaso, que não passava de uma réplica, Gustave Berthelot se achegou dela, levando nas mãos um folheto explicativo das peças expostas como qualquer curioso numa área do conhecimento de artes de rara beleza e histórica. Esperto como rato de hotel, provocou o diálogo com a charmosa dama sobre o valioso vaso.

- Aqui neste folheto diz que este vaso foi presente de um rei chinês à sua amada rainha. É considerado uma raridade expressiva do século XIV. Deve valer uma fortuna. – Conversou demonstrando curiosidade com a espiã Sthéfhanie.

- Deve sim! Estou reparando na quantidade de pedras preciosas e o cuidado com o acabamento da peça envolvendo os desenhos em ouro. – Disse a moça despretensiosamente, não se sabe por desconhecimento da originalidade da peça, ou intencionalmente com o objetivo de evitar alguma polêmica.

- Realmente, é muito bonito. – Completou Gustave.

- Não sou entendida de artes, mas para quem entende ou coleciona, deve ser prazeroso admirar uma peça tão antiga e valiosa. – Observou novamente a moça.

- Pelo seu sotaque percebe-se que não é francesa. É alguma turista interessada em cultura de artes?

- Na verdade, não sou francesa, mas moro nesta cidade de luz e encanto há pelo menos dez anos. Trabalho na Embaixada Árabe que é do meu país de origem. Inclusive tem na minha terra um importante colecionador que em conversa pelo telefone me recomendou não perder a oportunidade de visitar esta exposição e aqui estou. Certamente muito feliz com o que vejo – Explicou Sthéfhanie.

- Eu tenho vindo aqui pelo menos duas vezes ao dia para observar os visitantes e conversar com alguns. Sou jornalista e pretendo escrever um artigo divulgando os resultados da mostra. – Concluiu sua conversa com um largo sorriso o versátil Gustave.

A moça correspondeu ao sorriso e continuou sua cuidadosa visita. Gustave também fez o mesmo, só que em outro sentido, foi direto para sua casa.

Assim que chegou em casa seguiu para o seu escritório, onde iria aguardar o telefonema do seu amigo de espionagem. Acontece que durante o trajeto de volta pra casa não perdeu tempo e passou por telefone as informações recentes recebidas da moça para que dados complementares fossem levantados.
Quando o amigo respondeu confirmando de quem se tratava realmente a moça e sua origem, acrescentou que Sthéfhanie Marret ou Yasirah Saleh também trabalhava para o Sheik árabe Al-Kalihah, além de pertencer a casta de nobre família da sociedade do seu país. Estudou na frança, era doutora em Comércio e Relações Exteriores, fala fluentemente o idioma frances, inglês, alemão e japonês. Nesse momento Gustave acrescentou mais uma peça no seu intrincado quebra-cabeça.

No dia seguinte logo pela manhã vestiu-se como um importante homem de negócios e se dirigiu ao aeroporto. Acompanhado do amigo e chefe da expedição, fez um longo trajeto pelas áreas privadas dos estacionamentos de aeronaves, até chagar ao hangar do milionário Pierre François. Passando-se por um curioso em aviação procurou se informar de cada item das aeronaves que pudessem facilitar suas investigações.

Gustave já havia feito uma somatória dos possíveis autores. Como experiente que era e também perfeccionista nas suas avaliações e condutas, resolveu dar um tempo para fazer uma revisão nos dados observados. Depois de ter participado da abertura do cofre forte, visto todo o circuito integrado de vídeo e a própria sala de segurança máxima, não tinha mais dúvidas de que era ali o princípio e o meio da ação dos bandidos, mas ainda restava o fim. Tinha certeza de que não seria apenas uma pessoa envolvida na trama, mas sim de várias. Sustentado neste foco de entendimento partiu então para uma análise mais detalhada. Reiniciou todo o processo de análise das fitas de vídeos em busca de vestígios. Invocou sua longa experiência, concatenando ideias, de repente veio-lhe à mente algumas coisas inusitadas, só vistas na ficção através dos filmes de espionagens policiais. E questionou uma vaga possibilidade. Pensou: “E como não? Tudo é possível nesta altura dos acontecimentos. O autor poderia muito bem ter forjado um ambiente de tranqüilidade refletindo nas lentes das câmeras várias fotos a partir de diferentes ângulos equivalentes ao alcance do monitoramento. Como a ação seria rápida, a equipe responsável pela vigilância monitorizada nem perceberia algo estranho.” Concluiu: “Quem tem um plano deste pensa em inúmeras variáveis.” Retornou ao banco e fez novas vistorias, agora com mais critérios. Ficou um bom tempo diante dos sensores de controles de acessos dos cofres, em meditação semelhante a um monge em sua contemplação espiritual. Digamos em Alfa, seria assim? Em seguida imaginou uma pessoa usando óculos com uma minúscula câmera de filmagem monitorada por computador acoplada à idêntica armação ao dos óculos de Pierre François sendo inclusive usada por ele no momento da digitação da senha, pensou: “Este monitoramente seria feito a partir de outro lugar fora do banco, de um automóvel, por exemplo, estacionado nas proximidades. Seria um excelente recurso para passar as informações; esta pessoa se encarregaria de registrar todos os dados, depois, repassaria para alguém de confiança da instituição que tem liberdade de ir e vir dentro do cofre máster que se encarregaria de efetuar o roubo; faria a troca das embalagens e sem que ninguém percebesse colocaria em outro lugar seguro e quando estivesse confiante de que nada o impediria, a obra seria colocada para fora dos domínios do banco e imediatamente transferida para outra pessoa que se encarregaria do restante do plano.” Mais uma vez sua mente excitada em busca de respostas induziu-o a novo questionamento: “Estaria a peça ainda em território frances? É possível, não arriscariam colocar tudo a perder por precipitações ou ansiedades. Experientes, estudaram todas as variáveis para uma perfeita isenção de falhas, garantindo-lhes um plano perfeito, arquitetado de forma precisa.” Gustave foi acumulando um sem números de cogitações que o deixou em via única de colisão. Teria agora que encontrar uma saída e evitar o desastre. Nesta trama há muito dinheiro envolvido. Concluiu: “Não foi uma ação isolada. Haveria outra pessoa, ou outras de influência econômica financiando o plano, muito interessada na preciosidade. Mas vamos descobrir!”

Sem abandonar o curso das suas pesquisas investigativas, abriu uma nova vertente encima das suas cogitações. O passo seguinte seria descobrir os artesãos ourives que pudesse confeccionar um par de óculos semelhante ao de Pierre François, pois, só poderia ser este o instrumento utilizado para passar as informações. Como dispunha de pouco tempo para atender todas as necessidades que se apresentavam a cada momento, nomeou como seu assistente Philippi Boulet, que além de amigo confiável, também era espião aposentado da Inteligência Francesa e que já vinha auxiliando-o anteriormente no caso da identificação de Sthéfhanie Marret.

Não deixe de continuar acompanhando esta história que a cada momento pode ser uma surpresa emocionante.


Imagens: Internet.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ambição, o destino de uma raridade - 2ª Parte.


Na parte anterior o valioso vaso chinês de propriedade do milionário colecionador e banqueiro Pierre François é roubado e substituído por uma imitação durante uma exposição no destacado e fascinante Museu do Louvre. A peça é uma raridade histórico-cultural remanescente do período de ouro da porcelana chinesa e da Dinastia Ming do século XIV.


Depois de acertados os detalhes iniciais, o tarimbado investigador se dirigiu para o museu com o objetivo de iniciar os seus trabalhos. Discretamente fotografou os presentes e conversou com alguns, temendo a possibilidade de vazar informações sob a integridade da exposição. Uma vez cumprido as primeiras horas nas suas avaliações, seguiu em direção ao Aeroporto Charles De Gaulle, onde pretendia se encontrar com um velho amigo e Chefe do Departamento de Expedição do Aeroporto.

Gustave Berthelot era um respeitado profissional. Já havia feito parte do Serviço de Inteligência Frances até o final de Guerra Fria. Aposentado do sistema resolveu dar prosseguimento às suas atividades como investigador particular, responsável pela elucidação de casos considerados insolúveis. Sua aparência o definia como uma pessoa portadora de detalhes diferenciados, como apresentar-se enquanto trabalhava caso necessário, disfarçado em multifaces para dificultar sua identificação.
Com sua estatura de um metro e oitenta de altura, pesando aproximadamente cem quilos, cabelos grisalhos, que não caracterizavam com exatidão sua imagem, visto que, dificilmente mantinha-os de uma mesma maneira por longo tempo: digamos, podia-se dizer que era um camaleão assumido. Só o peso e a altura se mantinham. Também era considerado por muitos um cavalheiro, pela elegância dos seus gestos e extremada competência. Sob esse visual nem tanto incomum o irreverente Gustave Berthelot sobrevivia enfrentando tarefas difíceis, só permitidas àqueles que possuíam competência e experiência igualmente diferenciadas.

O próximo passo seria levantar todas às evidências dos últimos dias, fatos inequívocos e indispensáveis inicialmente coletados durante a recente reunião na residência da vítima. Inclusive suas considerações de que necessitaria de tempo, para isto se isentava de prestações de contas diárias do seu trabalho.

A partir do momento em que aceitou a missão, não parou um instante sequer. Na segunda-feira às 7:30h já se encontrava no Banco para acompanhar todos os procedimentos habituais, e verificar todo o sistema de segurança, principalmente o eletrônico. Assim que foi recebido por Pierre François e o pessoal da segurança, interessou-se em saber de forma pormenorizada de cada detalhe, evitando assim, qualquer possibilidade de omissão nas informações. Satisfeito despediu-se e partiu em direção do Departamento do qual Jean-Mari administrava e que ficava instalado no quarto andar do mesmo prédio onde funciona o banco.

Como a tarefa era correr contra o tempo, Gustave Berthelot, assim que se apresentou diante de Jean-Mari, dispensou formalidades e foi logo tratando-se do que realmente lhe interessava: averiguar detalhes, de preferência os mínimos.

- Sr. Jean-Mari, sei que deve está preocupado com a segurança das peças em exposição, algumas delas também pertencem ao seu sogro, agora só um detalhe: notou algo incomum no transporte durante o translado? – Perguntou displicentemente o minucioso investigador para não demonstrar excessiva curiosidade.

- Não, tudo aconteceu como previsto. Mas porque esta pergunta? Alguma dúvida, ou está acontecendo algo que não estou sabendo? – Retrucou o arrogante Jean-Mari.

- Não, claro que não! Apenas curiosidade. Fui designado pelo Museu do Louvre para montar uma força tarefa que será encarregada de transportar a preciosa Mona Lisa até o Museu Britânico (British Museun) na Inglaterra, onde permanecerá exposta durante um mês. A princípio pensei que os seus serviços seriam ideais. Depois levando-se em conta a minha amizade com o senhor Pierre François, acredito que não me recusará a um pedido meu nesse sentido. - Dissimulou estrategicamente Gustave.

- Acredita que essas mesmas pessoas envolvidas nesse recente transporte estarão disponíveis para essa outra possível empreitada? – Questionou em seguida, Gustave, sem nem mesmo dar chance de resposta à observação anterior.

- Não sei, mas posso verificar. Receio que o piloto terá que ser outro, mas, se assim for, terá como é costume deste Departamento a mesma credibilidade e qualidade de Olivier Maillard. – Esclareceu Jean-Mari.

- Acontece que pelo que fui informado Olivier o piloto deste último trabalho está com viagem acertada para Nice onde permanecerá por um mês, em férias. - Afirmou de maneira espontânea o genro do milionário colecionador.

- Mas não se preocupa, como já disse, temos outros com a mesma qualidade e confiabilidade. – Voltou a dizer Jean-Mari.

- Oquei, veremos o que podemos fazer. Te informo qualquer decisão. – Respondeu Gustave Berthelot sem mais perguntas, despedindo-se sem deixar qualquer interrogação pendente.

Novamente de posse das informações, seguiu o curso do seu trabalho. Não fazia parte de o seu estilo infiltrar muito nos questionamentos, para não criar um sintoma de maior interesse em determinado tema, e assim, formular ele mesmo suas conclusões e tocar o seu barco no destino pré-estabelecido: identificar o responsável ou responsáveis pelo roubo. Na medida em que ia colhendo as informações era seu costume criar um tipo de universo paralelo nas suas investigações, destrinchando de maneira criteriosa o seu novelo de dados armazenado no arquivo de suas memórias.

Gustave Berthelot destacou como motivo de interesse, acompanhar de perto Olivier Maillard, e assim passou a segui-lo. No dia seguinte logo pela manhã o encontrou no Café Sort, em pleno horário de trabalho conversando com uma linda mulher de características árabe. Embora se vestindo como uma européia, o seu sotaque a condenava. Curioso para saber de que assuntos se tratavam, gratificou o garçom solicitando-lhe maior atenção ao casal. A conversa não demorou muito, porém, o que parecia um encontro casual amistoso, sem maiores preocupações, estava ali estabelecido uma suposta implicação que merecia esclarecimentos. Através de sua inseparável mine câmera fotográfica tirou algumas fotos interessantes. Antes de sair agradeceu ao jovem atendente entregando-lhe seu cartão com o número do seu telefone, prometendo retornar a qualquer momento para maiores informações suplementares.

Com as fotos em mãos, procurou o amigo e companheiro dos tempos do Serviço Secreto Frances Philippi Boulet, para fazer um levantamento nos arquivos da instituição a procedência daquela atraente mulher. Não foi difícil descobrir que se tratava de uma agente espiã saudita chamada Yasirah Saleh, que atuava na Europa com o nome de Sthéfhanie Marret de 38 anos. Não muito satisfeito com as primeiras informações, encarregou o amigo de obter mais detalhes e seguiu com o seu trabalho, preocupado com o acaso do piloto e uma agente conversando em plena manhã num café da região central de Paris. O que estariam discutindo? Nesse ínterim lhe veio um lampejo, com a somatória dos dados contabilizados, já tinha suporte suficiente para montar o seu glossário de informações ainda sem respostas. Se auto-exigindo: "esses acontecimentos recentes precisam o quanto antes mostrar com eficiência as primeiras pistas. E o vaso, ainda continuaria em território frances? E que fim o teria levado?" Sem hesitar telefonou para o amigo do Serviço de Expedição do Charles De Gaulle mantendo uma rápida conversa. Era seu costume utilizar-se de bordões pessoais para expressar sua ansiedade: “para uma boa resposta basta um telegrama, com poucas palavras bem empregadas é o suficiente para contar uma história. Tempo é precioso para se gastar com futilidades”.

Não deixe de continuar acompanhando esta história que a cada momento pode ser uma surpresa emocionante.

Imagens: Internet.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ambição, o destino de uma raridade.



É do conhecimento histórico-cultural das artes, que através do comércio emergente pelas Companhias das Índias no século XVI, preciosidades foram possíveis chegarem à Europa. Poucos países naquela época tinham acesso a estes tesouros de refinados gostos, raramente encontrados em destacadas casas especializadas. Pierre François orgulhava-se de ser um destes expoentes proprietários de antiguidades a possuir no seu acervo raridades tão fascinantes, que remetia a um período consagrado por várias lutas internas entre clãs. O seu vaso de porcelana fina e rara, pintado com desenhos em ouro e decorado com pedras preciosas, entre diamantes, rubis e esmeraldas, retratando fragmentos da dinastia Ming do século XIV, traduzia este orgulho para qualquer célebre colecionador. Lógico que possuía outras raridades de períodos mais remotos, mas o seu vaso era sim o seu maior orgulho como colecionador de destaque entre os vários outros existentes no planeta.

Durante anos sua preciosa peça ficava depositada no cofre particular do seu Placement de la Financière Banque de Paris, protegido com recursos de segurança de última geração. Vários convites lhes foram feitos para expor sua raridade, sendo todos veementes negados. Não pretendia expor em público sua valiosa obra, única no mundo e feita sob encomenda pelo Rei Zong Yang Zhao, para presentear sua amada esposa Nay-Ching enaltecendo suas últimas conquistas. Os amigos, estudiosos e colecionadores insistiam para que mostrasse seu valioso patrimônio histórico pelo menos para uns poucos interessados. Como já se encontrava próximo de completar 80 anos e os filhos pouco se interessavam pelo seu hobby milionário, resolveu atender a um destes pedidos irrecusáveis. Tratava-se de não menos que o Sheik Al-Kalihah da Arábia Saudita, velho amigo e também colecionador. O lugar escolhido foi o Museu do Louvre de Paris, conceituado pela sua importância internacional e segurança inviolável. Colecionadores de todo o planeta ficaram eufóricos com a confirmação. Além de suas várias obras entre pinturas, artesanato e esculturas, estaria também exposto o seu valioso vaso chinês. Todas as peças também possuíam seguros totais, fato raro para este tipo de negócio, mas nem por isto o convencia. Raramente uma seguradora se dispunha a aceitar este tipo de transação, principalmente em se tratando de raridades tão valiosas e na sua maioria única, e motivo de cobiça não só para colecionadores, mas também por aventureiros ladrões, que arriscariam o próprio pescoço para tê-las nas mãos. O comércio das obras não seria fácil pelo seu caráter de exclusividade, mas havia sempre um fissionado por artes que não mediria esforços para adquirir tais raridades, mesmo sabendo que não seria possível exibi-las abertamente.

A exposição havia alcançado projeção em todos os setores das artes e para o evento o milionário colecionador teria se cercado de todos os cuidados imprescindíveis. Suas peças seriam colocadas com algumas horas de antecedência à visitação, transportadas do Banco até o museu por um rigoroso esquema de segurança. Primeiramente o transporte seria feito por helicóptero para evitar o trânsito ou algum imprevisto no transporte.

Até as peças saírem do seu banco, Pierre fez questão de acompanhar de perto todo o processo. As pessoas envolvidas foram escolhidas observando a criterioso processo de seleção, inclusive, o piloto da aeronave era da inteira confiança do seu genro Jean-Mari, que embora não tivessem bom relacionamento familiar com o colecionador era o esposo de sua filha mais velha e chefe do Departamento de Transportes Aéreo do seu conglomerado de empresas, inclusive do banco.

Eventos desta natureza costumam atrair as personalidades mais importantes do universo das artes e curiosos ilustres ávidos por um flash dos noticiários. E Pierre era uma destas pessoas muito procuradas naquele momento para entrevistas.

- Senhor Pierre, Senhor Pierre! Aqui, sou Monique da TV France ao vivo! – Chamava insistentemente a repórter, tentando arrancar algumas palavras do ilustre colecionador.

- Por favor, Senhor Pierre, só um minutinho. – Insistia a repórter.

- Senhor Pierre, qual é a sua expectativa para esta exposição, depois de anos sem mostrar suas valiosas peças? – Com dificuldade conseguiu fazer sua pergunta, a jovem repórter.

- Muito boa! Espero que não seja a última sob os meus cuidados. – Esclareceu Pierre François, temeroso por outra oportunidade, preocupado com sua idade.

- Senhor Pierre, é do conhecimento de todos que o mundo estará atento para a abertura da exposição. O senhor também está ansioso? Ou preocupado com a segurança dos objetos expostos? – Perguntou a repórter.

- Ansioso sim, preocupado não! Todos os cuidados possíveis, e acredito até impossíveis foram tomados. – Respondeu confiante Pierre François.
- Os colecionadores e interessados poderão oferecer propostas para aquisição de alguma das suas peças? Ou é somente uma exposição memorável de contemplação da valorosa coleção? – Perguntou a repórter, focando outras possibilidades de negócios.

- Não serão permitidas ofertas, já que nada está à venda. Trata-se apenas de uma exposição de visualização. Nem fotos serão permitidas. – Disse Pierre François.

- Como ficou estipulado apenas dois dias de apresentação ao público, assim mesmo para pessoas credenciadas ou convidados especiais, existe a possibilidade de estender esse prazo para mais dias? – Perguntou a repórter.

- Não, infelizmente não! Não haverá outra oportunidade, pelo menos por agora. Serão somente os dois dias confirmados. – Cansado das perguntas que muito o incomodava, além dos flashes de câmeras fotográficas e luzes dos refletores de filmagens, Pierre se despediu saindo escoltado por seus seguranças.

Enquanto os privilegiados visitantes autorizados se admiravam com cada raridade, Antoine Débiton um expert avaliador e reconhecido conhecedor do patrimônio de artes do amigo Pierre François, observando sem grandes pretensões o vaso, notou alguns detalhes que lhe chamaram a atenção. Parecia não acreditar, mas algo não estava certo com a peça. Mesmo sabendo que todos os cuidados para que nada de ruim acontecesse, envolvendo inclusive cuidados especiais por se tratar de uma raridade, apenas algumas poucas fotos foram divulgadas em importantes enciclopédias até aquele momento, o que a tornava ainda mais difícil de falsificação, ainda assim, tudo levava a crer que o objeto exposto não passava de uma réplica. Imediatamente procurou o amigo e participou suas dúvidas. Pierre François espantou-se, chegando quase a ter um colapso, sendo amparado de imediato. Seria improvável a princípio tal conclusão, principalmente em se tratando daquele objeto que a comunidade especializada se curvava. Antoine Débiton se orgulhava de ser um dos poucos que há muito tempo a acompanhava de perto por ser da inteira confiança do seu colecionador.

Aconselhado a manter maior discrição possível, Pierre François seguiu em direção do seu cobiçado tesouro. Não demorou muito para constatar a falta de autenticidade do objeto de desejo para muitos. Quase foi a loucura, contudo, conseguiu minimizar sua expressão de incredulidade. Em seguida contendo o grau de desespero, procurou o curador da mostra Sr. Alain Dubreuil e relatou o acontecido, sendo aconselhado a manter a exposição sem nenhum tipo de alarde e aplicar vigilância triplicada. De imediato iria iniciar uma investigação sob sigilo absoluto, uma cópia da relação dos visitantes foi solicitada. Sem perder tempo o milionário colecionador telefonou para Gustave Berthelot renomado investigador, também seu amigo.

Várias perguntas começaram a borbulhar na mente dos envolvidos, dentre elas, duas eram evidentes: como poderia? Como conseguiram? A visitação transcorria normalmente, tudo levando a crer que somente aqueles que constataram a fraude estavam cientes do acontecimento. Com dificuldade Pierre François conseguiu permanecer no local mais alguns minutos, retornando à sua residência alegando cansaço e indisposição, entretanto, somente ele sabia da tristeza e decepção que alojara no seu coração diante do ocorrido. Tudo iria fazer para resgatar sua preciosidade custe o que custasse. Não economizaria nada nesse sentido.

Assim que Pierre François chegou à sua residência sob a orientação dos acompanhantes, dentre eles Antoine Débiton, encaminhou-se direto para o seu escritório. Em menos de uma hora o aguardado investigador Gustave Berthelot já estava em sua companhia. Vários assuntos foram tratados relativos ao incidente. Gustave Berthelot não perdeu tempo:

- Senhor Pierre, quantas vezes esteve com a peça roubada nos últimos dias? – Perguntou Gustave Berthelot, procurando se informar de alguns detalhes que pudessem clarear os preliminares das investigações.

- Nos últimos quatro dias estive por várias vezes, não só para ver o vaso em questão como as demais peças que selecionei para a exposição. – Esclareceu Pierre à pergunta.

- Pode esclarecer quais os procedimentos usados normalmente para ter acesso às suas preciosidades? – Arguiu novamente o investigador.

- Claro! No meu Banco, existe o cofre principal onde são guardadas grandes somas. Este cofre tem controle automático de tempo/hora para ser aberto. Portanto somente às 8h impreterivelmente é aberto. Sob hipótese alguma se consegue ter acesso ao seu interior. Não vou descrever o grau de segurança de sua porta e do interior do cobre porque é desnecessário e por outro lado é um segredo de garantias. Sempre que entro faço antes uma cuidadosa observação de praxe. – Esclareceu o banqueiro.
- Sendo o cofre principal aberto somente a partir das 8h, significa que está deixando claro que seu tesouro em artes fica guardado nesse cofre? – Novamente questionou o investigador.

- É verdade, as peças de artes mais raras e que carecem de cuidados especiais ficam guardadas nesse cofre, só que em outro compartimento que também se trata de um cofre, dentro deste de segurança máxima. Assim, para eu ter acesso às minhas obras tenho primeiro que entrar no cofre maior e depois abrir o outro que não é tão pequeno, mas exclusivo das peças. – Esclareceu Pierre.

- Qual é a forma utilizada para abrir esse cofre das artes? – Interessou-se o investigador.

- Para abrir este cofre necessita-se de um código senha de números digitais. Não coloquei o processo de identificação por leitura ótica através do contato com as mãos por achar desnecessário, já que somente eu tenho acesso. Inclusive no cofre de numerários, ouro, jóias da família e documentos importantes do banco, como de costume somente eu e o tesoureiro podemos entrar. Ninguém mais. – Esclareceu mais uma vez o banqueiro.

- E nestes últimos dias que antecederam a exposição, quantas vezes o senhor esteve com as peças escolhidas para o evento? – Perguntou o investigador.
Enquanto os dois conversavam, Antoine Débiton em silêncio acompanhava o questionamento que iria ajudar a montar o quebra-cabeça para desvendar alguns indícios e ser possível dar prosseguimento às investigações.

- Ninguém mais o acompanhou nesse processo? – Interessou-se Gustave Berthelot.

- Não, ninguém! Estive sempre só. – Esclareceu mais uma vez o colecionador.
- Significa que foi o senhor quem embalou todas as peças, ou estou enganado? – Perguntou o investigador curioso.

- Sim, somente eu me encarreguei de todos os pormenores de preparação dos objetos. Apenas as embalagens foram enviadas pelo Museu, por fazer parte dos procedimentos habituais. É necessário conter nas caixas a marca do expositor. Isto tem origem de há muito tempo. Acho que faz muito sentido. Significa organização. – Esclareceu mais uma vez o colecionador.

- E hoje antes de serem transportadas, quantas vezes o senhor esteve em contato com o seu patrimônio selecionado para a exposição? – Interessou-se o investigador, tentando juntar as pedras do mosaico que se apresentava pela frente.
- Hoje eu estive com elas, quatro vezes. A primeira quando se abriu o cofre forte, aproximei-me das caixas e verifiquei se tudo estava bem. Isto numa atitude rápida sem preocupações adicionais. Acho que foi mais por força do hábito, nada mais. – Explicou Pierre François.

- Entendo. E as outras três vezes? – Seguiu com suas perguntas o experiente investigador.

- Outra, quando fomos verificar o volume das caixas para melhor acomodação na aeronave que faria o transporte. Desta vez me acompanhava Jean-Mari que iria orientar o piloto. – Esclareceu Pierre François.

- A penúltima, foi uma entrada técnica. Seria necessário isolar a parte exclusiva do banco, onde ficam depositados todos os depósitos e documentos pertinentes a instituição. – Declarou Pierre, esclarecendo.

- E por último, quando foram recolhidas as caixas. Nesse momento até o sistema de segurança armada do banco estava aposto, com o auxilio de vários homens bem armados. Novamente respondeu o banqueiro.

Após a longa conversa esclarecedora, Gustave Berthelot se despediu sem muita explicação, recomendando todo sigilo sobre a conversa e que não deveria em hipótese alguma revelar o descobrimento da fraude, para não alertar os envolvidos no roubo. Mais tranqüilo diante das perspectivas e votos de confiança nas investigações, o milionário colecionador se acalmou e manteve a serenidade de antes.

Não deixe de conferir a continuação desta aventura de espionagem ainda nesta semana. Novas investidas, novas descobertas, novas ações estarão envolvendo esta trama de contínuas buscas, onde a experiência e a astúcia do profissional enganjado a esse tipo de desafio faz a diferença.

Imagens: Internet

sábado, 14 de novembro de 2009

O efeito mágico de um sorriso.








Este texto me foi enviado através de e-mail por um amigo. Gostei tanto deste exemplo de socialização que achei por bem dividir com você. Está sendo publicado na íntegra, nem uma virgula sequer foi mudada, preservando o conteúdo estético e gramatical do autor. Devo esclarecer ainda que o seu autor é desconhecido.



Esta é uma bela história e é também uma história real, por favor, leia-a até o fim! (Após o final da história, alguns fatos bastante interessantes!)Sou mãe de três crianças (14, 12 e 3 anos) e recentemente terminei a minha faculdade. A última aula que assisti foi de sociologia...

O professor dava as aulas de uma maneira inspiradora, de uma maneira que eu gostaria que todos os seres humanos também pudessem ser.

O último projeto do curso era simplesmente chamado "Sorrir"...

A classe foi orientada a sair e sorrir para três estranhos e documentar suas reações...Sou uma pessoa bastante amigável e normalmente sorrio para todos e digo oi de qualquer forma. Então, achei que isto seria muito tranquilo para mim...

Após o trabalho ser passado para nós, fui com meu marido e o mais novo de meus filhos numa manhã fria de Março ao McDonald's.

Foi apenas uma maneira de passarmos um tempo agradável com o nosso filho...

Estávamos esperando na fila para sermos atendidos, quando de repente todos a nosso redor começaram a ir para trás, e então o meu marido também fez o mesmo...

Não me movi um centímetro...

Um sentimento arrebatador de pânico tomou conta de mim, e me virei para ver a razão pela qual todos se afastaram...

Quando me virei, senti um cheiro muito forte de uma pessoa que não toma banho há muitos dias, e lá estava na fila dois pobres sem-teto.

Quando eu olhei ao pobre coitado, próximo a mim, ele estava "sorrindo"...

Seus olhos azuis estavam cheios da Luz de Deus, pois ele estava buscando apenas aceitação...

Ele disse, Bom dia!, enquanto contava as poucas moedas que ele tinha amealhado...

O segundo homem tremia suas mãos, e ficou atrás de seu amigo...

Eu percebi que o segundo homem tinha problemas mentais e o senhor de olhos azuis era sua salvação...

Eu segurei minhas lágrimas, enquanto estava lá, parada, olhando para os dois...

A jovem mulher no balcão perguntou-os o que eles queriam...

Ele disse, "Café já está bom, por favor...", pois era tudo o que eles podiam comprar com as poucas moedas que possuiam... (Se eles quisessem apenas se sentar no restaurante para se esquentar naquela fria manhã de março, deveriam comprar algo. Ele apenas queria se esquentar)...

Então eu realmente sucumbi àquele momento, quase abraçando o pequeno senhor de olhos azuis...

Foi aí que notei que todos os olhos no restaurante estavam sobre mim, julgando cada pequena ação minha...

Eu sorri e pedi à moça no balcão que me desse mais duas refeições de café da manhã em uma bandeja separada...

Então, olhei em volta e vi a mesa em que os dois homens se sentaram para descansar...

Coloquei a bandeja na mesa e coloquei minha mão sobre a mão do senhor de olhos azuis...

Ele olhou para mim, com lágrimas nos olhos e me disse, "Obrigado!!" Eu me inclinei, acariciei sua mão e disse "Não fui eu quem fiz isto por você, Deus está aqui trabalhando através de mim para dar a você esperança!!" Comecei a chorar enquanto me afastava deles para sentar com meu marido e meu filho... Quando eu me sentei, meu marido sorriu para mim e me disse, "Esta é a razão pela qual Deus me deu você, querida, para que eu pudesse ter esperança!!"...

Seguramos nossas mãos por um momento, e sabíamos que pudemos dar aos outros hoje algo pois Deus nos tem dado muito....

Nós não vamos muito à Igreja, porém acreditamos em Deus...

Aquele dia, me foi mostrada a Luz do Doce Amor de Deus...Retornei à aula na faculdade, na última noite de aula, com esta história em minhas mãos. Eu entreguei "meu projeto" ao professor e ele o leu...

E então, ele me perguntou: "Posso dividir isto com a classe?" Eu consenti enquanto ele chamava a atenção da classe para o assunto...

Ele começou a ler o projeto para a classe e aí percebi que como seres humanos e como partes de Deus nós dividimos esta necessidade de curarmos pessoas e de sermos curados...

Do meu jeito, eu consegui tocar algumas pessoas no McDonald's, meu filho e o professor, e cada alma que dividia a classe comigo na última noite que passei como estudante universitária...

Eu me graduei com uma das maiores lições que certamente aprenderei.

Fotos: Internet Fotosearch

Autor: Desconhecido.


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Vasculhando a estante - nº 05

Urgente!

Esta informação já deveria ter sido divulgada em caráter de urgentíssimo!

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:

a) - Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci;
b) - Escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
c) - Ler obras de Machado de Assis, ou a Divina Comédia;
d) - Ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV Escola e muito mais... Este lugar existe!

O Ministério da Educação disponibiliza tudo isto, basta acessar o site:


Só de literatura portuguesa são 732 obras.

Estamos em vias de perder tudo isto, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acessos ser muito pequeno. Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura.

Texto me enviado por e-mail.
Foto: Fotosearch

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Máquina de escrever


A gaúcha Letícia Wierzchowski faz sucesso com A Casa das Sete Mulheres e lança sua sexta obra em quatro anos de carreira.

A gaúcha Leticia Wierzchowski, de 30 anos, é um fato novo na literatura brasileira. Há muitos anos não se via ficcionista jovem e desconhecida atingir o alto das listas de vendagem. Conseguiu a façanha com o romance A Casa das Sete Mulheres. O livro narra a Revolução Farroupilha (1835 - 1845) pelo ângulo feminino. Representa, também um caso exemplar de construção do sucesso em várias frentes, a começar pela televisão. Estourou por causa da audiência da série homônima da Globo, que estreou em janeiro e atinge, até agora, a média de audiência de 30 pontos do Ibope. Lançado em abril de 2002, o livro já havia esgotado três edições em oito meses. Com a série, foram-se outras três em menos de um mês, num total de 20 mil exemplares.

Leticia aproveita e lança a novela O Pintor Que Escrevia, sexto livro de ficção em quatro anos de carreira, em torno de um caso incestuoso. Finalizou, ainda, um romance, a sair até o fim do ano, sobre um malandro no submundo carioca dos anos 50. Mas há algo além do êxito a partir da telinha. Pela primeira vez no Brasil, um livro foi concebido para virar imagem. É o que os americanos chamam de tie-in, história projetada para se realizar na tela. Antes de a obra ter sido concluída, em nove meses, em junho de 2001, uma sinopse já circulava na Globo.

"Tudo ocorreu como um conto de fadas", comenta a agente literária Lucia Riff. Ela foi responsável pela mudança de editora de Leticia em 2000, da média L&PM para a grande Record, e por a história ter chagado à Globo. A agente levou a edição a Maria Adelaide Amaral, escritora que adapta histórias para as séries da emissora. Ela adorou. "Não me lembro de nada igual", diz a editora Luciana Villas-Boas, da Record. Quando começou a trabalhar nos originais, pensava que o futuro de Leticia seria brilhante, em dez anos. "Ela tem apelo audiovisual e teve sorte de ser lida por gente influente", diz. Luciana acha que a autora indica "mudança no mercado, pois ajuda a aumentar o público e a amadurecer a indústria, capaz de produzir autores vendáveis de ficção, não apenas de auto-ajuda". A editora está feliz por ter forjado o que ela donomina "a Rosa-munde Pilcher brasileira". Explica que o texto romântico de Leticia seduz o público feminino de modo parecido ao da escritora inglesa, especialista em destilar conflitos lacrimejantes em ambientes silvestres. Ambas vendem como feno. Mas há distinções. Se Rosa-munde reciclou o "romance para moças", Leticia prende-se à tradição brasileira. Lembra Rachel de Queiroz em seus anos sentimentais e dá um toque feminino à literatura gauchesca.

A crítica culta, pelo menos a do Sul, se rendeu ao charme da filha da terra, depois de um breve surto de ciumeira. Leticia sofreu ataques e se magoou. Acusaram-na de "modorrenta" e de profanar o túmulo de Erico Verissimo, autor de O Tempo e o Vento. Para fugir do assédio, passou janeiro em Punta del Este. De lá, assistiu, divertida, à série. "As cenas de sexo não têm a ver com o livro, que trata de moças vigiadas de 1830. Mas não posso reclamar, posso?" Ela se descreve como "contadora de histórias com cumpulsão de escrever". E arremata: "Não quero conquistar a crítica, mas arrancar o leitor do cotidiano e levá-lo à aventura". Filha de um incorporador imobiliário, morou numa casa de quatro mulheres (é a mais velha de três irmãs), leu Gabriel Garcia Márquez e não pensava em ser escritora. Trabalhou com o pai, desenhava bem e montou uma confecção. "Cursei arquitetura, mas desisti para escrever." A revelação se confirmou na Oficina de Criação Literária, do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil. "Quando Leticia concluiu o curso, em 1997, tinha quatro romances prontos", entusiasma-se o professor. "Nunca vi alguém com tamanha produtividade. É um Balzac de saias."
Um dos livros saídos do curso foi o romance fantástico O Anjo e o Resto de Nós, com o qual estreou em 1998. Desde então, produz uma média de duas obras anuais. A fecundidade levou-a a ultrapassar seu padrinho literário, Tabajara Ruas, cunhado de sua tia, autor de seis livros. Ela se inspirou no romance Os Varões Assinalados (1985), de Ruas, para contar sua versão da Guerra dos Farrapos. "Ela tem talento e só lhe falta cinzelar o estilo", diz Ruas. Para o crítico Luis Augusto Fischer, Leticia é um fenômeno. "É capaz de criar um épico pré-colombiano em mais de 1 000 páginas durante uma viagem de apenas uma hora!", garante. O poeta Fabrício Carpinejar pensa que A Casa das Sete Mulheres consiste na "súmula de uma narrativa palavrosa sem densidade narrativa". Sugere, porém, que "vele ler sua obra porque ela supera com doçura os dilemas bélicos da literatura gaúcha, além do que a ler é melhor do que sentir inveja de sua personalidade literária".

Dona de uma beleza digna das heroínas que descreve, Leticia leva uma vida ao avesso das fantasias que põe no computador. Casada com o publicitário Marcelo Pires, tem um filho de 1 ano, João, e mora em Porto Alegre. "Minha vida é comum e quase destituída de histórias. Por isso, gosto de inventá-las."

Texto extraído da revista Época de 3 de fevereiro de 2003, escrito por Luís Antônio Giron.
Fotos: revista Época e Veja

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Adiós, Neruda


Poeta chileno não serve mais nem para arranjar namorada.

Sabe aquele Neruda que você me tomou - e nunca leu? Pode ficar com ele. O tempo mostrou que o chileno Pablo Neruda foi um poeta interessante, mas não um dos maiores da língua espanhola. Atingiu cedo o auge, com Residência na Terra (1925 - 1931), mas nas outras 7 000 páginas que se gabava e ter escrito mais diluiu do que refinou esse êxito. Tratava-se também de uma personalidade notável, só que pelo narcisismo e pelo dogmatismo político. Escreveu que Stalin era "mais sábio que todos os homens juntos". Jamais aceitou que o assassinato de milhões pela ditadura soviética pudesse ter algo de criminoso. Assim, os 25 anos da morte de Neruda, celebrados neste dia 23 de setembro de 1998, não são motivo para entusiasmo excessivo nem para que se perca muito tempo com os Cadernos de Temuco que a Bertrand Brasil lança agora (tradução de Thiago de Mello; 266 páginas; 30 reais). Os cadernos foram preenchidos por um Neruda "teen", entre os anos de 1919 a 1920. Ficaram na gaveta por décadas e só há dois anos foram redescobertos e publicados. Há no livro versos que antecipam temas desenvolvidos mais tarde na lírica do poeta, como o erotismo e o fascínio pela natureza. Mas é só. Talvez pesquisadores chilenos - que têm mesmo a obrigação de investigar uma de suas figuras literárias centrais - encontrem valores outros na obra. Para os demais, esses Cadernos de Temuco não servem nem para arranjar namorada. Os versos de Neruda, que faziam suspirar as estagiárias de pernas peludas do anos 70, não comovem mais as moças de hoje.

Texto extraído da revista Veja de 23 de setembro de 1998, escrito por Carlos Graieb.
Fotos: Internet.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Valentes e corajosos homens do mar - Final.











Na parte anterior capitão Moribundo depois de enfrentar desafios perigosos, aproxima-se dos seus desafetos instalando-se provisoriamente na França.
Torna-se influente empresário no setor de perfumaria e em seguida
chega à sua terra natal
como um Don Juan e rico empreendedor.
É o momento de articular suas ações.



Com sua visão estudada e bem elaborada de um experiente investidor, transformou um velho casarão sem muita utilidade, numa vistosa e ampla loja de perfumes com todos os requintes necessários capaz de atrair a nobreza inglesa, aliando-se a estes pormenores o seu incontestável charme de um galã e conquistador incorrigível. Não demorou muito estava frequentando às suntuosas e concorridas festas da corte. Os seus produtos foram rapidamente conquistando destaque a ponto de se transformarem luxo de consumo para todas as ricas e influentes damas da sociedade. Na mesma proporção em que empregava com sucesso o seu admirável fascínio de "bon-vivant" e empresário. Beneficiado pela obra do destino conheceu Mary Christine Lemmon, 22 anos, filha caçula de George Lemmon, justamente o seu principal alvo da vingança. Aquele que o incriminou para subtrair fortunas em ouro, pedras preciosas e especiarias do seu Rei.

A partir do momento em que ficou conhecendo a jovem Mary Christine, além dos reveses que a vida proporciona, só restava esperar e dar corda à imaginação fértil de que era especialista; infiltrar na intimidade da família, apronfundar suas atenções nas ações do seu patriarca e descobrir até onde se estendia seus negócios e seus compromissos financeiros. Fazendo-se valer de seus refinados gestos de elegante conquistador e atencioso "gentleman", não demoraria se tornar pessoa de confiança do seu alvo: o desafeto George Lemmon. O desfecho e a consolidação da sua vingança provando sua inocência e de seus amigos seria uma questão de tempo e oportunidade.

Enquanto isto Espantalho e seus amigos curtiam suas férias, em verdadeiras festanças no litoral frances. Para os momentos de descanso escolhiam impreterivelmente o conforto nos aconchegantes aposentos a bordo do inigualável Tigre Veloz. Entretanto, nas ocasiões de comemorações mais intensas e ousadas procuravam as inquietantes tabernas e casas de mulheres onde conseguiam afogar suas solidões e marasmos, através do consumo desenfreado das refrescantes, ora calientes bebidas da região, contudo, sempre bem dispostos aguardando o chamado do seu líder. Estavam protegidos como viajantes em busca de negócios e de prazer pelo continente europeu.

Charles inteligentemente infiltrado nos bastidores da burguesia e dos negócios inglês é informado de que um grande e precioso carregamento contendo finíssimas peças de sedas, riquezas em porcelanas e pedraria finas, principalmente de jade, estava para sair da China com destino à Inglaterra, enviou um mensageiro levando consigo e com urgência um recado codificado até aos seus corajosos companheiros, informando-lhes da necessidade de interceptar em águas internacionais do Pacífico o navio Guardian que navegava com bandeira holandesa. Fazer seu comandante prisioneiro, libertar a tripulação em improvisadas chalupas, saquear a valiosa carga, afundar a embarcação e se dirigirem rapidamente à Inglaterra.

Assim que tomou conhecimento da mensagem a tripulação ansiosa por novos desafios, pôs-se a caminho contente por voltar à ação. Todos estavam se sentindo desgastados e irritados pelo ostracismo a que submetiam. Até alcançar o ponto ideal do cargueiro em vista, seriam pelo menos três semanas, ainda assim teria que se fazer um estudo pormenorizado para descobrir em que curso estaria navegando, verificar possibilidades e análises detalhadas da melhor abordagem. Não poderiam falhar, estava naquela embarcação à chave principal que abriria as portas para o futuro, proporcionando-lhes toda tranquilidade desejada, além de uma vida farta, dígna somente dos ricos. Aí sim, poderiam dizer que cumpriram realmente com suas missões.

Havia acabado de dobrar o Cabo da Boa Esperança, também conhecido como Cabo das Tormentas quando por uma incrível ironia o mar ficou bravio, manifestação comum para todos os navegantes daquela área. Preocupados abaixaram as velas a meio mastro navegando com extrema cautela. Afastaram um pouco da costa para evitar qualquer arrebentação. Estavam numa zona repleta de perigosas elevações rochosas. Umas possíveis de serem vistas com mais facilidade por sobressaírem sobre as ondas, outras ficavam encobertas pelas águas e diante daquela situação de agitação do mar o perigo seria iminente. Cuidadosos faziam inúmeros cálculos de probabilidades. Qualquer desvio perderia a oportunidade milionária.

Após outros dois dias de constantes preocupações, ouviram-se gritos de alerta vindos do mastro de observação. Todos viraram em direção do horizonte na espera e divisar a embarcação que mais se assemelhava a um ponto distante no infinito balançando suas velas. Não tardaria seria possível identificar sua origem por intermédio da sua bandeira e suas características de cargueiro. Foram momentos de ansiedade e tensão. Os homens que seriam os responsáveis pelos canhões providenciaram todo o necessário para uma vitoriosa contenda, os demais com suas armas prontas e vistoriadas também aguardavam impacientes. Inclusive foram instaladas cordas sobressalentes em vários pontos dos mastros e cordames para em caso de invasão pudessem ser transportados direto de uma embarcação à outra pelo ar.

Comprovado tratar-se do Guardian, Tigre Veloz comandado por Espantalho fez uma manobra evasiva, numa demonstração de que estava evitando qualquer aproximação com o navio em curso e tranquilizar a atenção da tripulação adversária, para no momento exato içar totalmente as velas, estender a temida bandeira e empreender velocidade máxima, não permitindo qualquer possibilidade de fuga do inimigo. A ocasião lhes favorecia com ventos fortes e o galeão em questão carregado e pesado, facilitaria para que tudo ocorresse como o planejado. E foi o que aconteceu. O resultado não poderia ter sido melhor, as baixas foram mínimas, assim mesmo somente do lado rival. Aqueles que sobreviveram se renderam e o capitão capturado foi mantido como prisioneiro, conforme determinou Charles Grahann. Concluído o saque da carga, livraram-se dos prisioneiros atirando-os ao mar nas chalupas improvisadas com materiais retirados do próprio navio abatido e depois o afundaram.

Passados algumas semanas em que enviou a mensagem, Claude Fontaine, acreditando na sua experiência de homem do mar e de ter calculado as possibilidades de tudo ter ocorrido como era o esperado, procurou o juiz Richardson, respeitado magistrado do reino. Depois de longa conversa e utilizando-se de muito tato e ponderações, conseguiu convencer o merintíssimo a atender ao seu pedido.

- Merintíssimo está chegando a qualquer dia ou hora, no porto principal, trazido por pessoas de minha confiança um homem a quem gostaria que o senhor acompanhasse o seu depoimento sem se apresentar, ou deixar-se ser visto. De prferência acompanhado de outras autoridades como o senhor. - Explicou Claude Fontaine.

- Mas o que significa isto? - Perguntou admirado e meio confuso o magistrado.

- Não se preocupe, acontece que esse homem é responsável por crimes bárbaros e deploráveis, cumprindo ordens de pessoas influentes do reino e da sociedade. - Esclareceu Claude Fontaine.

- Você tem noção do que está me propondo e da gravidade que isto pode gerar, efetuando uma prisão indevida e sem mandato judicial? - Advertiu o magistrado.

- Tem alguma relação com os seus negócios? - Questionou curioso o preocupado juiz.

- Não, não tem. Mas tem muito a ver com o País. - Respondeu seguro de suas convicções o elegante empresário Claude Fontaine.

Preocupado, porém curioso o magistrado Richardson concordou com os argumentos aceitando a proposta. Em seguida começou a selecionar mentalmente aqueles que poderiam ser os seus convidados para acompanhá-lo naquela missão tão atípica e preocupante.

Novamente Tigre Veloz com outra bandeira, agora inglesa tomava o seu rumo em direção a Inglaterra. A tripulação como era de se esperar vestidos com a elegância de nobres viajantes milionários navegavam em rítmo de festa e entusiasmados. Incrível mas naquele momento realmente poderiam considerar-se milionários, o carregamento que transportavam era valiosíssimo. Contudo, ainda não lhes pertenciam.

Pelo fato do saque ter acontecido em águas internacionais, não tinha como outro país reivindicar o direito sob à carga. Era intenção de Charles Grahann, mesmo depois de identificar os culpados dos crimes que a eles foram atribuídos e os autores condenados, nem mesmo a Inglaterra teria direito ao seu conteúdo, a qual seria vendida e o resultado da arrecadação dividida entre os seus corajosos lobos do mar, que a partir daquele momento estariam livres de todas as acusações e milionários.

No seu martírio da volta, o infeliz comandante capturado imaginasse o castigo a que iria se submeter preferiria mil vezes a morte a ser colocado como prisioneiro. Espantalho com sua elegância demoníaca o aterrorizava insistentemente, não lhe permitindo descanso ou até mesmo um beve cochilo aliviador. Tratava-se de uma pessoa não grata, além de um velho conhecido inimigo de todos e todos o julgavam grande devedor. A tortura chegou a ser tão angustiante que quase o levou a loucura.

Quando Tigre Veloz aportou como majestoso navio de cruzeiro, tremulando no mastro principal a orgulhosa flâmula inglesa, sua tripulação vestida a caráter, desceu em terra e chorou copiosamente, afinal foram anos a espera daquele momento tão aguardado. Seria também a oportunidade de rever familiares que nem imaginavam como poderiam se encontrar, ou até mesmo se foram responsabilizados e duramente torturados em busca de respostas e informações que desconheciam. Imediatamente, assim que conseguiram respirar o ar saudoso da pátria querida, enviaram notícias ao seu líder que apareceu depois de algumas horas vestido como um lorde. Todos riram e brincaram efusivos com a situação. Depois de acertados os detalhes da revelação foram visitar o prisioneiro que se encontrava em estado merecedor de cuidados. Sua aparência estava mais próxima de um moribundo do que o próprio capitão no auge do momento em que foi nomeado com o referido nome em terras portuguesas. Um médico se encarregou de recuperá-lo, enquanto isto o respeitado juiz estava sendo informado de todos os detalhes que convinha a missão. Antes, porém, toda a carga saqueada havia sido descarregada e colocada em lugar seguro para evitar algum tipo de acontecimento imprevisto.

Alguns dias se passaram. Quando tudo estava visivelmente normalizado, Claude Fontaine convidou os supostos amigos e protegidos pelo status de nobre personalidades - também seus alvos de esclarecimentos -, a visitarem o seu navio que acabara de adquirir e que se encontrava ancorado no porto principal. Como combinado previamente, o juiz e outras autoridades do reino encontravam-se devidamente acomodados em uma sala contígua - escolhida com capricho, envolvendo criterioso cuidado para o momento -, acompanhavam cada detalhe da conversa a bordo. Após longas trocas de amabilidades Charles orgulhoso do seu navio, mostrava prazeroso o luxo interno das acomodações provocando aos sorridentes covidados manifestações de satisfação e elogios. Sem mais delongas então chegou o fatídico momento da cuidadosa e bem elaborada ocasião. Bastou abrir uma porta para aparecer diante de todos aquele que seria o verdadeiro espectro da maldição. Quando apresentaram o prisioneiro o espanto e a incredulidade tomou conta dos convidados. Tratava-se nada menos que Johnny Flampper, o corsário bandido, que já havia assumido o ataque ao Tigre Veloz nas imediações do Canal da Mancha, acrescentando ainda que mesmo ferido se recuperasse com a ajuda dos seus comparsas. Revelou em seguida que depois de recuperado, retornou à sua vida de saqueador a mando dos ilustres figurões, atividade que admitiu praticar a vários anos sob as ordens e orientação de George Lemmon seu principal mandante. Esclarecidos os crimes, todos os envolvidos foram julgados e condenados à forca.

Concluído os trabalhos de julgamento na Corte, Claude Fontaine revelou sua verdadeira identidade como Charles Grahann e de toda sua tripulação, sendo imediatamente absolvidos de todos os crimes a eles responsabilizados, além de serem condecorados envolvendo todas as honras com comendas entregues pelo prórpio Rei em uma movimentada festa no palácio real.

Charles não abandonou suas atividades como empresário de perfumaria e ainda manteve-se como milionário e dono de um extraordinário navio de cruzeiro. Como se não bastasse recebeu do Rei, pelos seus méritos de serviços prestados à coroa o título de Sir Lord of the Golden Tiger, entregue pela Soberana Corte do Parlamento Inglês. Os amigos seguiram seus caminhos também como milionários. Todavia, agora como cidadãos respeitados na condição de livres e nobre sonhores do reino.

Imagens: Internet, Fotosearch