domingo, 27 de dezembro de 2009

Ambição, o destino de uma raridade - 4ª Parte.
















Na parte anterior, Gustave Berthelot começa a alinhavar suas suspeitas e encontra na elegante Sthéfhanie Marret a possibilidade de uma parceria refinada e inteligente. Um robusto elo investigativo está se formando.



Antes mesmo do almoço dirigiu-se a Embaixada Árabe para se encontrar com Sthéfhanie Marret, alguma coisa lhe dizia que ela não estava no Louvre por curiosidade artística. Suas observações quanto aos detalhes do vaso iam além de uma simples visitante esporádica em busca de cultura milenar e obras de arte. Com cautela talvez conseguisse alguma evidência favorável, quem sabe até um entrosamento aproveitando suas experiências internacionais. E assim, o fez.

- Senhorita Sthéfhanie espero não estar tomando o seu tempo, mas poderíamos conversar? – Foi logo propondo um diálogo.

- Sim, claro! Está no meu horário de almoço, mas podemos conversar sem problemas. – Disse a elegante espiã.

- Pois bem, eu também ainda não almocei, que tal fazermos isto em algum restaurante aqui mesmo por perto? – Convidou Gustave.

- Claro, será um prazer! – Concordou Sthéfhanie.

No restaurante sem muitos rodeios Gustave Berthelot conhecendo o passado, o presente e as habilidades da moça, supondo de que ela havia feito o mesmo em relação a ele, facilitou a conversa revelando em parte sua atividade no Museu do Louvre no dia em que a conheceu.

- Senhorita é do meu conhecimento que o seu amigo Sheik Al-Kalihah é amigo do senhor Pierre François e que também é um importante colecionador de artes antigas. Pode-me dizer como sendo sua informante, quais as recomendações dadas por ele enquanto visitava a exposição? – Perguntou de chofre Gustave, evitando qualquer dissimulação que viesse atrapalhar seus propósitos.

- Sim, senhor Gustave. Ele me recomendou discrição e que estava temeroso que o vaso em exposição não seria o legítimo. Fazendo-me atentar para alguns detalhes que me ajudariam a entender e documentar as informações detectadas. Olhar com atenção o desenho das pedras da alça esquerda do vaso. Segundo ele haveria três sequências ao inverso da alça direita. A primeira que os rubis formariam um elo de duas alianças entrelaçadas e amarradas por esmeraldas; a segunda, os diamantes formariam um colar discretamente desenhado; e a terceira, as alianças seriam o pingente. – Esclareceu Sthéfhanie convicta de que suas informações não iriam comprometer o seu trabalho e depois causar certo impacto à percepção do experiente espião.

Continuou Sthéfhanie: - Sr. Gustave sei das suas atividades como espião frances de muitos anos. Sei também que o senhor não é nenhum jornalista e que está cumprindo uma função que não é muito diferente da minha, portanto, acho que deveríamos trabalhar juntos pela mesma causa. O interesse do Sheik não é pela obra em si, mas, proteger o patrimônio do amigo, que como ele, não gostaria de ver um objeto seu sendo subtraído de forma tão mesquinha e condenável. E por fim, prendendo os ladrões chegaremos ao receptador que também é um perigo para qualquer colecionador honesto. – Sintetizou a jovem espiã sem embaraço.

Gustave impressionou-se com a clareza dos detalhes que nem ele mesmo sabia, visto que, foi contratado para descobrir, prender os ladrões e desarticular a suposta rede de contrabandistas de artes, não lhe sendo adiantado qualquer detalhe que identificasse a obra em questão. Feliz com o que lhe foi dado de bandeja, através das informações adicionais presenteadas pela talentosa e atraente espiã, resolveram trabalhar em parceria dividindo entre eles o que sabiam até ali, inclusive dos possíveis suspeitos.

Uma vez acertado a parceria Gustave não perdeu a oportunidade de se informar até onde Sthéfhanie havia progredido nas suas investigações.

- E quanto a Olivier Maillard, o piloto do helicóptero, você esteve com ele não?

- Sim, claro! E você presenciou nosso encontro no Café Sort. Notei sua presença e sua preocupação. – Disse a moça segura de si.

- Olivier Maillard é um tipo de fantoche para Jean-Mari o genro do senhor Pierre François. Não acredito a principio que tenha alguma participação efetiva no roubo. Pelo que pude notar, a menos que esconde com muita naturalidade seu envolvimento, nesse caso temos que admitir, seria um ator muito talentoso. – Completou Sthéfhanie.

- Ele entrou de féria no seu serviço hoje, com viagem marcada para Nice onde irá aproveitar o seu período de descanso. Não acha uma coincidência? – Questionou Gustave.

- Eu entendo como uma casualidade, inclusive ele se mostrou certo constrangimento com o presente das acomodações em um amplo apartamento onde com a família pudessem se acomodar, oferecido pelo senhor Jean-Mari. – Expôs seu ponto de vista a jovem espiã.

- Quer dizer que você não vê envolvimento nesta viagem, mesmo tendo o Mar Mediterrâneo como rota de fuga para a peça? – Interessou-se o experiente Gustave.

- Pode até ser, mas, como disse acho improvável, a não ser que ele esteja sendo um burro de carga involuntário conduzindo a encomenda que até aquele momento do nosso encontro não tinha conhecimento de qualquer envolvimento. Sua simplicidade de expressão denota certa inocência, vê-se que não se trata de uma pessoa acostumada a falcatruas, ao ilícito. – Esclareceu Sthéfhanie.

- Não acha conveniente uma verificação? – Questionou Gustave.

- Tanto acho que já estou com viagem marcada para logo mais à noite com destino àquela cidade. – Disse a moça.

- E o que você pretende com isto? Tem algum plano em mente? – Voltou a perguntar Gustave.

- Plano nenhum de imediato até ver como será o andar da carruagem. Os acontecimentos se desdobram e a cada desdobramento uma ação pertinente, concorda? Portanto de imediato, só pretendo acompanhar de perto seus passos, e, não será por muito tempo. Qualquer vacilo de sua parte estarei ao lado discretamente fazendo o meu trabalho. Se realmente ele tiver essa missão, sua participação será de imediato comprovada e alguém o estará esperando quem sabe até no próprio aeroporto de Nice. Ele parte amanhã, como já disse, eu faço isto hoje, portanto, estarei lá antes dele. – Arrematou Sthéfhanie.

- O hotel em que estarei hospedada fica a poucos metros de onde ele ficará com a família, para não comprometer a casualidade do nosso possível encontro, que não tenho dúvidas irá acontecer. – Esclareceu mais uma vez a espiã.

- Melhor assim. Enquanto você verifica por lá, estarei dando prosseguimento por aqui, e na medida em que for descobrindo novidades vou lhe informando. – Disse Gustave confiante nos resultados da parceria, mesmo porque adquiriu certa confiança na colega e o seu charme contagiante facilitaria em muito as perspectivas e os resultados de serem coroados com os louros merecidos.

- Como disse se houver qualquer envolvimento, os esclarecimentos deverão acontecer de um dia para o outro. Quem quer que seja não irá perder tempo. Os envolvidos estão com a faca nos dentes, e sabem que a identificação da peça quanto a sua originalidade só não foi divulgada por questões de estratégia. É notório que aqueles que freqüentam a mostra não se tratam apenas de leigos, há entre os visitantes exímios conhecedores e estudiosos de raridades antigas, que podem detectar sem muita dificuldade as falhas. Depois existem milhões de euros envolvidos que também podem muito bem ajudar a abafar o assunto. E o Museu mantém a questão sob sigilo para não comprometer o êxito da exposição. Contudo, é evidente que toda a comunidade especializada em obras de artes já deve estar sabendo e também se envolvendo na elucidação do caso. Os colecionadores honestos são unidos, coesos contra este tipo de acontecimento. Afinal, qualquer um pode ser a vítima do dia seguinte. E os seus patrimônios são valiosíssimos. Então eles fecham questão contra os falsificadores, contrabandista e receptadores inescrupulosos, bandidos. Você tem como exemplo o Sheik Al-Kalihah, ele não se envolveu por amizade simplesmente, certamente já foi alvo e vítima destes bandidos ou de outros semelhantes, e agora quer entrar na briga, somente assim, estaria somando a outras forças e constituindo um exército da salvação das artes, concorda? – Disse confiante Sthéfhanie.

- Eu concordo, porém em todo caso a astúcia será a nossa carta coringa que devemos ter na manga e a chave para o bom êxito na conclusão do nosso trabalho. – Advertiu Gustave.

- Não tenha dúvida! Devo esclarecer que esta não será a minha primeira experiência, pode ter certeza. – Respondeu com certa irritação, embora sorrindo a experiente espiã.

- E quanto ao senhor, o que tem para me adiantar? – Ironizou Sthéfhanie.

- Gustave Berthelot, convicto da sua obrigação como parceiro, fez toda uma resenha de suas descobertas e dúvidas, deixando claro sua quase certeza de que foi através de uma micro câmera de filmagem, acoplada em outro óculos similar ao usado por Pierre François o responsável pelas informações secretas da senha do cofre das artes. E só foi possível através da troca dos óculos em um momento muito raro. E como isto foi possível? Teria que ser por intermédio de alguém que estivesse bem próximo e conhecesse os hábitos do senhor Pierre, já que ele não deixa de usá-los em hipótese alguma, salvo quando vai dormir ou tomar banho, eu acredito. No que concordou Sthéfhanie, deixando claro que tal ardil já havia passado por sua cabeça, conjecturando o mesmo artifício. Só que ela se interessou mais em interceptar a retirada do vaso do território frances, prender os ladrões, revelar e eliminar de circulação os mentores.

O almoço transcorreu-se cordial e bem proveitoso. Acertou-se que cada um se encarregaria de uma parte nas investigações. Despediram-se deixando os acontecimentos progredirem-se naturalmente.

Confiante de que havia agido corretamente, assim que se despediram Gustave continuou com o seu cronograma programado para aquele dia sem alteração. Procurou por indicação do amigo e parceiro de profissão Philippi Boulet um conceituado designer gráfico com ateliê instalado no centro da Cidade Luz. Após alguns minutos de conversa entregou-lhe uma foto do senhor Pierre François fotografado em close para ser trabalhada a armação dos óculos em 3D.

Enquanto acertava os detalhes de sua curiosidade quanto à melhor avaliação das imagens dos óculos de Pierre François, Gustave lembrou-se que havia outra foto recente, arquivada no seu arquivo eletrônico, disponível na sua maleta que se encontrava no banco traseiro do seu carro, estacionado a poucos metros de onde estavam. Chamou o auxiliar do designer entregou-lhe as chaves e solicitou o obséquio de lhe trazer os seus pertences explicando onde encontrá-los. Em menos de vinte minutos após a saída do rapaz, ouviu-se uma grande explosão. Mesmo achando estranho o barulho, continuaram indiferentes, tratando dos seus negócios. Como o moço demorava regressar com os objetos, resolveram certificar-se dos motivos. Ao chegar à rua perceberam a movimentação nas proximidades do estacionamento onde estaria o automóvel. Constataram que a explosão havia detonado o veículo e o rapaz que se encontrava no seu interior. Não foi difícil concluir que aquela bomba tinha endereço certo, acabar com a vida de Gustave, e o tipo de explosivo somente a perícia seria capaz de identificar, mas pelas características estava quase evidente tratar-se do explosivo sintético C4 programado para detonar segundos após a pessoa adentrar no automóvel. Por infelicidade e sorte sua, era de um inocente jovem no cumprimento de um favor. Preocupado com o ocorrido recorreu à sua experiência para concluir que quem quer que fosse o mandante estaria apreensivo e não era tão experiente em assuntos daquela envergadura, talvez o encarregado sim, mas também não foi astuto e preciso o suficiente como deveria. Se a bomba tivesse sido acionada por controle remoto o objetivo teria sido alcançado, e ele já era. Ainda manipulando o colar de contas do seu rosário de esclarecimentos, deduziu que estava prematuro aquele tipo de acontecimento, mesmo porque as investigações estavam apenas começando e ainda não havia nada conclusivo, apenas algumas interrogações longe de serem concretas. Depois poucas pessoas sabiam do seu envolvimento no esclarecimento do caso. Sacudiu a cabeça com expressão de desaprovação àquela atitude, dizendo entre dentes mais um de seus velhos bordões: “Tem vespa perigosa mexendo na colméia de abelhas obreiras.”

Não deixe de continuar acompanhando esta história que a cada momento pode ser uma surpresa emocionante.

Imagens: Internet.

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