quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Infância, saudosa inocência


As gerações dos anos 50 ou décadas anteriores, um tempo não muito distante, hoje pode ser considerada careta, antiquada, ultrapassada, aos olhos dos jovens antenados do momento. Mas andam de cabeça erguida conservando os princípios que a sociedade da época os mantinha com orgulho. Princípios estes, considerados relíquias memoráveis que não merecem ser apagadas. Uma descendência que privilegiava o caráter sem mácula, coeso e sustentado por ensinamentos alicerçados na boa conduta dos seus antepassados.

É essa geração que tenta de forma incansável colocar no ápice dos trilhos, o futuro de um nome, de uma identidade, de um poder irrestrito de cultivar a luminosidade de um passado nobre.

Na verdade, nem todas as personagens dessa época ficaram no obscuro, no ostracismo. Sendo autênticos remanescentes de um tempo onde a felicidade simples e contemplativa imperava. Distante da tecnologia dos modelos contemporâneos, mas, com maestria, exerciam a arte da criatividade ao confeccionar de forma artesanal os seus próprios brinquedos.

Não dispunha de vídeo games, micro computador, internet, tevê em cores, a cabo, MP3, MP4, iPad, tablet e um monte de recursos eletrônicos já profetizados por Marshall MacLuhan na sua obra "Guerra e Paz na Aldeia Global (1968)", e que as crianças de hoje já os conhecem desde o parto. Um fato tão real quanto aos modernos equipamentos cirúrgicos e preventivos hoje disponíveis.

Até os anos 70/80, as músicas continham além de melodias saborosas ao deleite dos ouvidos, letras construtivas, elegantes, mensagens singelas e graciosas. Os recursos fonográficos estavam longe do alcance do século XXI, mas com orgulho os sobreviventes desse período se envaidece têlo vivido. As crianças cultivavam a inocência. Acreditava em Papai Noel, fadas, anjos, cegonha, amizades autênticas e, sobretudo em Deus.

As crianças tinham dons inventivos e criativos. Brincavase de carrinhos, às vezes construídos por eles próprios; bolinha de gude, pião, cabo de guerra, arremessar finca, papagaio, pique esconde, cabra cega, a sua direita está vaga, salve cadeia e muitas outras brincadeiras.

As garotas divertiamse com bonecas simples  sem os atuais recursos de voz  às vezes de pano, casinha, cozinhadinho, entre outras diversões com a participação dos garotos. Poderia nesta explanação, muito bem omitir essa relação de atividades compartilhadas, também não seria justo serem ofuscadas. A galerinha atual, talvez não as conheça, por isto estão aí modestamente mencionadas.

Era uma infância que não precisava de academia. Gastavase muita energia com atividades inocentes e virtuosas. Estudavase muito... Era uma determinação dos pais, baseada no princípio de que, quando crescessem haveriam de gozar uma vida melhor e mais abundante. Sem quem sabe, ter que enfrentar as dificuldades ocorridas com os seus genitores na labuta diária, mesmo existindo boa vontade e determinação. 
  
Esse era o argumento utilizado como forma de incentivo, na vanguarda de encarar o futuro com alicerce estruturado, diante das intempéries do cotidiano.

O respeito, não se traduzia em medo, mas em obediência, em princípios. Pedir benção, não significava uma obrigação, mas uma forma dos pais privilegiarem sua cria com uma dádiva vinda dos céus. E tomar banho, escovar os dentes, não era uma provocação, mas um cuidado indispensável à higiene. 
   
E hoje, mudou-se muito? Nem tudo. As brincadeiras de outrora não fazem mais sentido para quem nos seus primeiros movimentos já utilizam carrinhos para locomoção. No entanto, a tecnologia e a consequente atitude fria dos objetos modernos, deteriorou o lúdico que minava na pele queimada pelo sol. E no coração radiante por novas descobertas. Êhhhhh... Saudade!

O suor que escorria pelo corpo, depois de uma tarde inesquecível desencadeada por uma eletrizante partida de futebol  as peladas , pelas ruas nuas e cheias de pedras das cidades sem o asfalto, ou nos campos improvisados sem gramados espetaculares, mas de chão duro e seco. No coração dessa garotada, reinava a inocência, a ausência da maldade declarada, existia o perdão e o esquecimento.

Chegou à hora de tocar a bola pra frente. Ir de encontro à bola da vez, em sintonia com o que há de mais avançado no mundo cibernético. Atingir a máxima capitulação da fronteira entre a infância e a vida adulta.

Antes se chegou à lua. Nos dias de hoje, o universo ficou relativamente pequeno, tornandose possível e fácil, transferirse das histórias de ficção à realidade plenamente tocável.

Enquanto uns viviam no condicionado paradigma do convencionalismo da época, hoje as preocupações giram em torno do visual, da estética.

É normal encontrar crianças com menos de cinco anos, frequentando salões de beleza, usando maquiagem, cabelos adornados, unhas pintadas, óculos escuro, sapatos de saltos altos, roupas espelhadas nos artistas da tevê, do cinema, ou na própria mãe. Vitrine dinâmica na profusão contínua das criações e inventos do mundo globalizado.

Para os meninos de hoje, os brinquedos eletro/eletrônicos não são duráveis, as inovações estão em mutação contínua e sem aviso prévio. E, na natureza humana as ansiedades aumentaram, antecipando de forma prematura de uma fase lírica, inesgotável de generosidade e irresponsabilidade, para uma fase adulta totalmente responsável  pelo menos é o que se pressupõe  com total aquiescência dos pais, da família.

Essa atitude negligente e despropositada tornouse alvo fácil à propagação e revelação dos casos escabrosos de comportamento, de pedofilia, sedução, corrupção, aliciamento, gangues, sequestro, tráfico. Enfim, crimes de todos os matizes contra a criança.

Comprovando sem rodeios, que a inocência já foi ultrajada, pelo menos há muito tempo. E a sociedade com os olhos vendados, na sua condição torpe e inadequada, continua os impedindo da contemplação do horizonte infinito. Com a prática responsável dos ensinamentos Divino. 
   
Sabese também, que com todo o advento da modernidade, as crianças de hoje, encontramse mais vulneráveis. Os casos de internações aumentaram, a ciência evoluiu, enquanto as doenças misteriosas se intensificaram. As infecções hospitalares prosperaram, o famigerado fantasma da fome e da sede mostrou a sua cara.

Na África e em outros lugares do planeta menos assistidos, a Aids com sua foice impiedosa não tem poupado o seu golpe fatal. Se procurar nas anotações dos hospitais, clínicas e postos de saúde, vai-se encontrar doenças que nem os pesquisadores mais notáveis de algum tempo atrás, imaginariam que um dia viessem a existir.

Não há dados comprovados de que no passado os casos graves do presente também se manifestavam com tanto rigor, apenas uma certeza indiscutível se verifica refletida no incondicional mapa da sobrevivência. Antes a imunidade infantil gozava de mais prestígio. Não se via com tanta incidência as intoxicações causadas por alimentos contaminados.

As produções agrícolas não sofriam com o excesso de instrumentos e métodos de controle de pragas, como agrotóxicos poderosos, aplicados de maneira irresponsável pelos produtores em detrimento de lucros fáceis. O cultivo de frutas e legumes era natural, quase que totalmente feito de maneira simples, orgânica, mas de grande eficiência nutritiva.

Por que se tornou necessário a utilização de inúmeras vacinas preventivas? Ter que deixar a marca – teste do pezinho – do pé do recém nascido gravada como forma de detectar males oportunistas, endêmicos e contagiosos? Se antes, com um simples chazinho caseiro, ou uma simples imposição de fé – crendices – por meio das benzições, praticadas geralmente pelas pessoas mais idosas  tradição herdada de várias gerações. Propiciava o bem estar tão desejado, preservando a saúde em toda sua plenitude? 

Será que a ignorância tinha lá o seu valor? Ou será a ignorância a consequência de tantos acontecimentos positivos? Será que foi essa mesma modernidade através dos meios de comunicação que veio trazer à tona as evidências do real, revelando esses males à nitidez dos acontecimentos tão cruéis?

Todas estas perguntas bailam impunes nos lares de nossa comunidade assistida ou não, porém sedenta de proteção, sedenta do olhar dos céus.

A perpetuação da inocência não é mais um predicado só das crianças. Os adultos já fabulam essa virtude, mesmo de forma abstrata, mas com o inconsciente em pleno exercício de sua nobreza infantil.

Fernando Pessoa, através de fragmento do seu poema Girassol é quem dará o golpe de misericórdia para esse relato de reflexão. "...Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...// Se falo na natureza não é porque a amo, amo-a por isso, // Porque quem ama nunca sabe por que ama, nem o que é amar...// Amar é a eterna inocência// E a única inocência é não pensar."


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Imagem: Google imagens


3 comentários:

Clara Wendy disse...

É uma maldade sem tamanho a corrupção infantil.
É um julgamento sem perdão todo e qualquer tipo de maldade feita às crianças, tirando a singeleza de sua inocência, deveriam ser punidos sem dó nem piedade quem deprava a inocência de uma criança.
Linda postagem muito bem colocada sua idéia belíssimas imagens.
Parabéns querido Dilson, gostei muito.
Bjus Wendy

Juloren disse...

Amar é um estado de gratidão vindo da alma é uma herança herdada pela natureza divina.
Amar não tem explicação.Simplesmente se ama e não se sabe por que,sabemos que vem de Deus.
É uma dor tão gostosa no coração que chega transbordar transcendendo a felicidade da alma que acaba por não sentir essa dor, de tão divina que ela é. “A divindade da inocência”.
Valorosa postagem Dilson, mais postagens assim devem ser espalhadas mostrando os princípios morais, considerados relíquias memoráveis que não merecem ser apagados e nunca deturpados. Uma descendência que privilegiam o caráter sem mácula, toda a singeleza de uma “SAUDOSA INOCÊNCIA”, e, todos aqueles que deturparem uma criança tirando sua dignidade, sua inocência, devem ser punidos sem dó nem piedade, um julgamento sem perdão.
Bjus Juloren

Juraci disse...

Lindos e bons tempos eram aqueles. Amar é um estado de gratidão que vem da alma, através da “Divindade”. Uma descendência que privilegiavam o caráter sem mácula, toda a singeleza de uma “SAUDOSA INOCÊNCIA”.

Hoje os tempos são outros. Os adultos já fabulam essa virtude, a violência tomou conta do mundo, a modernidade trouxe consigo a crueldade.

Percebe-se nos rostinhos tão meigos e cheios de mágoa.

Todos que deturpam uma criança tirando sua dignidade, sua inocência, seu caráter, devem ser punidos sem dó nem piedade.
Um julgamento sem perdão.
Valorosa postagem Dilson,parabéns.
Bjus Juloren