Primeira prosa longa de Lima Barreto
Texto: Rinaldo Gama
Artigo extraído da revista Veja de 03/12/1997, pág. 138.
Foto: Internet
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Seria um exagero afirmar que O Subterrâneo do Morro do Castelo, misto de reportagem e folhetim publicado em 1905 pelo escritor carioca Afonso Henriques e Lima Barreto no jornal O Correio da Manhã, e só agora lançado em livro (Editora Dantes; 98 paginas; 18 reais), já revelava o talento indiscutível do autor de O Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915). Ainda assim, a redescoberta deste que é o primeiro esforço acabado de um dos maiores escritores brasileiros para chegar a uma prosa fccional e fôlego longo constitui um acontecimento literário. Como considerava O Subterrâneo do Morro do Castelo "muito fraco, muito tênue", Francisco de Assis Barbosa, biógrafo de Lima Barreto e organizador, ao lado de M. Cavalcanti Proença e Antonio Houaiss, das obras completas do escritor, publicadas em 1956, decidiu deixar de fora aquele texto híbrido. Assim, criou-se uma enorme lacuna, só agora preenchida.
Do ponto de vista da carreira de Lima Barreto, O Subterrâneo do Morro do Castelo por ser entendido como uma originalíssima, inteligente e bem-sucedida estratégia do candidato a escritor que ele era em 1905 para se projetar nos circuitos literários e no gosto do público. Mulato, pobre, o pai enlouquecido, Lima Barreto não conseguira concluir o curso de engenharia na Escola Politécnica, um recinto de exacerbado preconceito racial. Empregado como amanuense na Secretaria da Guerra e mergulhado em frustrações, entegou-se a boemia e aí travou contato com os intelectuais e jornalistas que acabariam por arranjar-lhe o emprego no Correio. Escalado para fazer uma série de reportagens sobre escavações no Morro do Castelo à época da construção da Avenida Central - hoje Rio Branco -, inventou que ali, onde se acreditava existirem tesouros deixados pelos jesuítas havia sido encontrado um manuscrito. Passou a publicar, então, junto com as reportagens, trechos do suposto caderno - no que acabou se transformando em folhetim de grande sucesso.
Como literatura, o folhetim - que conta a história de uma mulher casada que vive um relacionamento extraconjugal com um jesuíta - tem alguns problemas. Lima Barreto derrapa em várias passagens, sobretudo no âmbito da trama. Num determinado momento da história, por exemplo o jesuíta apaixonado recebe ordem para se estabelecer em São Paulo. E Lima Barreto deixa de incluir uma cena que seria natural - a da despedida entre ele e sua amante, Dona Garça. Apesar de suas fragilidades, o texto também tem boas passagens, quase sempre irônicas. Se Lima Barreto não foi daqueles autores que nascem prontos, não há dúvida de que amadureceu rapidamente, chegando à excelência já no segundo livro, Policarpo Quaresma. Conhecer o princípio dessa carreira interrompida em 1922, depois e uma existência de apenas 41 anos, é fundamental para compreender melhor a própria literatura brasileira.
Paris foi uma festa para a literatura brasileira
Texto: Carlos Graieb
Artigo extraído da revista Veja de 01/04/1998, pág. 117.
Foto Internet - Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto e Lygia Fagundes Telles
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Aquilo que o romancista americano Ernest Hemingway já sabia no começo do século (XX), 35 escritores brasileiros acabam de descobrir: Paris é uma festa. Uma festa para
a literatura. Incluindo nomes como Jorge Amado, Raduan Nassar, Chico Buarque e Lygia Fagundes Telles, um time de autores nacionais foi à capital francesa para tomar parte do 18º Salão do Livro, um dos principais eventos editoriais da Europa, que se encerrou na última quarta-feira (data anterior a 01/04/1998). O Brasil era o país homenageado e sua praticipação foi resumida com as mesmas palavras por todos os organizadores "Um sucesso".
É a segunda vez, em quatro anos, que o Brasil serve de tema a uma grande feira literária. Na primeira ocasião, em 1994, o cenário era Frankfurt. O Brasil levou samba e mulatas, mas esqueceu o que interessava: a divulgação de seus autores. Na França, o erro não se repetiu. Além de uma sóbria exposição nos pavilhões do salão, não houve Carnaval para francês ver. A animação ficou mesmo por conta dos encontros entre o público francês e os romancistas, poetas e ensaístas brasileiros que foram a Paris. Cerca de 220.000 pessoas passaram pelo Salão do Livro. O público foi 10% maior que o de 1997, quando o país homenageado era o Japão.
É a segunda vez, em quatro anos, que o Brasil serve de tema a uma grande feira literária. Na primeira ocasião, em 1994, o cenário era Frankfurt. O Brasil levou samba e mulatas, mas esqueceu o que interessava: a divulgação de seus autores. Na França, o erro não se repetiu. Além de uma sóbria exposição nos pavilhões do salão, não houve Carnaval para francês ver. A animação ficou mesmo por conta dos encontros entre o público francês e os romancistas, poetas e ensaístas brasileiros que foram a Paris. Cerca de 220.000 pessoas passaram pelo Salão do Livro. O público foi 10% maior que o de 1997, quando o país homenageado era o Japão.
Do ponto de vista comercial, a importância do salão de Paris é relativa. É sobretudo gente comum, à procura de um programa de final de semana, que percorre os seus corredores - ao contrário de Frankfurt, que recebe a cada ano milhares de profissionais do meio editorial, que decidem o que o mundo vai ler nos meses seguintes. Mesmo assim, os dividendos gerados pela ida à França devem ser elevados para os escritores brasileiros. Ainda que a estrela do evento tenha sido o mago Paulo Coelho, jovens como Bernardo Carvalho, autor de Aberração, conseguiram receber grande atenção. Basta dizer que, além da cobertura diária da feira, o Le Monde e o Libération, principais jornais franceses, com circulação e influência em toda a União Européia, publicaram suplementos especiais sobre a literatura brasileira.
Stephen King lança romance em formato eletrônico
Artigo extraído da revista Veja de 22/03/2000, pág. 162
Foto: Internet
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Dizem que os melhores livros são aqueles que se podem levar para cama. Ao lançar um novo romance, o escritor americano Stephen King desprezou essa máxima. A obra, Riding the Bullet (algo como "A Bordo da Bala"), só pode ser lida em formato eletrônico, na tela de um PC ou dos aparelhos conhecidos como eBooks, que ainda não estão à venda no Brasil. É a primeira vez que um autor com a fama e o sucesso comercial de King faz uma aposta desse gênero. O mercado está de olho. Se os resultados forem bons, a nova forma de publicação deve ganhar forte impulso. Por dispensar o papel e eliminar vários custos industriais, o livro eletrônico é barato.
No site da editora Simon & Schuster, Riding the Bullet sai por 2,50 dólares. O preço é menor do que o de um livro de bolso. Livrarias virtuais, como a Amazon.com, até ofereceram a obra de graça, junto com um programa de leitura que "vira as páginas" e permite outras operações, como grifar ou fazer notas.
O romance, que ainda não tem tradução para o portugês, fala de um rapaz que precisa viajar às pressas para visitar a mãe doente. Ao pegar uma carona, ele descobre que embarcou no carro de uma entidade de outro mundo, que o obriga a fazer uma escolha macabra.
Ao longo da semana (anterior ao dia 22/03/2000), a demanda na internet permaneceu alta. Foi preciso ter paciência para capturar uma cópia do texto. Tudo indica que os fãs não vão abandonar o "mestre do terror". Inclusive aqueles que têm medo de computadores.
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