domingo, 6 de dezembro de 2020

Valentes e Corajosos Homens do Mar – Última Parte, Final.

Na parte anterior capitão Moribundo depois de enfrentar desafios perigosos, aproxima-se dos seus desafetos instalando-se provisoriamente na França. Torna-se influente empresário no setor de perfumaria e em seguida chega à sua terra nata como um Don Juan e rico empreendedor. É o momento de articular suas ações. 

Com sua visão estudada e bem elaborada de um experiente investidor, transformou um velho casarão sem muita utilidade, numa vistosa e ampla loja de perfumes, contendo todos os requintes necessários capaz de atrair a nobreza inglesa. Aliando-se obviamente, a estes pormenores, o seu incontestável charme de galã e conquistador incorrigível.

Não demorou muito já estava frequentando às suntuosas e concorridas festas da corte. O que lhe favoreceu divulgar os seus cobiçados produtos de perfumaria, permitindo-o com isto, conquistar elevado destaque entre a sociedade privilegiada inglesa, ao ponto de rapidamente se tornarem luxo de consumo para todas as ricas e influentes damas da corte.

Na mesma proporção em que empregava com sucesso o seu admirável fascínio de "bon-vivant" e empresário em ascensão, no país mais influente do comércio global da época. Por obra do destino conheceu Mary Christine Lemmon, 22 anos, filha caçula de George Lemmon, justamente o seu principal alvo da vingança. Aquele que o incriminou para subtrair do Rei, incalculável fortuna em ouro, pedras preciosas e especiarias.

A partir do momento em que ficou conhecendo a jovem Mary Christine, além dos reveses que a vida o
proporcionaria, só restava esperar e dar corda à imaginação fértil da qual ele era um exímio especialista. Além, é claro, infiltrar na intimidade da família e aprofundar sua atenção nas ações do seu patriarca, e descobrir até onde se estendia seus negócios e seus compromissos financeiros.

Fazendo-se valer dos seus refinados gestos de elegante conquistador, e atencioso "gentleman", não demorou para se tornar a pessoa de confiança do seu alvo: o desafeto George Lemmon. O desfecho e a consolidação da sua vingança, que provaria sua inocência e de seus amigos seria uma questão de tempo e de oportunidade.

Enquanto isto Espantalho e seus amigos curtiam suas férias, em verdadeiras festanças no litoral francês, nas quais incluía as inquietantes tabernas e casas de mulheres, onde conseguiam afogar a inquietante espera, através do consumo desenfreado das refrescantes, ora calientes bebidas da região.

Sem, contudo, deixar que os prazeres da vida interferissem no objetivo da missão, mantinham-se sempre bem-dispostos, aguardando o chamado do seu líder. Estavam protegidos sob o manto de viajantes em busca de negócios e de prazer pelo continente europeu. E para espairecer do abusivo ritmo que levavam, nos raros momentos de descanso, eles escolhiam impreterivelmente o conforto dos aconchegantes aposentos a bordo do inigualável Tigre Veloz.

Charles inteligentemente infiltrado nos bastidores da burguesia e dos negócios inglês, é informado de que um grande e precioso carregamento contendo finíssimas peças de sedas, riquezas em porcelanas e pedraria finas, principalmente de jade, estava para sair da China com destino à Inglaterra.

Sem hesitação, enviou um mensageiro levando consigo em caráter de urgência, um recado codificado até aos seus corajosos companheiros, informando-lhes da necessidade de interceptar em águas internacionais do Pacífico o navio Guardian, que navegava com bandeira holandesa.

O seu comandante deveria ser mantido como prisioneiro, e libertar toda tripulação em improvisadas chalupas. Após saquear a valiosa carga, deveriam afundar a embarcação e se dirigirem rapidamente à Inglaterra.

Assim que tomou conhecimento da mensagem, a tripulação ansiosa por novos desafios, pôs-se a caminho contente por voltar à ação. Todos estavam se sentindo desgastados e irritados pelo ostracismo a que estavam submetidos.

Partiram ainda na madrugada daquele mesmo dia. Até alcançar o ponto ideal do cargueiro em vista, seriam pelo menos três semanas de navegação. Ainda assim, teriam que se fazer um estudo pormenorizado para descobrir em que curso estaria navegando, além de verificar as possibilidades e análises detalhadas da melhor abordagem.

Não poderiam falhar, porque estava naquela embarcação à chave principal que viria abrir as portas para o futuro, proporcionando-lhes toda tranquilidade desejada de uma vida farta, digna somente dos ricos.

Havia acabado de dobrar o Cabo da Boa Esperança, também conhecido como Cabo das Tormentas quando por uma incrível ironia o mar ficou revolto, comportamento muito comum para todos os navegantes daquela área. Preocupados abaixaram as velas a meio mastro, navegaram com extrema cautela, afastando-se um pouco da costa para evitar qualquer arrebentação.

Estavam numa zona repleta de perigosas elevações rochosas. Algumas possíveis de serem vistas com mais facilidade por sobressaírem sobre as ondas, outras ficavam encobertas pelas águas. Diante daquela situação de agitação das águas, o perigo seria iminente. Cuidadosos faziam inúmeros cálculos de probabilidades. Qualquer desvio perderiam a oportunidade milionária pela qual arriscavam suas vidas.

Após outros dois dias de constantes preocupações, ouviram-se gritos de alerta vindos do mastro de observação. Todos viraram em direção do horizonte na espera e divisar a embarcação que mais se assemelhava a um ponto distante no infinito, balançando suas velas. Não tardaria seria possível identificar sua origem por intermédio da sua bandeira e suas características de cargueiro.

Foram momentos de ansiedade e tensão. Os homens que seriam os responsáveis pelos canhões providenciaram todo o necessário para uma vitoriosa contenda, os demais com suas armas prontas e vistoriadas também aguardavam impacientes. Inclusive foram instaladas cordas sobressalentes em vários pontos dos mastros e cordames para em caso de uma invasão, pudessem ser transportados direto de uma embarcação à outra pelo ar.

Comprovado tratar-se do Guardian, Tigre Veloz comandado por Espantalho fez uma manobra evasiva, numa demonstração de que estava evitando qualquer aproximação. Evitando deixar qualquer eventual suspeita, ainda com o navio em curso, procuraram minimizar a atenção da tripulação adversária, para no momento exato içar totalmente as velas, estender a temida bandeira da caveira, e empreender velocidade máxima, não permitindo qualquer possibilidade de fuga do inimigo. A ocasião lhes favorecia com ventos fortes e o galeão em questão carregado e pesado, facilitaria para que tudo ocorresse como o planejado. E foi o que aconteceu.

O resultado não poderia ter sido melhor, as baixas foram mínimas, assim mesmo somente do lado rival. Aqueles que sobreviveram se renderam e o capitão capturado foi mantido como prisioneiro, conforme determinou Charles Grahann. Concluído o saque da carga, livraram-se dos prisioneiros atirando-os ao mar nas chalupas improvisadas com materiais retirados do próprio navio abatido e depois o afundaram.

Passados algumas semanas que havia enviado a mensagem, Claude Fontaine, acreditando na sua experiência de homem do mar, e de ter calculado as possibilidades de tudo ter ocorrido como era o esperado, procurou o juiz Richardson, respeitado magistrado do reino. Depois de longa conversa utilizando-se de muito tato e ponderações, conseguiu convencer o meritíssimo a atender ao seu pedido.

– Meritíssimo está chegando a qualquer dia ou hora, no porto principal, trazido por pessoas de minha confiança, um homem a quem gostaria que o senhor acompanhasse o seu depoimento sem se apresentar, ou deixar-se ser pego de surpresa. De preferência acompanhado de outras autoridades como o senhor. – Explicou Claude Fontaine.

– Mas o que significa isto? – Perguntou admirado e meio confuso o magistrado.

– Não se preocupe, acontece que esse homem é responsável por crimes bárbaros e deploráveis, cumprindo ordens de pessoas influentes do reino e da sociedade. – Esclareceu Claude Fontaine.

– Você tem noção sobre que está me propondo e da gravidade que isto pode representar, sugerindo que eu efetue uma prisão indevida e sem mandado judicial? – Advertiu o magistrado.

– Isto tem alguma relação com os seus negócios? – Questionou curioso o preocupado juiz.

– Não, não tem. Mas tem muito a ver com o País. – Respondeu seguro de suas convicções o elegante empresário Claude Fontaine.

Preocupado, porém curioso o magistrado Richardson concordou com os argumentos aceitando a proposta. Em seguida começou a selecionar mentalmente aqueles que poderiam ser os seus convidados, para acompanhá-lo naquela missão atípica e preocupante.

Novamente Tigre Veloz com outra bandeira, agora inglesa tomava o seu rumo em direção a Inglaterra. A tripulação como era de se esperar vestidos com a elegância de nobres viajantes milionários, navegavam entusiasmados em ritmo de festas. Incrível, mas naquele momento realmente, poderiam sim, considerar-se milionários. O carregamento que transportavam era valiosíssimo.

Pelo fato de o saque ter ocorrido em águas internacionais, sem a menor chance de outro país reivindicar o direito sobre à carga. Nem mesmo a Inglaterra naquele momento, teria direito ao seu conteúdo. Já estava tudo planejado, a intenção de Charles Grahann, após revelar e identificar os culpados pelos crimes dos quais eles não eram culpados, e os verdadeiros autores condenados, a carga seria vendida e o resultado da arrecadação, dividida entre os seus corajosos lobos do mar. Presenteando-os com a liberdade e irem e virem sem nenhum temor, livres de todas as acusações e, acima de tudo, milionários.

Se o infeliz comandante capturado imaginasse o castigo a que iria se submeter, preferiria mil vezes a morte a ser colocado como prisioneiro. Realmente, sua vida naquele momento não valia nada. Ainda no seu martírio da volta, Espantalho com sua elegância demoníaca o aterrorizava insistentemente, não lhe permitindo descanso ou até mesmo um breve cochilo apaziguador.

O comandante prisioneiro, era considerado por todos navegantes, como uma pessoa maléfica, desprezível, sem escrúpulos e ambicioso. Considerando o seu passado pregresso, até que a tortura não chegou a ser tão angustiante, mas quase o levou a loucura.

Quando Tigre Veloz aportou como majestoso navio de cruzeiro, tremulando no mastro principal a orgulhosa flâmula inglesa, sua tripulação vestida a caráter, desceu em terra e chorou copiosamente. Afinal foram anos a espera daquele momento tão glorioso. A partir de agora, também teriam a oportunidade de rever familiares que nem imaginavam como poderiam encontra-los, ou até mesmo se foram responsabilizados e duramente torturados em busca de respostas e informações sobre as quais desconheciam.

Imediatamente, assim que conseguiram respirar o ar saudoso da pátria querida, enviaram notícias ao seu líder que apareceu depois de algumas horas, vestido como um lorde.

Todos riram e brincaram efusivos com a situação. Depois de acertados os detalhes da revelação foram visitar o prisioneiro que se encontrava em estado deplorável. Sua aparência estava mais próxima de um moribundo, do que o próprio Capitão no auge do momento em que foi denominado de Moribundo, em terras portuguesas.

Um médico se encarregou de recuperá-lo, enquanto isto o respeitado juiz estava sendo informado de todos os detalhes que convinha sua missão. Antes, porém, toda a carga saqueada havia sido descarregada e colocada em lugar seguro para evitar qualquer tipo de imprevisto.

Alguns dias se passaram. Quando tudo estava visivelmente normalizado, Claude Fontaine convidou os supostos amigos protegidos pelo status de nobre personalidades, também seus alvos de esclarecimentos, a visitarem o seu novo navio que acabara de adquirir, e que se encontrava ancorado no porto principal.

Enquanto isto, como combinado previamente, o juiz e outras autoridades do reino encontravam-se devidamente acomodados em uma sala contígua. Escolhida com o devido critério que o momento requeria, acompanhavam cada detalhe da conversa a bordo.

Após longas trocas de amabilidades Charles orgulhoso do seu navio, mostrava prazeroso o luxo interno
das acomodações provocando aos sorridentes convidados manifestações de satisfação e elogios.

Sem mais delongas então chegou o fatídico momento da cuidadosa e bem elaborada ocasião. Bastou abrir uma porta para aparecer diante de todos aquele que seria o verdadeiro espectro da maldição. Quando apresentaram o prisioneiro o espanto e a incredulidade tomou conta dos convidados.

Tratava-se nada menos que Johnny Flampper, o corsário bandido, que já havia assumido responsabilidade pelo ataque ao Tigre Veloz nas imediações do Canal da Mancha. Acrescentando ainda, que mesmo ferido havia se recuperado com a ajuda dos seus comparsas.

Revelou em seguida que depois da sua recuperação, havia retornou à sua vida de saqueador a mando dos ilustres figurões, atividade que admitiu ter praticado há vários anos, sob as ordens e orientação de George Lemmon seu principal mandante. Esclarecidos os crimes, todos os envolvidos foram julgados e condenados à forca.

Concluído os trabalhos de julgamento na Corte, Claude Fontaine revelou sua verdadeira identidade como Charles Grahann e de toda sua tripulação, sendo imediatamente absolvidos de todos os crimes a eles responsabilizados, além de serem condecorados com todas as honras, entregues em cerimônia real, pelo próprio Rei Gustavo V, em uma movimentada festa no palácio real.

Charles não abandonou suas atividades como empresário de perfumaria, e ainda, manteve-se como milionário e dono de um extraordinário navio de cruzeiro. Como se não bastasse recebeu do Rei, pelos seus méritos de serviços prestados à coroa o título de Sir Lord of the Golden Tiger, entregue pela Soberana Corte do Parlamento Inglês.

Os amigos seguiram seus caminhos também como milionários. Todavia, agora como cidadãos respeitados na condição de livres e nobre senhores do reino.

 

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