Na parte anterior capitão Moribundo depois de enfrentar
desafios perigosos, aproxima-se dos seus desafetos instalando-se
provisoriamente na França. Torna-se influente empresário no setor de perfumaria
e em seguida chega à sua terra nata como um Don Juan e rico empreendedor. É o
momento de articular suas ações.
Com sua visão estudada e bem elaborada de um experiente
investidor, transformou um velho casarão sem muita utilidade, numa vistosa e
ampla loja de perfumes, contendo todos os requintes necessários capaz de
atrair a nobreza inglesa. Aliando-se obviamente, a estes pormenores, o seu
incontestável charme de galã e conquistador incorrigível.
Não demorou muito já estava frequentando às suntuosas e concorridas
festas da corte. O que lhe favoreceu divulgar os seus cobiçados produtos de
perfumaria, permitindo-o com isto, conquistar elevado destaque entre a
sociedade privilegiada inglesa, ao ponto de rapidamente se tornarem luxo de
consumo para todas as ricas e influentes damas da corte.
Na mesma proporção em que empregava com sucesso o seu
admirável fascínio de "bon-vivant" e empresário em ascensão, no país
mais influente do comércio global da época. Por obra do destino conheceu Mary
Christine Lemmon, 22 anos, filha caçula de George Lemmon, justamente o seu
principal alvo da vingança. Aquele que o incriminou para subtrair do Rei,
incalculável fortuna em ouro, pedras preciosas e especiarias.
A partir do momento em que ficou conhecendo a jovem Mary
Christine, além dos reveses que a vida o
proporcionaria, só restava esperar e
dar corda à imaginação fértil da qual ele era um exímio especialista. Além, é
claro, infiltrar na intimidade da família e aprofundar sua atenção nas ações do
seu patriarca, e descobrir até onde se estendia seus negócios e seus
compromissos financeiros.
Fazendo-se valer dos seus refinados gestos de elegante conquistador, e atencioso "gentleman", não demorou para se tornar a pessoa de confiança do seu alvo: o desafeto George Lemmon. O desfecho e a consolidação da sua vingança, que provaria sua inocência e de seus amigos seria uma questão de tempo e de oportunidade.
Enquanto isto Espantalho e seus amigos curtiam suas férias,
em verdadeiras festanças no litoral francês, nas quais incluía as inquietantes tabernas
e casas de mulheres, onde conseguiam afogar a inquietante espera, através do
consumo desenfreado das refrescantes, ora calientes bebidas da região.
Sem, contudo, deixar que os prazeres da vida interferissem no
objetivo da missão, mantinham-se sempre bem-dispostos, aguardando o chamado do
seu líder. Estavam protegidos sob o manto de viajantes em busca de negócios e
de prazer pelo continente europeu. E para espairecer do abusivo ritmo que
levavam, nos raros momentos de descanso, eles escolhiam impreterivelmente o
conforto dos aconchegantes aposentos a bordo do inigualável Tigre Veloz.
Charles inteligentemente infiltrado nos bastidores da
burguesia e dos negócios inglês, é informado de que um grande e precioso carregamento
contendo finíssimas peças de sedas, riquezas em porcelanas e pedraria finas,
principalmente de jade, estava para sair da China com destino à Inglaterra.
Sem hesitação, enviou um mensageiro levando consigo em
caráter de urgência, um recado codificado até aos seus corajosos companheiros,
informando-lhes da necessidade de interceptar em águas internacionais do
Pacífico o navio Guardian, que navegava com bandeira holandesa.
O seu comandante deveria ser mantido como prisioneiro, e
libertar toda tripulação em improvisadas chalupas. Após saquear a valiosa
carga, deveriam afundar a embarcação e se dirigirem rapidamente à Inglaterra.
Assim que tomou conhecimento da mensagem, a tripulação
ansiosa por novos desafios, pôs-se a caminho contente por voltar à ação. Todos
estavam se sentindo desgastados e irritados pelo ostracismo a que estavam submetidos.
Partiram ainda na madrugada daquele mesmo dia. Até alcançar o
ponto ideal do cargueiro em vista, seriam pelo menos três semanas de navegação.
Ainda assim, teriam que se fazer um estudo pormenorizado para descobrir em que
curso estaria navegando, além de verificar as possibilidades e análises
detalhadas da melhor abordagem.
Não poderiam falhar, porque estava naquela embarcação à chave
principal que viria abrir as portas para o futuro, proporcionando-lhes toda
tranquilidade desejada de uma vida farta, digna somente dos ricos.
Havia acabado de dobrar o Cabo da Boa Esperança, também
conhecido como Cabo das Tormentas quando por uma incrível ironia o mar ficou revolto,
comportamento muito comum para todos os navegantes daquela área. Preocupados
abaixaram as velas a meio mastro, navegaram com extrema cautela, afastando-se
um pouco da costa para evitar qualquer arrebentação.
Estavam numa zona repleta de perigosas elevações rochosas.
Algumas possíveis de serem vistas com mais facilidade por sobressaírem sobre as
ondas, outras ficavam encobertas pelas águas. Diante daquela situação de
agitação das águas, o perigo seria iminente. Cuidadosos faziam inúmeros cálculos
de probabilidades. Qualquer desvio perderiam a oportunidade milionária pela
qual arriscavam suas vidas.
Após outros dois dias de constantes preocupações, ouviram-se
gritos de alerta vindos do mastro de observação. Todos viraram em direção do
horizonte na espera e divisar a embarcação que mais se assemelhava a um ponto
distante no infinito, balançando suas velas. Não tardaria seria possível
identificar sua origem por intermédio da sua bandeira e suas características de
cargueiro.
Foram momentos de ansiedade e tensão. Os homens que seriam os responsáveis pelos canhões providenciaram todo o necessário para uma vitoriosa contenda, os demais com suas armas prontas e vistoriadas também aguardavam impacientes. Inclusive foram instaladas cordas sobressalentes em vários pontos dos mastros e cordames para em caso de uma invasão, pudessem ser transportados direto de uma embarcação à outra pelo ar.
Comprovado tratar-se do Guardian, Tigre Veloz comandado por
Espantalho fez uma manobra evasiva, numa demonstração de que estava evitando
qualquer aproximação. Evitando deixar qualquer eventual suspeita, ainda com o
navio em curso, procuraram minimizar a atenção da tripulação adversária, para
no momento exato içar totalmente as velas, estender a temida bandeira da
caveira, e empreender velocidade máxima, não permitindo qualquer possibilidade
de fuga do inimigo. A ocasião lhes favorecia com ventos fortes e o galeão em
questão carregado e pesado, facilitaria para que tudo ocorresse como o
planejado. E foi o que aconteceu.
O resultado não poderia ter sido melhor, as baixas foram
mínimas, assim mesmo somente do lado rival. Aqueles que sobreviveram se
renderam e o capitão capturado foi mantido como prisioneiro, conforme
determinou Charles Grahann. Concluído o saque da carga, livraram-se dos
prisioneiros atirando-os ao mar nas chalupas improvisadas com materiais
retirados do próprio navio abatido e depois o afundaram.
Passados algumas semanas que havia enviado a mensagem, Claude
Fontaine, acreditando na sua experiência de homem do mar, e de ter calculado as
possibilidades de tudo ter ocorrido como era o esperado, procurou o juiz
Richardson, respeitado magistrado do reino. Depois de longa conversa
utilizando-se de muito tato e ponderações, conseguiu convencer o meritíssimo a
atender ao seu pedido.
– Meritíssimo está chegando a qualquer dia ou hora, no porto
principal, trazido por pessoas de minha confiança, um homem a quem gostaria que
o senhor acompanhasse o seu depoimento sem se apresentar, ou deixar-se ser pego
de surpresa. De preferência acompanhado de outras autoridades como o senhor. –
Explicou Claude Fontaine.
– Mas o que significa isto? – Perguntou admirado e meio
confuso o magistrado.
– Não se preocupe, acontece que esse homem é responsável por
crimes bárbaros e deploráveis, cumprindo ordens de pessoas influentes do reino
e da sociedade. – Esclareceu Claude Fontaine.
– Você tem noção sobre que está me propondo e da gravidade
que isto pode representar, sugerindo que eu efetue uma prisão indevida e sem
mandado judicial? – Advertiu o magistrado.
– Isto tem alguma relação com os seus negócios? – Questionou
curioso o preocupado juiz.
– Não, não tem. Mas tem muito a ver com o País. – Respondeu
seguro de suas convicções o elegante empresário Claude Fontaine.
Preocupado, porém curioso o magistrado Richardson concordou
com os argumentos aceitando a proposta. Em seguida começou a selecionar
mentalmente aqueles que poderiam ser os seus convidados, para acompanhá-lo
naquela missão atípica e preocupante.
Novamente Tigre Veloz com outra bandeira, agora inglesa
tomava o seu rumo em direção a Inglaterra. A tripulação como era de se esperar
vestidos com a elegância de nobres viajantes milionários, navegavam
entusiasmados em ritmo de festas. Incrível, mas naquele momento realmente,
poderiam sim, considerar-se milionários. O carregamento que transportavam era
valiosíssimo.
Pelo fato de o saque ter ocorrido em águas internacionais, sem
a menor chance de outro país reivindicar o direito sobre à carga. Nem mesmo a
Inglaterra naquele momento, teria direito ao seu conteúdo. Já estava tudo
planejado, a intenção de Charles Grahann, após revelar e identificar os
culpados pelos crimes dos quais eles não eram culpados, e os verdadeiros
autores condenados, a carga seria vendida e o resultado da arrecadação,
dividida entre os seus corajosos lobos do mar. Presenteando-os com a liberdade
e irem e virem sem nenhum temor, livres de todas as acusações e, acima de tudo,
milionários.
Se o infeliz comandante capturado imaginasse o castigo a que
iria se submeter, preferiria mil vezes a morte a ser colocado como prisioneiro.
Realmente, sua vida naquele momento não valia nada. Ainda no seu martírio da
volta, Espantalho com sua elegância demoníaca o aterrorizava insistentemente,
não lhe permitindo descanso ou até mesmo um breve cochilo apaziguador.
O comandante prisioneiro, era considerado por todos
navegantes, como uma pessoa maléfica, desprezível, sem escrúpulos e ambicioso.
Considerando o seu passado pregresso, até que a tortura não chegou a ser tão
angustiante, mas quase o levou a loucura.
Quando Tigre Veloz aportou como majestoso navio de cruzeiro,
tremulando no mastro principal a orgulhosa flâmula inglesa, sua tripulação
vestida a caráter, desceu em terra e chorou copiosamente. Afinal foram anos a
espera daquele momento tão glorioso. A partir de agora, também teriam a
oportunidade de rever familiares que nem imaginavam como poderiam encontra-los,
ou até mesmo se foram responsabilizados e duramente torturados em busca de
respostas e informações sobre as quais desconheciam.
Imediatamente, assim que conseguiram respirar o ar saudoso da
pátria querida, enviaram notícias ao seu líder que apareceu depois de algumas
horas, vestido como um lorde.
Todos riram e brincaram efusivos com a situação. Depois de
acertados os detalhes da revelação foram visitar o prisioneiro que se
encontrava em estado deplorável. Sua aparência estava mais próxima de um
moribundo, do que o próprio Capitão no auge do momento em que foi denominado de
Moribundo, em terras portuguesas.
Um médico se encarregou de recuperá-lo, enquanto isto o
respeitado juiz estava sendo informado de todos os detalhes que convinha sua
missão. Antes, porém, toda a carga saqueada havia sido descarregada e colocada
em lugar seguro para evitar qualquer tipo de imprevisto.
Alguns dias se passaram. Quando tudo estava visivelmente
normalizado, Claude Fontaine convidou os supostos amigos protegidos pelo status
de nobre personalidades, também seus alvos de esclarecimentos, a visitarem o
seu novo navio que acabara de adquirir, e que se encontrava ancorado no porto
principal.
Enquanto isto, como combinado previamente, o juiz e outras
autoridades do reino encontravam-se devidamente acomodados em uma sala contígua.
Escolhida com o devido critério que o momento requeria, acompanhavam cada
detalhe da conversa a bordo.
Após longas trocas de amabilidades Charles orgulhoso do seu
navio, mostrava prazeroso o luxo interno
das acomodações provocando aos
sorridentes convidados manifestações de satisfação e elogios.
Sem mais delongas então chegou o fatídico momento da cuidadosa
e bem elaborada ocasião. Bastou abrir uma porta para aparecer diante de todos
aquele que seria o verdadeiro espectro da maldição. Quando apresentaram o
prisioneiro o espanto e a incredulidade tomou conta dos convidados.
Tratava-se nada menos que Johnny Flampper, o corsário
bandido, que já havia assumido responsabilidade pelo ataque ao Tigre Veloz nas
imediações do Canal da Mancha. Acrescentando ainda, que mesmo ferido havia se
recuperado com a ajuda dos seus comparsas.
Revelou em seguida que depois da sua recuperação, havia retornou
à sua vida de saqueador a mando dos ilustres figurões, atividade que admitiu
ter praticado há vários anos, sob as ordens e orientação de George Lemmon seu
principal mandante. Esclarecidos os crimes, todos os envolvidos foram julgados
e condenados à forca.
Concluído os trabalhos de julgamento na Corte, Claude
Fontaine revelou sua verdadeira identidade como Charles Grahann e de toda sua
tripulação, sendo imediatamente absolvidos de todos os crimes a eles
responsabilizados, além de serem condecorados com todas as honras, entregues em
cerimônia real, pelo próprio Rei Gustavo V, em uma movimentada festa no palácio
real.
Charles não abandonou suas atividades como empresário de
perfumaria, e ainda, manteve-se como milionário e dono de um extraordinário
navio de cruzeiro. Como se não bastasse recebeu do Rei, pelos seus méritos de
serviços prestados à coroa o título de Sir
Lord of the Golden Tiger, entregue pela Soberana Corte do Parlamento
Inglês.
Os amigos seguiram seus caminhos também como milionários.
Todavia, agora como cidadãos respeitados na condição de livres e nobre senhores
do reino.
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