Agora vamos fazer um tour pelo universo lúdico das histórias em
quadrinhos (HQs). Atribui-se que as primeiras referências consideradas o
embrião das HQs, se deu na pré-história, antes mesmo da descoberta do fogo. Por
meio de desenhos, também chamados de pinturas rupestres, o homem primitivo
registrava nas paredes das cavernas, suas atividades e habilidades onde a
caça era o seu único meio de sobrevivência. Esses antepassados notificavam suas
ações, muitas vezes de forma sequenciais, retratando inclusive os animais dos
quais tinham contato e eram alvos de suas aventuras nas matas e planícies da
época. Outra relação apontada como
modelo antigo das HQs, consta os mosaicos dos vitrais das igrejas, comuns na
Idade Média.
Entretanto, a história em quadrinhos, conquistou realmente o grande
público, em 1895, quando o norte-americano Richard Felton Outcault criou o Yellow Kid (menino amarelo). O primeiro
personagem a ter vida própria e a ter sua história narrada em quadrinhos com
diálogos, utilizando-se dos balões – antes o argumento era narrado em baixo da
ilustração, tipo legenda. A partir de então, uma nova maneira de comunicação
foi criada, atingindo em cheio o bom gosto popular e o seu efeito interativo
(feedback) teve resposta imediata de identificação com o leitor. O ser humano
enfim, passou a conviver com um determinado personagem da ficção, com linguagem
e identidade reconhecidas, retratando temas curiosos e diversificados, cujos os
quais estimulavam o imaginário das pessoas.
É importante ressaltar que, bem antes de Richard F. Outcault, criar o
seu Yellow Kid, em 1869, com grande
sucesso nos EUA, o desenhista Angelo Agostini, italiano radicado no Brasil, já
havia criado As Aventuras de Nhô Quim,
história em quadrinhos, em que narrava à saga do mineirinho caipira, em contato
com a vida urbana numa cidade grande, publicadas na revista Vida Fluminense do
Rio de Janeiro.
Sem o compromisso de manter a periodicidade da sua criação (o mineirinho
Nhô Quim), Agostini, desistiu depois
de ter produzido 9 publicações. Dois anos depois, Cândido Aragonês de Faria,
continua a saga do mineirinho, com outros 5 episódios. Em 1883, novamente
Angelo Agostini, reaparece com novo personagem, As Aventuras de Zé Caipora, desta vez, publicadas na Revista
Ilustrada.
Como reconhecimento da ousadia destes pioneiros das HQs no Brasil, o
jornalista Athos Eichler Cardoso, publicou em 2002, pela Editora do Senado
Federal, uma Edição Especial com 200 páginas, sobre As Aventuras de Nhô Quim e do Zé
Caipora, ao preço de capa no valor de R$ 30,00.
Inspirando-se nas histórias fragmentadas de Tarzan, personagem criado por Edgar Rice Burroughs, publicadas na
revista Pulp All-Story Magazineem, em 1912, posteriormente transformadas em
livro, em 1914. Hal Foster e Burne Hogarth, em 1929, tiveram a ideia de desenhar
em formato de tirinhas as histórias do Rei
dos Macacos, publicando-as em jornais da época. Até hoje as histórias deste
herói continuam sendo publicadas. Em 1934, Alex Raymand criou Flash Gordon, o primeiro herói intergaláctico
em quadrinhos, envolvendo ação, aventura e as descobertas interestelares.
O processo criativo em torno das HQs foi evoluindo e se expandido de
maneira revolucionária, com a introdução dos desenhos animados. Walt Disney
criou todo o seu império baseado nesse novo conceito de entretenimento. Em sua
produção de 1928, Mickey Mouse deu
nome a um ratinho emblemático, esperto, sensível e solidário. Contudo, somente
dois anos depois é que virou tirinhas para os jornais, em seguida tornou-se uma
revista mensal, chamada Mickey Mouse
Magazine.
A ficção envolvendo o mundo do crime e da espionagem, também ganhou
forma de HQs, em 1940, quando Will Eisner criou O Espírito (The spirit), considerado na época como Cidadão Kane dos
quadrinhos, uma analogia ao primeiro longa metragem dirigido por Orson Welles,
aclamado pela crítica especializada, como sendo o maior filme da história do
cinema até então.
Em 1952, Harvey Kurtzmann, deu um novo salto nas criações ilustradas das
HQs, com a criação da revista Mad, uma forma debochada de humor, onde a
satirização dos acontecimentos sob todos os níveis eram amplamente colocados à
tona, para o delírio do leitor mais esclarecido.
Anos depois o Brasil, novamente mostra sua cara, desenvolvendo trabalhos
em HQs. Em 1959, Mauricio de Sousa surge mostrando-se que veio para ficar como
grande desenhista legitimamente brasileiro, a enveredar pelo universo das HQs. Bidu, o primeiro personagem da Turma da Mônica, passou a ser parte do
dia a dia do leitor do jornal Folha de S. Paulo. Um ano depois, em 1960, Cebolinha, Cascão, Mônica e Magali, também ganharam forma, fama e a
simpatia popular.
Antes porém, no início do século XX, as revistas Tico-Tico e Sesinho,
davam o seu recado com suas histórias em quadrinhos, as quais foram relançadas
em 2001, com grande sucesso. Em 1960, as revistinhas em HQs, a Turma do Pererê,
do cartunista Ziraldo, a exemplo da Turma da Mônica, chegavam às bancas para a
alegria de quem curte a arte de alegrar por meio de argumentos saudáveis e
divertidos, criações brasileiras de qualidade. Poucos sabem, mas o dia 30 de
janeiro é comemorado O Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos.
Em 1939, surgiu a primeira publicação do Homem Morcego, pela revista Detective Comics, quando Bob Kane criou o Batman em quadrinhos e Bill Finger se responsabilizou pela história. Contudo, em 1985, Frank Miller, preferiu humanizar o personagem Batman, criando uma nova característica à personalidade de O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Returns), apresentando um herói
vulnerável e inseguro, distante da ideia de um super-herói praticamente imortal. Vários anos depois, em 1980, Art Spiegelman produziu o seu
romance gráfico, Maus: A survivor’s Tale,
sobre um judeu polonês, o qual na verdade era o seu próprio pai, um
sobrevivente do Holocausto e sua difícil convivência com o pai. Sua história
ganhou repercussão e o Prêmio Especial Pulitzer, em 1992, foi mais um reconhecimento do seu trabalho.
Vale lembrar que as fotonovelas, romance ilustrado com imagens fotográficas, sobre as quais, também mexeram com a
imaginação do leitor, principalmente do público feminino, foram remanescentes das HQs. De acordo com a Wikipédia,
a enciclopédia livre online, Fotonovelas são novelas em quadrinhos que
utilizam, no lugar dos desenhos, fotografias, de forma a contar,
sequencialmente, uma história.
No Brasil, as fotonovelas
tiveram um mercado cativo por mais de 25 anos, entre os anos 1950 e 70,
representando a ideia de uma imprensa popular feminina, com milhões de leitores
de histórias publicadas em revistas com grande circulação nacional.
A primeira revista de fotonovela
publicada no Brasil foi Encanto, pois
embora Grande Hotel circulasse desde
1947, só em seu nº 210, de 31 de julho de 1951, publicou a primeira fotonovela,
intitulada O Primeiro Amor não Morre.
O primeiro número de Capricho
circulou em 17 de julho de 1952.
Nos anos 1970, mais de 20 revistas
de fotonovelas chegaram a circular no Brasil, publicadas por várias editoras:
Bloch, Vecchi, Rio Gráfica, Abril e Prelúdio, sendo que, na época, ao contrário
das demais editoras que importavam as fotonovelas da Itália, a Bloch produzia
suas fotonovelas no Brasil, com a revista Sétimo
Céu.
Em pesquisa de 1974, as revistas
de fotonovelas só eram superadas, em vendas, pelas revistas de quadrinho (HQs)
infantis. A revista Capricho, da
Editora Abril, era na época a mais vendida (média quinzenal de 211.400 exemplares),
perdendo apenas para Pato Donald, Mickey
e Tio Patinhas (cada uma com uma
média periódica aproximada de 400 mil exemplares).
Beto Pimentel: Em
primeiro lugar, imaginação, criatividade e sensibilidade. Em segundo lugar,
papel, lápis, borracha e, se possível, uma caneta. Como em toda arte, o
desenhista de quadrinhos quer contar algo que achou interessante de alguma
maneira. Para tanto, ele precisa, claro, dominar certas técnicas narrativas
exclusivas dos quadrinhos, como o uso de balões. O mais importante no processo
criativo de uma boa história em quadrinhos, no entanto, é a dedicação, que
significa muita pesquisa, atenção, sensibilidade, percepção, trabalho duro e,
às vezes, paciência.
CHC: Além dos desenhos, que fazem o maior sucesso, o texto também
aparece nas histórias. O que é mais importante?
Luiz Cartoon: Acho que
o que faz os quadrinhos serem tão interessantes é que muitas vezes os dois se
complementam. Há quem diga que o leitor começa a se interessar por uma história
em quadrinhos pelo desenho, mas continua até o final por causa do texto. Se a
gente considerar como “texto” a ideia contida no roteiro, acho que isso é
verdade. Nos quadrinhos, até as letras do texto podem ter significado. Por
exemplo: a fala de uma personagem pode sempre aparecer com uma letra mais
caprichada e bem desenhada do que a fala das outras personagens, querendo dizer,
talvez, que aquela é particularmente mais cuidadosa e detalhista.
CHC: Qual a diferença entre cartum, tirinhas e histórias em quadrinhos?
Beto Pimentel: É o
formato. Chamamos de histórias em quadrinhos, em geral, desenhos sequenciais de
mais de uma página, em que uma história mais longa é desenvolvida. Nas
tirinhas, o formato é reduzido em apenas alguns quadros. Elas foram
desenvolvidas especialmente para os jornais e feitas para as notícias do dia a
dia, bem como para atrair crianças para a leitura. Já o cartum, consiste em um
desenho em que uma situação – na maioria das vezes engraçada – é apresentada.
Hoje, para diferenciar, chama-se cartum o tipo de desenho que traz um humor
mais universal, enquanto a charge é caracterizada pelo humor que só faz sentido
num determinado lugar e numa determinada época. Por exemplo, a charge política
que sai nos jornais todos os dias.
CHC: O que vocês dois diriam para quem quer criar histórias em
quadrinhos?
Beto Pimentel: Eu diria
que, se ela gosta de desenhar e de ter ideias, ela tem tudo para ser um bom
cartunista. Porém, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, desenhar
é apenas uma parte do que o desenhista faz. Os grandes ilustradores e
quadrinistas – como são chamados os autores de histórias em quadrinhos –, em
primeiro lugar, são pessoas que leem muito, vão a exposições de arte, assistem
a filmes, conversam com outras pessoas sobre o que interessa a eles, etc. Um
bom ilustrador deve ser capaz de olhar para o esboço do desenho e ver como ele
pode ficar melhor. Isso exige muito desapego à própria criação, além de
persistência, capacidade de observação e criatividade. Além disso, é preciso
treinar com afinco até conseguir fazer isso bem.
Luiz
Cartoon: A resposta do Beto está mais do que completa. É
necessário muito treino, mais treino, e mais treino nas horas vagas! E este
treino deve ser divertido e prazeroso... O mais importante em histórias em
quadrinhos é a diversão! O jovem cartunista deve procurar um tema de seu
interesse, explorá-lo e encontrar uma forma de torná-lo interessante para
contar aos outros por meio dos quadrinhos. Deve tornar este tema engraçado,
dramático, interessante a ponto de prender a atenção dos leitores. Ao conseguir
isto terá alcançado seu objetivo.
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